30 setembro 2013

ESQUERDA, NÃO SEI SE POBRE, MAS CERTAMENTE MAL AGRADECIDA

Se há organização política que tem sido facciosamente acarinhada pelos jornalistas desde há mais de uma dúzia de anos para cá tem sido o Bloco de Esquerda. Ainda hoje, em mais uma notícia destinada a suscitar simpatia, a jornalista Mafalda Ganhão escreve no Expresso que João Semedo terá ficado a 52 votos de ser eleito como vereador para a edilidade lisboeta. É o tipo de trabalho de investigação jornalística que a ilustra, o primeiro, decerto, de uma série de casos curiosos investigados por aquela mesma jornalista a respeito de candidatos às eleições de ontem que ficaram a escassos votos de ser eleitos... Mas, ser levado ao colo parece não chegar para o Bloco, especialmente se o momento for de justificar desaires eleitorais, quando se ouve o mesmo João Semedo, coitado, a referir-se a um apagão televisivo que pretende reduzir o pluralismo ao bloco central. Expressões destas ditas quando comunistas e independentes estavam a ser as estrelas da noite eleitoral não é apenas ingrato, é sobretudo estúpido!

A COLOSSIDADE DO LEGADO DE VÍTOR GASPAR

É muito possível que a data de divulgação dos resultados da execução e do défice orçamental de 2013 tenham sido adaptados às conveniências eleitorais. Não seria de estranhar mas a vantagem é que, a ser verdade, o gesto seria uma admissão implícita que o executivo reconhece que os resultados alcançados são medíocres. Mas a verdade é que não é certo que o governo tenha promovido essa habilidade: faça-se notar que, há dois atrás, quando o problema da conveniência eleitoral não se poria, a data de divulgação deste mesmo indicador foi precisamente o mesmo dia 30 de Setembro. O que interessante é constatar a diferença entre os resultados alcançados em 2011 (8,3%) e 2013 (7,1%), naquilo que constituirá um desapontamento colossal quanto ao trabalho colossal desenvolvido por Vítor Gaspar e pela sua equipa para o cumprimento das metas orçamentais a que o nosso carismático e fleumático ex-ministro das Finanças se propôs. Dá-se a feliz coincidência do presente défice de 7,1% do PIB poder sintetizar a actividade daquele ministério até ao dia 30 de Junho de 2013 porque o seu ministro, Vítor Gaspar, apresentou a sua demissão precisamente no dia seguinte. 7,1% de défice orçamental torna-se assim o legado final da actividade de Vítor Gaspar para a história do difícil cumprimento das metas orçamentais impostas pela troika a Portugal. Um legado de uma tarefa que à partida já se sabia muito difícil mas que o distanciamento desapaixonado, três meses após os últimos acontecimentos (daí a escolha acima de uma fotografia menos institucional de Vítor Gaspar), já nos permite qualificar, com a mesma fleuma do avaliado e tomando em conta a escala dos sacrifícios impostos ao melhor povo do Mundo, ao melhor activo de Portugal, de fiasco colossal.

29 setembro 2013

Os pigs e os PIGS


Depois de assistir a uma propagandeada dissertação da actriz britânica Joanna Lumley – apreciem acima a peça que a euronews fez a esse respeito – em prol dos cuidados a ter com o tratamento dispensado aos porcos (pigs em inglês) nos vários países da União Europeia, aguardo com expectativa a informação se aquela mesma estrela (e quem promove a mesma causa…) também se disporá a mostrar compaixão no parlamento europeu para terçar armas com igual veemência pelo tratamento austero que nos estão a dispensar a nós, os habitantes dos outros PIGS (Portugal, Ireland, Greece and Spain)… É sempre bom que haja generosidade para demonstrarmos compaixão por mais do que uma causa mas...
...estabelecendo prioridades e atendendo às circunstâncias, creio que as boas intenções não podem servir de justificação para todo este género de disparates. Aliás, terá sido com intenções tão louváveis quanto as de Joanna que se aprovou em Setembro de 1994 o depois tornado famoso Regulamento 2257/94, sobre a curvatura regulamentar das bananas, que entretanto terá sido rectificado pelo Regulamento 1221/2008, permitindo a comercialização de bananas mais disformes. Aqui também parece haver um regulamento que não estará a ser cumprido mas, quando os problemas sociais assumem os contornos que se vêem abaixo, pode aceitar-se que questões dos lay-outs das pocilgas possam passar para um segundo plano das preocupações…

28 setembro 2013

«HELTER SKELTER»


Pode-se dizer que tínhamos e continuamos a ter, depois da tal de remodelação, uma governação helter skelter.

ÁRVORE ABAIXO!

A manhã de Sábado foi perturbada pelo labor barulhento das motosserras dos homens dos serviços municipalizados que se aprestam a derrubar uma árvore ao fundo da rua, uma árvore tropical de tronco volumoso, precisamente igual à do vídeo abaixo,…

…embora espere que o desfecho da operação seja outro que não o do vídeo. O zelo da administração municipal nestes períodos eleitorais nunca cessa de me surpreender.

