14 novembro 2005

DE OLHOS NOS OLHOS, MAS PENSANDO NA ALGIBEIRA DELE…

Cada vez parece mais provável que a história do mensalão brasileiro envolvendo o financiamento do PT e da campanha do Lula arraste consigo qualquer dos financiados. É quase garantido que uma reportagem bem conseguida e bem orientada a respeito de um mundo onde grassa o segredo e a hipocrisia leve à fragilização e ao possível derrube do investigado. No Brasil, já tinha sido assim com Collor de Melo e mesmo nos Estados Unidos – um dos países mais descomprometidos no que diz respeito a financiamentos de campanhas – a propósito do caso Watergate houve uma altura em que se tentou fazer algo de semelhante a Nixon.

Não parece ser muito arriscado afirmar que, a propósito de financiamentos, deve ser dificílimo descobrir inocentes. E onde existe uma certa honra, mas aquela do tipo padrinho: uma figura respeitada como Helmuth Kohl foi sancionada judicialmente por não revelar as origens do dinheiro num processo em tribunal. Entre nós, ainda temos uma mala recheada de dinheiro para António Preto (PSD) explicar, mas, tanto cá, como lá fora, parece existir um equilíbrio semelhante à MAD (destruição mútua assegurada) da Guerra-Fria: se tu não falares dos meus, eu não menciono os teus.

Em relação ao seu posicionamento no espectro político, diz-nos a intuição que os partidos e os candidatos quanto mais são de esquerda maiores dificuldades terão em se financiarem. Em Portugal, o PCP parece ser o único partido que fala claramente das suas questões de financiamento, embora aproveite a franqueza para nos contar uma data de fábulas. Só após a extinção da União Soviética é que ficou inequivocamente provado, a partir de documentos russos, que o PCP recebia financiamentos do exterior. Até lá, tinha sido tudo do muito trabalho militante, das quotizações e dos lucros da Festa do Avante. Com o correr da década de 90, constatou-se a perda progressiva de iniciativa nas várias campanhas do PCP e nos seus resultados eleitorais. Afinal, a falta dos rublos fez-se sentir.

Tudo isto vem a propósito da evidente pujança recente do Bloco de Esquerda em termos de meios de campanha. Ainda a campanha presidencial não arrancou e ele já é enormes outdoors do candidato espalhados por aí… Quando isto vem dos herdeiros de uma LCI, de um PSR, de uma UDP, que estavam sempre à míngua de meios e cujos folhetos de propaganda faziam parecer que continuavam a usar as impressoras de vão de escada do tempo da clandestinidade…

Por isso, quando vejo o enorme outdoor dos Olhos nos Olhos, com o Louçã a fixar-me, eu devolvo-lhe o olhar mas confesso, não estou a vê-lo, estou a imaginar o custo daquele cartaz e quem lhe enche a algibeira…

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