12 novembro 2005

OH INCLEMÊNCIA! OH MARTÍRIO!

No meu filme português favorito, O Pai Tirano, existe um personagem chamado Seixas que, para se preparar para a peça, se tinha auto-condicionado a reagir com a sua linha mal ouvisse a sua deixa: a palavra Antão.

No dia da estreia quando, como seria de esperar, tudo sai de controlo e há alguém que se sai com a imprecação e então?, o bom do Seixas, automatizado, entra e atravessa o palco de mãos ao alto e clamando Oh, inclemência! Oh, martírio! Estará porventura periclitante a vida dessa criança que eu ajudei a criar?!, enquanto se escapava para os bastidores pelo lado oposto.

Somos muitos os que já perdemos a conta das vezes que vimos o filme, mas fui buscar o episódio para o comparar o Seixas a alguns políticos, que atravessam o palco da cena política da mesma forma exuberante mas rápida.

No passado, é de recordar a arma secreta do PSD para o ambiente, o Eng. Carlos Pimenta, que só foi boa enquanto foi secreta e porque foi logo posta a bom recato em Bruxelas, já que quando foi reactivada, a propósito do problema da co-incineração, percebeu-se logo a razão de tal secretismo.

Há outros casos, mais frescos, como o do Dr. Carrilho, que, de certeza, só se voltará a candidatar, quando tiver um eleitorado que o aprecie verdadeiramente; o de Nauru, por exemplo.

Mas convém mencionar as causas próximas que me levaram a este poste. Outro dia, estava a escutar a Ana Gomes na televisão e dei por mim a perguntar-me: será que Estrasburgo é, politicamente, o equivalente aos bastidores por onde desapareceu o Seixas?...

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