26 setembro 2013

UMA SOCIEDADE DE ALDRABÕES SÓ DIFICILMENTE ELEGE GENTE SÉRIA?

Uma das notícias pitorescas do dia são os resultados de uma espécie de concurso organizado pela Reader’s Digest em 16 cidades do Mundo, em cada uma das quais se «perderam» 12 carteiras cada uma com informações pessoais, telefone, fotos de família e ainda 30 euros em dinheiro. O jogo, evidentemente, consistia em saber quantas carteiras seriam devolvidas. E, mesmo atendendo à reduzida dimensão da amostra, os resultados são sempre interessantes: ganhou Helsínquia na Finlândia, onde se devolveram 11 das 12 carteiras. E Lisboa, Portugal, ganhou a duvidosa distinção de ter ficado em último lugar no concurso com apenas 1 carteira devolvida e essa, mesmo assim, foi-o por um casal de turistas holandeses… Os resultados do concurso têm pelo menos o mérito de abanar reputações:

Como a da cidade classificada em 2º lugar, Bombaim na Índia, com 9 carteiras devolvidas. Em contrapartida, a exemplar Berlim (Alemanha) ficou apenas no meio da tabela classificativa com 6 carteiras. Ainda assim, são uns furos classificativos acima da impoluta Zurique (Suíça) que aparece emparelhada nos resultados finais com o poluto Rio de Janeiro (Brasil) com 4 carteiras devolvidas cada. Os dois lugares do fim ficaram mesmo reservados para a Península Ibérica: Madrid (2) e Lisboa (1). Mas ficam as interrogações de quais seriam os resultados em algumas outras cidades não contempladas, numa amostra que englobava 13 cidades europeias nas 16: falta Tóquio, Pequim ou Xangai, Roma, Cairo... Mas o essencial da notícia é como ela nos confronta com a evidência de sermos uma sociedade de aldrabões

Creio que todos sabemos, no nosso íntimo, que, se pudermos escapar impunes, – o que é o caso deste concurso: ninguém sabe que encontrámos a carteira e a decisão do que fazer com ela é de quem a encontrou… – a maioria de nós, portugueses, não adopta a atitude honesta. A honestidade é rara no DNA português. É uma coincidência interessante que os resultados deste concurso apareçam agora, em plena campanha autárquica, época em que as denúncias da corrupção dos candidatos e os apelos a que se não vote acabam depois desmentidos na noite eleitoral com as eleições de escroques. Mas, tanta pode ser a esquizofrenia suscitada por este tema, que até se torna pertinente perguntarmo-nos pela honestidade dos políticos que pretendem fazer da honestidade a sua imagem de marca

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