18 novembro 2005

DESCULPAS FATELAS

Sempre gostei do adjectivo fatela. É uma palavra que, como o prato das iscas com elas, apenas faz sentido quando associada a uma palavra específica. Das elas que acompanham as iscas ainda não tenho a certeza do que se trata, mas de fatela só se pode estar a falar de uma desculpa.

A primeira grande desculpa fatela da era industrial foi o cheque que já foi enviado pelo correio englobando três grandes invenções modernas: o cheque, o correio e o telefone que esconde a cara de pau de quem usa a desculpa. Mas o responsável pela descoberta genial foi quem começou a pagar as suas contas em cheque pelo correio. O cheque foi feito para estar no correio – o Ferreira da Quercus até diria que o correio é o habitat natural do cheque – e deve ser por isso que em vários países, no Japão, por exemplo, os Correios são a maior entidade bancária...

A segunda grande desculpa fatela dos tempos modernos, de cujo aparecimento eu já sou contemporâneo, é a de culpar os computadores. Os computadores primitivos, como eram muito grandes, tinham umas costas enormes, e alombavam com as culpas de tudo o que corria mal. Depois dessa primeira fase mítica, onde ainda se pensava que os computadores eram inteligentes, houve que refrasear a desculpa que passou a ser designada por erro informático. Agora vive tempos difíceis, em caso de bronca da grossa, como a recente colocação dos professores, há sempre um sobredotado na assistência que se põe a mandar palpites sobre os erros de programação que encontrou.

A terceira desculpa fatela, a que agora está na moda nesta fase neo-liberal, é a das reacções do mercado. Há uma data de reformas que não se podem fazer por causa das reacções do mercado. Ora eu não conheço aquele mercado, nunca lhe fui apresentado; conheço outros, mas são locais físicos onde se transaccionam legumes, peixe, carne. Consta que a grande importância daquele mercado advém do facto de haver inúmeros operadores e, como numa lógica aditiva, quando há muita gente junta a fazer a mesma coisa, não pode estar toda enganada ao mesmo tempo. Deve ser aliás, pela mesma ordem de ideias, que há quem reconheça o valor de uma reflexão conjunta produzida por um rebanho de ovelhas; há mesmo quem postule que talvez exista um valor N de ovelhas, a partir do qual o rebanho possa passar a resolver equações de 2º grau. O maior problema é que alguns crashes bolsistas no passado têm contribuído para manter estas teorias em fase embrionária, mau grado as preocupações constantes com as reacções do mercado...

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