Por causa de um episódio recente, lembrei-me de um serão no princípio da década de 70 em que a RTP transmitiu um filme israelita. O que inicialmente me prendeu a atenção foi o genérico e o exotismo do alfabeto hebraico (acima) com as letras dispostas ao contrário – lê-se da direita para a esquerda. Depois, a história do filme, que tive de ir agora investigar como se chamava (O Canal Blaumich - תעלת בלאומילך ) envolveu-me. Tratava-se de uma comédia, embora sóbria e de um humor subtil. Um internado com uma compulsão para escavações escapa de um asilo de Tel-Aviv e, apoderando-se de uma perfuradora hidráulica, começa a fazer um enorme buraco bem no meio de uma das avenidas mais movimentadas da cidade.
O buraco foi aumentando em pleno dia no meio de um vazio de responsabilidades das autoridades municipais sobre a quem se devia atribuir a responsabilidade daquela obra (legal pois claro!, não estava a ser feita à frente de todos?) até que, contando já com o auxílio da polícia para gerir o caos no trânsito e aumentado com os próprios meios municipais, ele acaba por se transformar num enorme canal depois de ser invadido pelas águas do Mediterrâneo. No final da história, estando-se em ano de eleições municipais, a edilidade prefere não se dar por achada e acaba por inaugurar o buraco que está agora cheio de água proclamando ter transformado Tel-Aviv na nova Veneza do Médio Oriente!…
Por causa daquele filme, passei a prestar uma outra atenção àqueles buracos que, entre nós, se cavam casualmente pelas ruas ou à beira da estrada para instalar nunca se sabe muito bem o quê, assim como à razoabilidade dos vários sinais de trânsito que ali se costumam colocar limitando a velocidade a uns ridículos 20 ou 30 km/h (que ninguém cumpre) ou então aos gradeamentos condicionando os acessos dos peões e automóveis a espaços públicos num ambiente auto-gestionário. É uma actividade que se adivinha regulamentada por toneladas de legislação mas onde as evidências nos mostram que o poder caiu literalmente à rua – ou mesmo para debaixo dela no caso das escavações mais profundas…
O episódio recente a que me referi acima foi o de uma expedição clandestina de um grupo que a EMEL – essa inimiga pública da sociedade!... – denominou de vândalos, que marcaram numa noite todos os lugares de estacionamento dum parque da baixa de Lisboa como reservados para deficientes (abaixo). O gang pecou por excesso e exuberância. Porque ninguém tem dúvidas que, se lá tivessem ido de dia, com uns papéis forjados, com um engenheiro (i.e., alguém de fato e gravata e um capacete industrial na cabeça…) a chefiá-los e se tivessem limitado a pintar umas três ou quatro cadeirinhas, ninguém teria dado por nada e, se instada, ainda poderíamos ter o bónus da EMEL se orgulhar da sua atenção para com os deficientes…
O episódio recente a que me referi acima foi o de uma expedição clandestina de um grupo que a EMEL – essa inimiga pública da sociedade!... – denominou de vândalos, que marcaram numa noite todos os lugares de estacionamento dum parque da baixa de Lisboa como reservados para deficientes (abaixo). O gang pecou por excesso e exuberância. Porque ninguém tem dúvidas que, se lá tivessem ido de dia, com uns papéis forjados, com um engenheiro (i.e., alguém de fato e gravata e um capacete industrial na cabeça…) a chefiá-los e se tivessem limitado a pintar umas três ou quatro cadeirinhas, ninguém teria dado por nada e, se instada, ainda poderíamos ter o bónus da EMEL se orgulhar da sua atenção para com os deficientes…
Se tivessem feito as pinturas no estacionamento da Assembleia da República, ninguém tinha estranhado!
ResponderEliminarMuito obrigado pela sua investigação.
ResponderEliminarEu também vi o filme mas não conseguia achar qualquer referencia ao mesmo. O filme é engraçadissimo e costumo apontá-lo como um exemplo de verdadeiro "non sence".
Cumprimentos