27 setembro 2013

EVOCANDO ROBERTO CALVI POR OCASIÃO DO «DESAPARECIMENTO» DE OUTRO BANQUEIRO

Roberto Calvi (1920-1982) foi um banqueiro italiano que encheu as manchetes dos jornais há 30 anos quando apareceu morto, dependurado de uma ponte londrina, depois do banco a que presidia, o Banco Ambrosiano, ter colapsado, aquilo que foi um dos maiores escândalos de Itália na época, envolvendo nomeadamente o Vaticano, que era um accionista importante (16%) do banco em falência. Os peritos encarregues de investigar a morte de Calvi, concluíram que ela havia sido encenada para parecer um suicídio, mas que se tratara de um homicídio. Um julgamento que teve lugar em 2007, 25 anos depois dos factos, concluiu com a absolvição dos cinco suspeitos por falta de provas. A semelhança deste episódio com o de Oliveira Costa e o BPN parece-me evidente, para mais sabendo que Roberto Calvi também já fora preso antes de ser libertado por causa de um recurso que entretanto interpusera, ocasião que aproveitara para fugir para o estrangeiro. A pergunta pertinente porém, é a que se pode colocar a respeito de Oliveira Costa, depois das notícias aparecidas do seu desaparecimento: quantos de nós, que nos pretendemos passar por cidadãos cumpridores da lei, nos sentiríamos chocados ou sequer condoídos com a hipotética notícia que, como Calvi, Oliveira Costa aparecera dependurado de uma ponte de uma qualquer capital europeia?...
Adenda: E eis daquelas notícias típicas para minorar os estragos, mesmo que não faça sentido algum quando confrontada com a notícia original. Estas agora dizem-nos que José Oliveira Costa (está) fechado em casa (e) só recebe os advogados ou que Oliveira Costa disponibiliza número de telemóvel ao tribunal criminal (de) Lisboa. Mesmo abstraindo-nos das limitações às suas liberdades individuais, que o levam a não poder ser assim tão selectivo quanto às pessoas que recebe em casa ou quanto ao processo como contacta as autoridades judiciais, será que os advogados de Oliveira Costa nunca se aperceberam nestes dois meses que o tribunal andava a tentar notificar o seu constituinte?...

OS INDEPENDENTES

Já vários comentadores se referiram, a propósito das eleições autárquicas, ao crescimento do fenómeno das candidaturas independentes. Tanto se prevê que cresçam que é importante que se anteveja como é que elas serão tratadas informativamente na próxima noite eleitoral. De facto, embora não existam candidaturas independentes a concorrer em todos os concelhos, há-as e significativas, com hipótese de vitória, a concorrer por grandes concelhos como os do Porto, Gaia, Sintra, Oeiras ou Matosinhos, e não seria surpreendente que a votação agregada de todas essas candidaturas pudesse alcançar (e mesmo superar) os 5% da votação nacional, uma votação que será certamente maior do que aquilo que o BE recolherá no Domingo, senão mesmo também superior ao que será o resultado alcançado individualmente pelo CDS, uma percentagem, recorde-se, a descontar aos resultados na casa dos 20 a 30% alcançados pelos dois grandes partidos: PSD e PS.

Com umas eleições com as características das autárquicas, sujeitas pela sua própria natureza a interpretações contraditórias sobre vitórias e derrotas, será por isso interessante seguir que processo adoptarão os órgãos de comunicação social, os políticos e os politólogos para tratar a informação da noite eleitoral. Os independentes representam um «albergue espanhol» de posições: só pelos cinco exemplos acima apontados, verifica-se que há ali candidaturas que são dissidências de direita (Porto, Gaia, Sintra), dissidências de esquerda (Matosinhos) e dissidências éticas (Oeiras). Mas estes serão os exemplos com mais notoriedade e, por isso, mais fáceis de classificar, embora mesmo assim uma candidatura como a de Paulo Vistas em Oeiras precise sempre de uma «martelada» para ficar arrumada de um dos lados do espectro. Vai ser uma manobra que vale a penas seguir com atenção.

26 setembro 2013

E TRÁS OS «TUPPERWARES» COM O ALMOÇO TAMBÉM?...

Sem pretender concorrer com referências do humorismo escrito nacional como a Imprensa Falsa ou o Inimigo Público, ocorreu-me perguntar, depois de ter lido que (Manuela) MOURA GUEDES USA OS PRÓPRIOS VESTIDOS NO CONCURSO DA RTP, se terá sido também ela que realizou as suas próprias operações plásticas?... É que, a ser verdade, isso explicava muita coisa…

UMA SOCIEDADE DE ALDRABÕES SÓ DIFICILMENTE ELEGE GENTE SÉRIA?

