Em 24 de Janeiro de 1961 um bombardeiro B-52 norte-americano cumpria uma missão de alerta de 24 horas sobre o Atlântico voando junto à costa das Carolinas com dois engenhos termonucleares Mark 39 a bordo. Quando de uma das missões de reabastecimento no ar notou-se que o aparelho estava a vazar combustível por uma das asas mas decidiu-se prosseguir a missão até que o B-52 consumisse o combustível restante e pudesse aterrar mais leve e em maior segurança. Porém, em minutos se percebeu que a fuga era mais importante do que se previra (o B-52 perdera 17 toneladas de combustível em 3 minutos) e que o avião teria de regressar de imediato à Base Aérea de Seymour Johnson em Goldsboro na Carolina do Norte.
Nunca lá chegou. A aeronave tornou-se progressivamente mais difícil de controlar e voava já a 9.000 pés de altitude e sobre terra quando foi dada a ordem de a abandonar. Dois dos oito tripulantes nunca o chegaram a fazer. O B-52 desintegrou-se no ar ainda a 20 km da pista e os destroços – incluindo as duas Bombas H que transportava, que foram ejectadas de forma automática sustentadas em paraquedas – espalharam-se por uma área de 500 hectares. Além dos dois tripulantes que ainda permaneciam no avião, um dos outros seis que saltaram também faleceu. Pior, as descobertas das equipas de salvamento e de investigação que se precipitaram para o local em busca de homens e bombas não foram nada reconfortantes.
Num dos casos daquelas, o paraquedas não se abriu e a bomba atingiu o solo como se se tratasse de uma bomba convencional. Felizmente, as características do solo, esponjoso, fizeram com que os explosivos convencionais que possuía não detonassem no impacto e que os diferentes componentes da arma se enterrassem solo abaixo, desde uma profundidade mínima de 6 metros (a cauda) até aos 16 (o núcleo mais pesado com o combustível). Todavia, o outro caso foi muito mais grave pois, se o paraquedas se abriu, descobriu-se, à posteriori, que todos os redundantes dispositivos de segurança (há quem fale em 4, há quem mencione 6) concebidos para impedir que a bomba se armasse inadvertidamente falharam, à excepção de um…
Deixo à imaginação do leitor o impacto do que teria sido uma detonação de uma bomba nuclear 250 vezes mais potente do que a de Hiroxima sobre uma área rural dos Estados Unidos. E contudo, apesar de abafado, tudo isto já é razoavelmente conhecido há muitos anos. A página da Wikipedia sobre o incidente, por exemplo, foi aberta em 2008. O local da queda transformou-se num destino turístico (acima). Que levará um jornal de generalidades e superficialidades como A Bola a apresentar-nos o episódio como se se tratasse de uma descoberta recente? A ignorância e o jornalismo de manada…
Houve um jornalista chamado Eric Schlosser que publicou muito recentemente um livro intitulado Command and Control precisamente a respeito dos incidentes nucleares e a sua promoção parece estar a passar pela publicação das suas histórias mais sumarentas numa cadeia que, via The Guardian, acabou por chegar a A Bola. Quando se segue uma cadeia dessas, o que é indigente é verificar como nenhum dos órgãos de informação envolvidos procura aportar algo de distintivamente seu à cópia que se foi buscar à concorrência. Uma hipótese, como aqui faço, seria a de complementar o tema esclarecendo que se trata de uma história velha, requentada, escrita por um colega que está a tentar fazer uns cobres...
Outra hipótese, mais engraçada de explorar, seria a de especular quais teriam sido os caminhos da História Alternativa se a Bomba H tivesse efectivamente detonado naquele dia sobe os céus da Carolina do Norte. Dada a natureza rural do território, o número de vítimas até poderia ser comparativamente diminuto considerando a capacidade de destruição de uma arma concebida para detonar sobre concentrações urbanas. Mas o simbolismo do acontecimento superaria isso tudo: recorde-se que o 11 de Setembro de 2001 provocou apenas 3.000 vítimas. Mas é sobretudo a data do acontecimento que o torna potencialmente passível de poder ter mudado toda a história da Humanidade: a 24 de Janeiro de 1961, John F. Kennedy havia tomado posse há apenas quatro dias…
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