O boxe é um desporto regido pelas regras do Marquês de Queensberry. Ao assistimos a um combate de boxe é difícil esquecermo-nos do peso da influência aristocrática na modalidade. Então, quando um dos pugilistas se lembra de morder ferozmente a orelha do adversário, como aconteceu com Mike Tyson quando defrontou Evander Holyfield em 1997 (acima), aí é difícil que não façamos a pergunta virtual qual seria a opinião do Marquês sobre aquilo que estamos a assistir… Mudando ligeiramente de tema, e embora fisicamente menos violenta, também a informação televisiva pode ser igualmente muito agressiva como se pode apreciar aqui embaixo. Depois da abertura da actividade aos canais privados em Portugal (1993), também nesta actividade terá surgido a necessidade de se estabelecerem regras, a que um outro nobre terá emprestado o nome: o Visconde de Balsemão.
Umas e outras regras, as do Marquês e as do Visconde, são mais importantes por existirem do que propriamente para serem cumpridas. Vale o paralelo porque também no caso da informação televisiva de quando em vez as coisas descontrolam-se e um dos dois participantes no match, o jornalista ou o paisano, desrespeita as regras do Visconde. A razão pode pertencer a um lado ou a outro, mas uma constante é que as televisões jogam sempre em casa. Mas, para falarmos dum desses incidentes, cedamos à descrição mais detalhada de um outro blogue: …um antigo primeiro-ministro português ter visto interrompida uma conversa que estava a ter com uma jornalista, durante um noticiário televisivo, comentando temas do quotidiano da política pátria, para abrir tempo a um curto directo do aeroporto (…) à espera de José Mourinho, num contexto de uma qualquer expectativa que então existia quanto ao futuro do famoso treinador.
…quando a emissão regressou ao estúdio, fez uma declaração firme, logo seguida de um abandono de cena espectacular, indignando-se pelo facto do seu verbo ter sido interrompido por um motivo tão corriqueiro. Não saiu a meio do directo, que lhe estaria a fazer perder o seu precioso tempo, mas apenas saiu no fim, para poder bem «explorar o sucesso», utilizando uma imagem militar. Ou seja, o que o autor destas palavras estará a sugerir é que o antigo primeiro-ministro deveria continuar a cumprir cavalheirescamente as regras do Visconde mesmo depois do seu anfitrião (SIC Notícias) as ter rompido. Mesmo conhecendo o seu metier como diplomata, suponho que ele estará a exigir um urbanismo em excesso aos outros. Porque haverá uma diferença entre dispor-se a ser interrompido para ouvir um entrevistado ou para mostrar imagens fugidias do aeroporto, na perseguição alguém que nunca se terá mostrado disponível para falar…
Ou então, podemos apreciar um outro episódio demonstrativo desta mesma fluidez das regras do Visconde por parte da equipa da casa, mas agora na RTP Notícias. Acima, podemos seguir uma discussão acesa entre Rui Moreira e António Pedro Vasconcelos a propósito da pertinência da referência às escutas telefónicas a Pinto da Costa. Ela culmina com o abandono do estúdio por parte do primeiro comentador enquanto o segundo estava a falar. Não é preciso ser-se formado em realização para nos apercebermos para onde é que o realizador devia orientar as câmaras: para a notícia, que era a saída inesperada de Rui Moreira. Mas não é isso que se vê no vídeo: a câmara permanece teimosamente focada no orador que até titubeia... Se, como se sugere acima, Santana Lopes tivesse saído durante o directo aconteceria aquilo que em linguagem desportiva é conhecido por benefício ao infractor. É conhecido como os órgãos de informação adoram cobrir todas as notícias com excepção daquelas em que eles próprios são o fulcro da notícia – e esta não é uma das tais regras do Visconde de Balsemão…
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