Uma das notícias pitorescas do dia são os resultados de uma espécie de concurso organizado pela Reader’s Digest em 16 cidades do Mundo, em cada uma das quais se «perderam» 12 carteiras cada uma com informações pessoais, telefone, fotos de família e ainda 30 euros em dinheiro. O jogo, evidentemente, consistia em saber quantas carteiras seriam devolvidas. E, mesmo atendendo à reduzida dimensão da amostra, os resultados são sempre interessantes: ganhou Helsínquia na Finlândia, onde se devolveram 11 das 12 carteiras. E Lisboa, Portugal, ganhou a duvidosa distinção de ter ficado em último lugar no concurso com apenas 1 carteira devolvida e essa, mesmo assim, foi-o por um casal de turistas holandeses… Os resultados do concurso têm pelo menos o mérito de abanar reputações:

Como a da cidade classificada em 2º lugar, Bombaim na Índia, com 9 carteiras devolvidas. Em contrapartida, a exemplar Berlim (Alemanha) ficou apenas no meio da tabela classificativa com 6 carteiras. Ainda assim, são uns furos classificativos acima da impoluta Zurique (Suíça) que aparece emparelhada nos resultados finais com o poluto Rio de Janeiro (Brasil) com 4 carteiras devolvidas cada. Os dois lugares do fim ficaram mesmo reservados para a Península Ibérica: Madrid (2) e Lisboa (1). Mas ficam as interrogações de quais seriam os resultados em algumas outras cidades não contempladas, numa amostra que englobava 13 cidades europeias nas 16: falta Tóquio, Pequim ou Xangai, Roma, Cairo... Mas o essencial da notícia é como ela nos confronta com a evidência de sermos uma sociedade de aldrabões

Creio que todos sabemos, no nosso íntimo, que, se pudermos escapar impunes, – o que é o caso deste concurso: ninguém sabe que encontrámos a carteira e a decisão do que fazer com ela é de quem a encontrou… – a maioria de nós, portugueses, não adopta a atitude honesta. A honestidade é rara no DNA português. É uma coincidência interessante que os resultados deste concurso apareçam agora, em plena campanha autárquica, época em que as denúncias da corrupção dos candidatos e os apelos a que se não vote acabam depois desmentidos na noite eleitoral com as eleições de escroques. Mas, tanta pode ser a esquizofrenia suscitada por este tema, que até se torna pertinente perguntarmo-nos pela honestidade dos políticos que pretendem fazer da honestidade a sua imagem de marca

25 setembro 2013

AS SS E AS ÁGUAS MINERAIS

Em Abril de 1939, as SS criaram na região de Marienbad, nos Sudetas recém-ocupados, a Sudetenquell GmbH, uma empresa encarregadas do engarrafamento e da comercialização das águas minerais daquela zona termal. A iniciativa estava associada a uma das obsessões de Heinrich Himmler (1900-1945), que pugnava habituar os SS a estancar a sua sede com bebidas saudáveis e não alcoólicas e a evitarem o consumo, tantas vezes excessivo, de cerveja, vinho e outras bebidas do mesmo género.
Nos anos que se seguiram a organização das SS empenhou-se numa política de aquisições das empresas do ramo, a fim de assegurar os melhores preços para a sede das suas centenas de milhares de homens. Em 1944, cerca de 75% da produção alemã de água mineral estava nas mãos das SS… Esta associação entre as SS e as águas minerais é certamente tão desconhecida quanto improvável mas é, ao mesmo tempo, uma demonstração do poder e determinação de Himmler e da equipa que o rodeava. 

EU SEJA CEGUINHO...

Eu bem sei não se tratar de uma novidade mas as previsões de Marcelo Rebelo de Sousa têm sempre imensa graça.

24 setembro 2013

GUERRILHAS, LUTAS DE LIBERTAÇÃO NACIONAL E PROCLAMAÇÕES POLÍTICAS

Hoje, quando se completam 40 anos sobre a proclamação unilateral da independência da Guiné Bissau vale a pena falar de outras guerrilhas, de outras lutas de libertação nacional e de outras proclamações políticas a elas associadas que, não apenas por terem sido de certa forma menos bem sucedidas que a da Guiné-Bissau, nem sequer se ouve falar delas. Um excelente exemplo disso são as guerrilhas que se travaram ao longo do decénio que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial em qualquer dos três estados do Báltico, Estónia, Letónia e Lituânia, especialmente nesta última (exemplificado pela declaração acima). Contribuiu para o desconhecimento generalizado dessas outras lutas de libertação nacional o facto da potência colonial ser, naquele caso, a União Soviética e dos seus rivais norte-americanos se terem decidido a não investir estrategicamente nessas guerrilhas¹.
Apesar de uma cobertura vegetal (acima) favorável à manutenção de pequenas secções de guerrilheiros habilitados a perturbar o exercício da autoridade soviética, os restantes factores, a opacidade informativa que um regime totalitário como o soviético podia manter conjugada com a ausência de apoios logísticos vindos do exterior condenaram a expressão militar dos três nacionalismos bálticos a um fracasso a longo prazo. Mesmo assim, ainda se registaram episódios esporádicos – permanentemente abafados – de resistência armada durante as décadas de 1960 e 1970. E o desaparecimento da luta armada não foi acompanhada do desaparecimento do nacionalismo em qualquer daqueles países, lembrando aliás um outro exemplo do universo dos países de língua oficial portuguesa: Timor-Leste. Em 1991, os três países foram os primeiros a separarem-se da União Soviética, precedendo a implosão desta última.
¹ Possivelmente para evitar que a União Soviética retaliasse simetricamente, promovendo empenhadamente os movimentos separatistas nos estados dos Estados Unidos...

«EIN VOLK, EIN REICH, EINE FÜHRERIN»

80 anos depois, Angela Merkel recebeu apenas menos 2,4% dos votos que Adolf Hitler, mas sem precisar de usar as SA (acima) para patrulhar as ruas, nem de incendiar o Reichstag...

