25 outubro 2010

UM ESCÂNDALO NA CASA REAL DO SÉCULO IX

Ainda na embalagem das vicissitudes que acompanharam as opções matrimoniais de Carlos de Windsor (1947- ), Príncipe de Gales (acima), e que transformaram Diana, a primeira mulher, na boazinha de uma complicada história que só na aparência era de fadas e Camilla, a segunda, referida no poste anterior pelo seu notório azar, na megera desse enredo, aproveito para recordar como, em matérias de escândalos reais, os que conhecemos dos jornais por estarem associados ao folhetim referido, acabam por ser trocados se comparados com alguns outros do passado.

Escolhi um protagonista um tanto obscuro, um soberano do Século IX com o nome incomum (quem gostar deles vai ficar bem servido com esta história…) de Lotário II (abaixo, 835-869) que, por sua vez, era um dos bisnetos do Imperador Carlos Magno (742-814). Como Carlos de Windsor, também Lotário teve na juventude uma eleita do seu coração chamada Waldrada (de quem teve aliás um filho: Hugo) mas, por razões de estado, casou com Teutberga do clã dos Bosónidas. O problema que se pôs a Lotário é que Teutberga não lhe dava a descendência de que ele necessitava…
Assim sendo, o soberano resolveu anular o seu casamento com Teutberga para se casar com Waldrada, legitimando retrospectivamente Hugo. O episódio tem interesse histórico porque se trata de uma das primeiras ocasiões em que o poder espiritual em ascenção do Papado – no caso representado por Nicolau I – se consegue opor com sucesso às intenções de um monarca. Mas o que nos interessa aqui é pegar no assunto pelo mesmo lado com que os tablóides (caso eles existissem na altura…) o fariam: as justificações de Lotário II para fundamentar o seu pedido de anulação.

Segundo essas acusações, Teutberga havia praticado sexo anal com o próprio irmão Huberto (o Abade – laico – de uma das famosas abadias carolíngias, a de Saint-Maurice-en-Valais), em consequência disso tinha engravidado (através de feitiçaria, precisava a acusação…) para posteriormente vir a abortar o feto daí resultante. Ou seja, cometera logo três pecados mortais: incesto, sodomia e infanticídio! Estão a imaginar como seria a primeira página do Correio da Manhã desse dia de 863?... Que poderia valer um banal caso de adultério quando comparado com isso?

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