Para nos recordar o quanto a relação do jornalismo com o Rigor e a Verdade sempre se revestiu de alguma controvérsia, destaquemos nesta primeira página de há cinquenta anos (6 de Janeiro de 1969), aquela "previsão" da NASA que o Homem chegaria a Marte dentro de dez anos que, no momento em que era publicada, era potenciada pelo facto de "o Homem" ainda não havia sequer chegado à Lua, feito que só viria a acontecer dali por seis meses.
Mas, o leitor que se desse ao trabalho de ler o conteúdo da notícia que era desenvolvida numa página interior, aperceber-se-ia das condicionantes que eram levantadas pelos dirigentes da própria agência espacial norte-americana, numa passagem final que estava, aliás, destacada a bold. «Os dirigentes da NASA admitem, por outro lado, a possibilidade de um desembarque humano em Marte dentro de uns dez anos. No entanto, acentuam que este programa exigiria tais créditos que a sua realização terá que se subordinar a considerações de carácter político, tais como o regresso à paz e a solução do problema da pobreza nos grandes centros urbanos dos Estados Unidos.»
Ou seja, a chegada do Homem a Marte dependeria das prioridades políticas da alocação de recursos, antes de se colocarem as questões técnicas a respeito dos voos espaciais tripulados. E isso era uma ressalva que no jornal se considerava que não interessaria nem captaria a atenção do leitor mediano. O tempo, e agora as redes sociais, apenas acentuaram essa diferença entre uma maioria que só quer ler as gordas e aqueles que porfiam e se dispõem a ler tudo até ao fim.
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