23 setembro 2013

A «ABORDAGEM KEITEL» À RESOLUÇÃO DOS PROBLEMAS

Wilhelm Keitel (1882-1946) foi um dos Marechais alemães da Segunda Guerra Mundial, um dos poucos para quem a História e a apreciação dos seus pares não foi propriamente generosa. A justificá-lo o facto de ter passado quase todo o conflito no OKW, junto de Adolf Hitler, adoptando um comportamento que não se distinguiu muito de um cortesão. Só no final da Guerra é que a guerra veio ter com Keitel, por ocasião da ofensiva soviética final sobre Berlim, em Abril de 1945. É então, quando tudo se está a desmoronar, que se trava um dos mais interessantes e vivos diálogos entre um comandante conhecedor das frentes de batalha, o General Gotthard Heinrici (1886-1971) e o Marechal Wilhelm Keitel, quando este pretendia ordenar àquele que atacasse os russos para romper o cerco à cidade:
O seu dever para com o Führer… – ameaçava Keitel.
O meu dever para com os meus soldados… – interrompia insolentemente Heinrici com uma coragem aumentada pela desagregação da situação.
Não se estaria aqui, se fizesse como os outros generais, se fuzilasse, se enforcasse…
Esteja à vontade: - e com isto, Heinrici apontava para mais uma leva de refugiados que passava ao lado do sítio onde discutiam, onde alguns desertores procuravam passar dissimulados – Fuzile! Enforque!..
Mas, em vez disso, Keitel destituiu Heinrici do comando, prometendo-lhe um tribunal marcial que nunca chegou a ter lugar. Uma típica não solução, porque os soldados até aí comandados por Heinrici continuaram a recuar diante dos russos e com eles, Keitel fez o mesmo, que um Marechal sem tropas também não é nada.
Quando leio pela enésima vez Camilo Lourenço a escrever que é preciso diminuir a despesa do Estado isto faz-me lembrar as convicções de Keitel, que sabia o que havia a fazer mas não se dispunha a – ou não tinha coragem de – concretizá-las ele próprio. Mais de dois anos passados após a tomada de posse de Pedro Passos Coelho, Camilo Lourenço já devia ter compreendido que, e mesmo que eu tenha muitas recriminações a fazer à condução política e financeira do Primeiro-Ministro e de Vítor Gaspar, não se os pode acusar de falta de empenho, sintoma de que a diminuição da despesa do Estado no ritmo e na escala que os que estão de fora preconizam é certamente uma coisa muito mais difícil de concretizar do que os bombachos de opinião¹ preconizados por Camilo Lourenço. Mais do que isso, e tal como acontecia com os soldados foragidos que Keitel pretendia que fosse o outro a mandar executar, também já se percebeu que a abstracção da diminuição das despesas se concretiza afinal em pessoas, como os pensionistas que se perspectiva venham a perder pelo menos 10% das suas pensões. Martim Avillez Figueiredo também achava muita coisa desta até que, quando à frente do jornal i, lhe impuseram que fosse ele a diminuir a despesa dentro de portas... Pior do que Keitel, Martim demitiu-se e passou a ser muito mais moderado no que escreve desde então. Vai sendo tempo de entregar um cargo de responsabilidade a Camilo Lourenço para que também ele se aperceba do quanto custa implementar aquilo que se proclama e nos deixe de chatear com as suas opiniões inconsequentes de uma vez por todas.

¹ Bombachos são umas calças largas aqui figurativamente apropriadas para acomodar os tomates de quem pretende estar a exprimir opiniões sempre muito corajosas.

OS «ESTAMPIDOS» DA INFORMAÇÃO

Como os das manadas, os estampidos da informação combinam o poder de destruir tudo o que se interpõe à sua passagem com o inesperado dos sentidos para onde se dirige. Há uma notícia de carácter científico posta a circular muito recentemente (entretanto já a onda de choque se terá esgotado…) que antecipa que a Terra orbitará o Sol na sua zona habitável (i.e., uma distância que permita a existência de água líquida no planeta) pelo menos durante os próximos 1.750 milhões de anos. Há quem queira dar a notícia de uma forma tranquilizadora (afinal, os dinossauros extinguiram-se há apenas 67 milhões…), mas também há quem procure extrair dela a faceta catastrofista que faz uma boa notícia.
Mas o que é mesmo interessante é ler-se o blogue de Andrew Rushby (acima), o autor principal do artigo publicado na revista Astrobiology que serviu de base para todo o desvario. Nele, Andrew explica que o valor de 1.750 milhões foi apenas um subproduto do seu estudo sobre a duração da permanência dos exoplanetas na zona habitável das suas estrelas, onde teve que recorrer, para referência e adoptando o princípio da mediocridade, ao único planeta de que há a certeza que orbita a sua estrela na zona habitável: a Terra. Esta, calculou, vogará naquela zona durante 6.290 milhões de anos enquanto nos exoplanetas conhecidos esse período poderá variar entre 4.300 milhões (Kepler 22-b) a 42.000 milhões (Gliese 581d – abaixo) de anos.
Tudo isso, para além dos lamentos de Andrew sobre como os grandes órgãos mundiais produzem informação científica, está perfeitamente disponível na fonte original, o seu blogue, mas, pergunta-se, quem é que no mundo da informação quer mesmo saber dessas merdas?...

