28 novembro 2005

A ARTE DE BEM CAVALGAR TODA A SELA por EL REI D. DUARTE

Entre os vários aspectos que eram trauteados e que me ficaram da História de Portugal conta-se a bibliografia de el-rei D. Duarte: O Leal Conselheiro, na sua faceta mais intelectual, ou A Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela, na sua vertente mais desportiva.

Neste último caso, ainda hoje estou para descobrir as razões de um título tão longo e de qual será o seu significado; das vezes que lá andei (sobre a sela, por obrigação e que considero terem sido demais) fiquei com a certeza que a expressão toda a sela, literalmente, é mau sinal e prenúncio de queda do cavalo… Então porquê aquele requinte medieval?

Mas o que pretendo aqui é recuperar aquela estrutura bizarra do título para o parafrasear e aplicá-lo num desporto nacional, este sim muito mais popular que a equitação: A Arte de Bem Discutir, Fora da Argumentação. Descrevê-la como popular não impede que assuma características distintas conforme a classe.

Começando por baixo, há a tradicional discussão em que se trocam acusações recíprocas sem qualquer preocupação em as refutar, vulgarmente designada por peixeirada em homenagem à classe que tanto as popularizou, mesmo antes de Paulo Portas ou Narciso Miranda terem trazido as peixeiras para o prime time televisivo. É o estilo predominante quando as coisas aquecem nos programas de comentadores de futebol. Que saudades de Pedro Baptista...

À discussão do nível seguinte, que resulta de uma sofisticação do nível anterior, e que é protagonizada normalmente mais por quadros intermédios, pode-se designar por Ah…, mas tu também…, como se a falta de uma parte se considerasse anulada por uma outra falta da outra. Veja-se o caso corrente das faltas, como vereador, do actual Secretário de Estado da Educação, que parecem servir, só por si, para justificar todo o absentismo dos professores. Em discussões políticas, é o pão-nosso de cada dia.

A culminar, para os mais diferenciados, há a técnica da reinterpretação do que o oponente diz, aparentemente mais urbana, só que essa reinterpretação tem a vantagem de tornar o discurso do oponente mais facilmente rebatível. Reservado aos consagrados, mesmo assim conseguem-se identificar dentro do estilo duas escolas: a dos generalistas, como Marcelo Rebelo de Sousa ou António Vitorino, que se pronunciam sobre isto, aquilo ou o resto, e a dos especializados, que entortam o assunto até ele caber na área de que eles são reputados especialistas – não é possível falar da arrumação de automóveis com António Borges sem abordar a sua vertente económica, ou dos problemas constitucionais que se colocam à mesma actividade, se a conversa for com Vital Moreira.

Resta a pergunta: e D. Duarte, o Original, o Intelectual, não o Pio? Se fosse vivo, e admitindo que seria um consagrado, seria um reinterpretativo generalista ou especializado?

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