04 novembro 2005

INAUGURAÇÃO

Esta de criar um blogue por pudor não sei se será um episódio frequente. Talvez aconteça mais vezes do que penso.

A verdade é que já se estava a tornar rotineiro aproveitar a caixa de comentários dos postes de Medeiros Ferreira nos bichos-carpinteiros para manifestar o meu exaspero pelas prosas que ele anda por lá a postar por estes dias.

É chato, quando repetitivo é deselegante, além dos comentários censóreos aos postes de Medeiros Ferreira estarem a crescer com uma popularidade exponencial, capariquenha mesmo. Já não é raro os comentadores entreterem-se entre eles, esquecendo-se do resto.

Por isso, aqui vim para este cantinho, sem importúnios e sem a certeza de cá conseguir regressar (o poste pode vir a ser único e, numismaticamente, mais valioso por isso), interrogar-me porque motivo os postes de Medeiros Ferreira ainda mantém a capacidade de me irritar.

Começemos por procurar sistematizar alguns dos tipos mediáticos que me irritam.

O tipo Jorge Coelho, em primeiro lugar, por unanimidade e aclamação, do tipo da sessão de palmas no encerramento do congresso do PC chinês. Mas no fundo, o que me aborrece em Jorge Coelho, não é o próprio, antes a incapacidade da nossa sociedade (e a minha incapacidade em conseguir explicá-lo) em fazer a distinção entre o esperto e o inteligente. Jorge Coelho é o espertalhão por excelência - um retrato de Zé Povinho onde nos gostamos de rever. Mas sempre que se torna necessário ir um pouco mais além, a profundidade dos pensamentos de Coelho é a de uma poça de água. Vide o Congresso do PS que Coelho organizou para Guterres: foi a coisa mais albanesa a que assistimos; a oposição era... Manuel Maria Carrilho.

Francisco Ferreira, o homem da Quercus, que passeia a sua careca como demonstração cabal do poder destrutivo das chuvas ácidas. A culpa da minha irritação até nem lhe pertence, antes ao papalvo que lhe põe um microfone à frente como se ele fosse dizer algo surpreendentemente novo. É como perguntar a um padre qual a sua posição ácerca de existência de Deus. Em qualquer situação há sempre um bicharoco qualquer que nidifica no sítio onde se quer construir ou destruir qualquer coisa. Mesmo a destruição do barracão velho irá perturbar os hábitos das ratazanas verdes - espécie que ninguém sabe se existe ou não, mas como o gajo fala com aquela convicção, então é porque sim.

Os diletantes da argumentação na versão Vasco Graça Moura. Mais uma vez, a culpa não é dele, é nossa quando o levamos a sério quando apresenta a sua argumentação com um remate surdo à Fernando Pessa: - E esta, hem? Tentem lá desmontá-la... E o pessoal embevecido: como ele pensa bem! Acessoriamente, é um tradutor com uma sucessão de sucessos capaz de rivalizar com a press release sobre a situação militar emitida pelo Ministério da Informação de Saddam Hussein. Traduz François Villon do picardo (salvo erro) original e é... um sucesso, traduz Dante do toscano original e é... outro sucesso. Ainda não identifiquei a dúzia de especialistas portugueses em picardo, muito menos a outra de especialistas em toscano, que validam essa apreciação. Se calhar é porque não os há... Na dúvida, aguardo mais uma tradução magistral, pode ser a dos pensamentos no original de Lao-Tse...

Comissário por comissário, a função parece ter sido assumida actualmente por Vital Moreira. É diferente do anterior: aprende-se a antipatizar, na inversa do antigo anúncio da tónica Schweppes. O desconforto aparece depois das situações em que se compartilham essencialmente as mesmas opiniões, que são muitas. Mas quando se disseca o estilo argumentativo, chega-se às verdades de um Portugal de papel que não existe realmente. Como caricatura, ainda não perdi a esperança de, numa situação argumentativa limite de defesa do status quo, ver um poste de Vital dissertando àcerca da impossibilidade da existência da corrupção por parte de alguém do aparelho governamental, por manifesta inconstitucionalidade da mesma...

Qualquer dos casos citados... têm piada. Leve-os a sério quem quiser. E Medeiros Ferreira?

Já o vi capaz de fazer análises políticas bem argutas. Já li postes seus inqualificáveis, agora na sua fase bloguística. No fundo a minha indignação é gerada da convicção de que ele é bem capaz de fazer melhor e, por outro lado, porque não tem jeito nenhum para andar para a política pura e dura, para postar bocas que animem a malta. Além de não ter jeito, rebaixa-o, fica-lhe mal, faz figura de tonto.

Não sei das suas razões para poder estar chateado com o PS. Afinal de contas, o PS é um partido pujante de quadros, figuras gradas da sociedade civil, que até se dá ao luxo de o poder dispensar ou a uma bastonária de uma ordem de profissionais liberais como Helena Roseta...

Vou continuar a ler os postes de Medeiros Ferreira.