22 setembro 2013

Eheheheheh

Demonstração no blogue jugular de como o humor pode ser divertidamente tonto
Explique-se então o que é ser-se tonto. Fernanda Câncio (reconhecida no eheheheheh acima pela sigla f.) republicou no blogue jugular o artigo que aparecera durante a semana no Diário de Notícias onde ela se manifestara contra a existência do Colégio Militar, do Instituto de Odivelas e do Instituto dos Pupilos do Exército. Mas sentiu a necessidade de acrescentar estas duas adendas:



Repare-se o que a redacção cuidadosa – isso, reconheçamos, é uma das qualidades de Fernanda Câncio – das notas pretende ultrapassar:

a)    Que ela se preparou e documentou mal e porcamente para o artigo, sem que isso parecesse ter afectado quer a segurança, como sobretudo a veemência, daquilo que lá escreveu;
b)    Que isso para si não terá importância alguma desde que possa ser superado por uma agilidade argumentativa que consiga tornar em favorável à sua opinião aquilo que ignorara até então;
c)    Que esta é apenas mais uma de uma longa lista de causas envolvendo-a, em que não há apenas divergências de opinião mas há um bem e um mal, este último nas poucas linhas acima qualificado (pelo menos) de irracional e absurdo.

REVIVER O PASSADO EM GOLDSBORO

Em 24 de Janeiro de 1961 um bombardeiro B-52 norte-americano cumpria uma missão de alerta de 24 horas sobre o Atlântico voando junto à costa das Carolinas com dois engenhos termonucleares Mark 39 a bordo. Quando de uma das missões de reabastecimento no ar notou-se que o aparelho estava a vazar combustível por uma das asas mas decidiu-se prosseguir a missão até que o B-52 consumisse o combustível restante e pudesse aterrar mais leve e em maior segurança. Porém, em minutos se percebeu que a fuga era mais importante do que se previra (o B-52 perdera 17 toneladas de combustível em 3 minutos) e que o avião teria de regressar de imediato à Base Aérea de Seymour Johnson em Goldsboro na Carolina do Norte.
Nunca lá chegou. A aeronave tornou-se progressivamente mais difícil de controlar e voava já a 9.000 pés de altitude e sobre terra quando foi dada a ordem de a abandonar. Dois dos oito tripulantes nunca o chegaram a fazer. O B-52 desintegrou-se no ar ainda a 20 km da pista e os destroços – incluindo as duas Bombas H que transportava, que foram ejectadas de forma automática sustentadas em paraquedas – espalharam-se por uma área de 500 hectares. Além dos dois tripulantes que ainda permaneciam no avião, um dos outros seis que saltaram também faleceu. Pior, as descobertas das equipas de salvamento e de investigação que se precipitaram para o local em busca de homens e bombas não foram nada reconfortantes.
Num dos casos daquelas, o paraquedas não se abriu e a bomba atingiu o solo como se se tratasse de uma bomba convencional. Felizmente, as características do solo, esponjoso, fizeram com que os explosivos convencionais que possuía não detonassem no impacto e que os diferentes componentes da arma se enterrassem solo abaixo, desde uma profundidade mínima de 6 metros (a cauda) até aos 16 (o núcleo mais pesado com o combustível). Todavia, o outro caso foi muito mais grave pois, se o paraquedas se abriu, descobriu-se, à posteriori, que todos os redundantes dispositivos de segurança (há quem fale em 4, há quem mencione 6) concebidos para impedir que a bomba se armasse inadvertidamente falharam, à excepção de um…
Deixo à imaginação do leitor o impacto do que teria sido uma detonação de uma bomba nuclear 250 vezes mais potente do que a de Hiroxima sobre uma área rural dos Estados Unidos. E contudo, apesar de abafado, tudo isto já é razoavelmente conhecido há muitos anos. A página da Wikipedia sobre o incidente, por exemplo, foi aberta em 2008. O local da queda transformou-se num destino turístico (acima). Que levará um jornal de generalidades e superficialidades como A Bola a apresentar-nos o episódio como se se tratasse de uma descoberta recente? A ignorância e o jornalismo de manada
Houve um jornalista chamado Eric Schlosser que publicou muito recentemente um livro intitulado Command and Control precisamente a respeito dos incidentes nucleares e a sua promoção parece estar a passar pela publicação das suas histórias mais sumarentas numa cadeia que, via The Guardian, acabou por chegar a A Bola. Quando se segue uma cadeia dessas, o que é indigente é verificar como nenhum dos órgãos de informação envolvidos procura aportar algo de distintivamente seu à cópia que se foi buscar à concorrência. Uma hipótese, como aqui faço, seria a de complementar o tema esclarecendo que se trata de uma história velha, requentada, escrita por um colega que está a tentar fazer uns cobres...

