13 novembro 2005

V + DOIS NOMES

Foi intuitivamente que, já há bastante tempo, cheguei à conclusão que uma pessoa que possuísse um nome começado por V a que se seguissem dois nomes era como que uma chancela de alguém proeminente na esfera da cultura: Vasco Graça Moura, Vítor Cunha Rego, Vicente Jorge Silva, Vasco Pulido Valente.

Era uma outra geração. Desta, só há o Vasco Rato, a quem, como se percebe logo, lhe falta qualquer coisa. Ainda se fosse, por exemplo, Vasco Coelho Rato, era diferente, mais consistente, ainda que um pouco confuso do ponto de vista zoológico. Tal como está, a dois nomes, o que mais interessante lhe resta é aquele sotaque matizado, de quem veio do estrangeiro – e o que veio lá de fora, já se sabe, tem sempre mais valor.

O problema oposto tem Eduardo Prado Coelho. Esse já tem os três nomes da praxe, a culpa foi da falta de sofisticação do seu padrinho que lhe chamou Eduardo, um nome tão britânico, tão fleumático, que não combina nada bem com o frenético polemista que EPC é. Faz a festa, deita os foguetes, apanha as canas, declara-se o vencedor, e nós, os leitores do Público, que quotidianamente passamos ao lado de tanta excitação…

Regressando àquela lista de magníficos, o que considero mais culto é, indubitavelmente, Vasco Graça Moura, que transborda de cultura, mas confesso que o meu favorito é Vasco Pulido Valente. É sempre com emoção que descubro qual é o PH diário de cada uma das suas crónicas de fim-de-semana do Público: será o 3 do ácido sulfúrico ou o 11 da soda cáustica?

Mas quero confessar que fiquei terrivelmente desapontado quando o li, recentemente, a escrever sobre futebol. Ora o futebol é como a religião de outrora, coisa de especialistas, retirada aos filósofos, entregue aos teólogos. Ora VPV não se pode arrogar o direito de que alguns minutos de alguns neurónios do seu ser poderem atingir conclusões mais fundamentadas que todos os corpos redactoriais de 3-Jornais-3 diários de futebol, para além de um elenco alargadíssimo de comentadores, numa reunião de massa cinzenta capaz de superar outros centros de excelência nacionais como a Gulbenkian, o IDN, o IPATIMUP ou a Quadraturadocírculo.

É esta imodéstia que acabará por perder VPV. E tenho pena. Como já se devem ter apercebido pelo estilo dos meus posts, quando for grande, hei-de alterar o meu nome para ser como ele.

ET – Acabei de descobrir que VPV afinal não é VPV de origem. Nem acredito… Vou investigar.

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