Outra hipótese, mais engraçada de explorar, seria a de especular quais teriam sido os caminhos da História Alternativa se a Bomba H tivesse efectivamente detonado naquele dia sobe os céus da Carolina do Norte. Dada a natureza rural do território, o número de vítimas até poderia ser comparativamente diminuto considerando a capacidade de destruição de uma arma concebida para detonar sobre concentrações urbanas. Mas o simbolismo do acontecimento superaria isso tudo: recorde-se que o 11 de Setembro de 2001 provocou apenas 3.000 vítimas. Mas é sobretudo a data do acontecimento que o torna potencialmente passível de poder ter mudado toda a história da Humanidade: a 24 de Janeiro de 1961, John F. Kennedy havia tomado posse há apenas quatro dias

21 setembro 2013

SETEMBRO DE 2013

Ao contrário das outras, acredito que as opiniões sérias e sobre assuntos sérios devem reflectir a evolução das circunstâncias. Por exemplo, se me imaginar com o mesmo esclarecimento mas tendo nascido duas gerações antes, estou convencido que teria sido inicialmente um apaziguador na década de 30 e procuraria arranjar explicações que acomodassem o expansionismo alemão. Ao contrário de Winston Churchill, que a História transformou num visionário que compreendeu desde sempre as intenções de Adolf Hitler, também a maioria das pessoas razoáveis – como, por exemplo, Anthony Eden – não apoiaram de início uma atitude hostil que facilmente poderia desembocar numa nova Guerra Mundial por causa da anexação da Áustria. O preço a pagar teria sido muito alto, tratava-se de uma decisão que não se tomava de ânimo leve. Essa opinião, a de que a Alemanha só podia ser travada pela força das armas, só se veio a robustecer progressivamente quando a Alemanha anexou os Sudetas, depois destruiu e ocupou a Checoslováquia até se tornar praticamente consensual quando Hitler se preparou para fazer o mesmo à Polónia em Setembro de 1939.
Dois anos (1938 e 1939) puderam representar muito tempo e muitas transformações no cenário europeu. Ou então esse mesmo período de tempo pode não representar nada, especialmente quando se está à espera que alguma coisa mude nesse cenário, como tem vindo acontecer com os portugueses de há dois anos para cá (2011-2013). Quando se olha para um gráfico mostrando a evolução das yields da dívida pública portuguesa a 10 anos (acima) apercebemo-nos que as taxas actualmente praticadas equivalem àquelas que eram praticadas há dois anos e meio atrás, em Março de 2011, antes do chumbo do PEC IV. Nesta perspectiva exclusivamente financeira, que os actores políticos nos dizem ser muito importante, a do regresso aos mercados, é como se estivéssemos de regresso à casa partida do Monopólio, só que não se recebem os 2.000$... Em todas as outras perspectivas porém, a económica e sobretudo a social, a sociedade portuguesa da actualidade já não tem nada de semelhante com a que existia há dois anos e meio. Há recessão, há muito mais desemprego e sobretudo, não há expectativas nem disposição para mais sacrifícios conhecendo-se os resultados alcançados e a iniquidade desses sacrifícios.
Este mês de Setembro de 2013 é um mês excelente para avaliações das políticas que foram prosseguidas até aqui pelo governo saído das eleições de Junho de 2011. Que foram um fiasco: de acordo com o próprio calendário governamental, seria o mês em que Portugal retornaria aos mercados, financiando-se autonomamente. Mais do que isso, podiam ter sido um fiasco apenas na execução mas foram-no não apenas aí mas também na avaliação da antecipação e repercussão das suas consequências, como se economia e finanças fossem um navio à deriva, sem timoneiro, com o ministro das Finanças a ser objecto do anedotário nacional – uma das raras instituições que pareceu não ter sido afectada pela crise – por causa dos seus falhanços encadeados. Defensivamente, o governo costuma argumentar que não havia alternativa ao caminho percorrido, o que até nem é verdade: o que sempre faltou às políticas alternativas foi razoabilidade e o que nos faltou a nós foi o desespero para as encarar seriamente. Desespero esse que, como a desconfiança com as intenções de Adolf Hitler referidas mais acima, se está a robustecer com o passar dos meses sem que se veja saída para a situação.
Setembro de 2013 é também o mês das eleições gerais na Alemanha que políticos consagrados como Luís Amado anteciparam que virá modificar o comportamento daquela em relação à Europa. As eleições ainda não tiveram lugar e as expectativas sobre o impacto das referidas eleições nas estruturas europeias já foram substancialmente rebaixadas. A Alemanha não se vai mostrar mais solidária, as instituições europeias tão pouco, a honra (sic) que Portugal obteria da nacionalidade do presidente da Comissão também não nos vai valer de grande coisa. Como se não bastassem os económicos e sociais, parece-me ter-se gerado na sociedade portuguesa um problema anímico, o cansaço de uma geração que dedicou todas as suas energias a um projecto político que agora, em tempos de verdadeira necessidade, se revela uma fraude. O cartaz acima, por exemplo, com um Soares exultante, pode ser agora apreciado ironicamente perguntando-lhe: Conseguimos o quê?... É perante estes cenários antagónicos que se esperaria que a política portuguesa estivesse a ser disputada por protagonistas defendendo causas distintas e fracturantes (abaixo)… mas não. No PSD e no PS é-se pró-Europeu por definição e se alguma os distingue é onde de um lado se pede 4,5%, do outro pede-se mais 0,5%
Paradoxalmente onde poderemos encontrar essa dicotomia nas soluções como ultrapassar o marasmo político-económico-financeiro que nos envolve, parece ser entre os economistas de vulto que nos visitam. Não professores euro-bambos como Wolfgang Münchau. Economistas a sério como Nouriel Rubini e Dani Rodrik. Enquanto o primeiro se mostra mais reformista, preconizando que nos batamos pela flexibilização das metas do deficit, o segundo mostra-se mais revolucionário, preconizando uma eventual saída de Portugal do Euro, para contornar um muito longo e muito lento período de recuperação da nossa economia que é antecipado por qualquer deles dois. Esta sugestão do abandono do Euro não é nova, já foi defendida por vários economistas, nomeadamente em livro (abaixo) por João Ferreira do Amaral. O grande problema da opção é que, como após uma declaração de guerra, ninguém tem a ideia do que pode vir a acontecer em consequência dela. O livro peca por isso, quando tenta convencer-nos do contrário: que se pode tentar gerir com segurança todos os múltiplos aspectos da fase de transição entre moedas. Seja como for, o fracasso das opções canónicas (troika) impostas até aqui e os constrangimentos que elas impõem para o futuro tornam implicitamente estas opções mais radicais mais atraentes.
Provavelmente, para que essas opções venham a ter capacidade de aceitação, terão que ser apresentadas de uma forma muito mais emocional do que o faz Ferreira do Amaral. Como Churchill, para regressar ao exemplo do início deste poste, que antecipando a fase mais dura, a do isolamento do Reino Unido durante a Guerra e em vez de minimizar os sacrifícios, apenas prometeu sangue, trabalho, lágrimas e suor, também o nosso eventual abandono do Euro poderia ser embrulhado num reavivamento de um nacionalismo que, não esqueçamos, já teve slogans como orgulhosamente sós… Tenho que reconhecer que, aquilo que me parecia, quando aquele livro foi publicado, que não passaria de uma ideia peregrina de alguns economistas mais arrojados e sem hipóteses de concretização pode estar, por força das circunstâncias e com a bênção de nomes como Dani Rodrik, a fazer o seu caminho de se transformar numa opção política a levar a sério. Não sei é se no PSD e no PS já deram por isso…

20 setembro 2013

BIC A 3$50

O preço da esferográfica (menos de dois cêntimos de € actuais) remete-nos nostalgicamente para muitos, muitos anos atrás. Não sei quantos dos que me estão a ler são capazes de o lembrar e que gostavam, como então eu gostava, de personalizar a sua Bic, roendo a tampinha colorida do topo. Entretanto as ergonomias e as preocupações estilísticas tornaram-nas mais difíceis - hoje quase impossíveis - de arrancar do sítio usando apenas os dentes da frente. Ah, e para os mais novos, diga-se que a Bic cristal era muito mais popular que a Bic laranja: quando o anúncio abaixo apareceu na televisão a primeira parecia mesmo cristal, a segunda era apenas cinzenta

19 setembro 2013

MULTIBREYNER

Nicolau Breyner tem tradição de candidato autárquico: já em 1993 se dispôs a concorrer pelo CDS à presidência da Câmara de Serpa, numa candidatura muito mediatizada na época mas que, apesar de levar o CDS a índices de votação insuspeitados em terras alentejanas, terminou derrotada. Depois ter-se-á deixado disso mas vinte anos depois parece ter regressado em força, desdobrando-se no apoio a duas candidaturas: como mandatário para a cultura na candidatura do PSD, MPT e PPM a Loures que é encabeçada por Fernando Cabral (acima) mas também como candidato a presidente da assembleia municipal de Sintra na candidatura do PND naquele concelho, encabeçada por Nuno da Câmara Pereira (abaixo). O facto de ser uma figura televisiva, cobiçada e, pelos vistos, disponível, não impede que os colegas de Loures nem saibam escrever correctamente o seu apelido: Br(e)yner... Mais a sério, o que se torna interessante nestes episódios em que alguém dá a cara por quatro partidos em duas autarquias, é especular como melhoraria a situação política portuguesa se, em vez dos tão desdenhados políticos profissionais, ela passasse a ser protagonizada por estes amadores espontâneos como Nicolau Breyner.

EU NÃO QUERO… CONVERSAR SOBRE ISSO


Para quem ainda não conheça, deixem-me apresentar-vos Cleiton Basso: um achado. Assumindo-se primordialmente como um palestrante e escritor, como, de resto, se apresenta no vídeo acima, é porém no seu hobby de tradutor e declamador que o multidotado Cleiton se distingue e chega até nós. Podemos apreciá-lo no seu estilo inconfundível apondo a sua sensibilidade (e também a dessincronização labial...) a uma actuação ao vivo de Rod Stewart em dueto com Amy Belle. Tão poderoso é o estilo, que a canção quase deixa de ser o I don’t want to Talk About It original para se tornar num Eu não quero… conversar sobre isso, realce-se a sentida pausa intermédia da versão traduzida. A propósito e para rematar: não acham este título de quem não quer conversar sobre isso estranhamente oportuno de dedicar a quem nos prometeu e reprometeu que era este mês que Portugal regressava aos mercados?

18 setembro 2013

A MAIS VERDADEIRA DAS MENTIRAS

A fotografia mostra-nos o momento em Junho de 1959 em que Liberace comparece no julgamento do processo que intentara contra o Daily Mirror depois de no jornal britânico se ter insinuado que o pianista era homossexual. O julgamento foi breve (demorou seis dias) e terminou com Liberace a receber uma enorme indemnização (para a época) de oito mil libras¹ mas o que tornou o julgamento memorável foi a hipocrisia recíproca de ambas as partes que mentiram descaradamente em tribunal: editor e jornalista do Mirror desmentindo que tivesse sido intenção sua sugerir através dos artigos que Liberace era homossexual; o entertainer negando que o fosse, que as insinuações eram uma calúnia (viria a morrer de SIDA em 1987, eis o depoimento do seu namorado). Vem esta história a propósito da verdade das mentiras e de que, por muito que do lado do PSD se tente agora devolver as acusações à precedência, há umas verdades que são mais populares, mesmo tratando-se de um confronto de mentiras e que, no caso dos swaps, a decisão da opinião pública parece já estar tomada. Bem se pode Luís Montenegro esforçar mas a questão das credibilidades não se pode colocar simetricamente entre Almerindo Marques e Maria Luís Albuquerque: ela é que é a ministra das Finanças...

¹ Valor actualizado rondando os 600.000 €.

CONSIDERAÇÕES ANTROPOLÓGICAS SOBRE FORMAÇÃO DE FILAS

A evolução tecnológica tem feito com que aquelas compactas e prolongadas filas de outrora se possam tornar virtuais. Já não há serviço que não disponha do omnipresente distribuidor de senhas ao canto para que a posse de uma dessas senhas consiga dar uma aparência de organização…
…ao que de outro modo poderia tender a tornar-se numa bagunça. Contudo, nos países sociológica e civicamente mais avançados, como as sociais-democracias escandinavas e similares, já há muito que as coisas se organizam naturalmente, dispensando o uso das referidas senhas.

17 setembro 2013

CONSIDERAÇÕES ANTROPOLÓGICAS SOBRE TRATAMENTOS ESTÉTICOS

Tirada ainda durante o período colonial em Hanói esta fotografia diz-nos muito sobre o que podem ser as especificidades dos padrões de beleza de cada civilização. A jovem vietnamita à direita entrega-se aos cuidados de um tradicional dentista de rua, apanhados num instantâneo em que este último lhe branqueia os dentes com produtos naturais, enquanto os nossos olhos ocidentais se desviam instintivamente da boca para lhe descobrirem uma necessidade muito mais premente: a de uma pédicure

OVOS FRITOS


Eis dois vídeos de duas moças que se consideram habilitadas para vir para o Youtube explicar-nos como se cozinham ovos numa frigideira, dando resultado a coisas que elas acham que podem dar o nome de omeletes. Apesar da qualidade dos dois cozinhados as vantagens vão todas para a apresentação de cima onde a chef, porventura inspirada em Nigella Lawson, tem um vídeo mais bem montado, uma cozinha com uma aparência e equipamentos mais sofisticados, mostra-se muito mais eficaz (e insinuante...) nas explicações (duram 3 minutos em vez de 11) e é muito mais pró-activa na promoção do seu cozinhado, com adjectivos como super-macia e super-fofinha. Apesar disso, e mesmo usando muito mais gordura, os ovos fritos da segunda chef acabam por ser muito mais substanciais, naquilo que poderá passar por mais uma parábola sobre aparências e substâncias...

16 setembro 2013

A ORQUESTRA SINFÓNICA QUE REGRESSAVA QUARTETO DE CORDAS

Quando se noticia que, desta vez, desapareceram dez atletas da delegação congolesa presente nos sétimos Jogos da Francofonia disputados em Nice, percebe-se como estes acontecimentos já perderam a importância e o condimento de outros tempos, quando as delegações dos países ditos socialistas eram severamente vigiadas e, como dizia a anedota, quando na ausência dessa vigilância, as orquestras sinfónicas soviéticas regressavam à Pátria como quartetos de cordas depois de uma digressão no Ocidente. Mas é vendo a indiferença, acompanhada de alguma compaixão, como agora são tratadas estas deserções que nos apercebemos que o escarnecimento como se apreciavam então aqueles episódios da guerra-fria assentava, não no factor humano em si, mas no ridículo de quem argumentava ideologicamente como os fugitivos viviam numa sociedade muito melhor do que aquela para onde fugiam…

A ETIQUETA COM O PREÇO DAS COISAS

Entre os últimos assuntos que mais despertaram a atenção mediática conta-se a programada fusão do Colégio Militar com o Instituto de Odivelas e a continuação do folhetim dos swaps. Poderão parecer equivalentes em termos da paixão como ambos têm estado a ser discutidos pela opinião pública e publicada mas refira-se que o primeiro foi desencadeado pelas necessidades de colmatar um deficit de exploração anual de 14 milhões de euros enquanto que no segundo e para citar apenas as perdas potenciais da empresa mais envolvida, o Metropolitano de Lisboa, se está a falar de 1 241 milhões de euros, 88 vezes mais. Mesmo considerando a habilidade da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar em dar notoriedade à sua causa e não querendo que se retire daqui nenhum argumento contra a necessidade de atingir um equilíbrio financeiro nos três estabelecimentos militares de ensino, permitam-me notar que, quanto mais se aprofundam estes assuntos, mais bizarras se mostram as prioridades governamentais…