20 maio 2009

UMA CORAJOSA ANÁLISE DAS CAUSAS DO FRACASSO DO «MODELO»...

Vítor Dias 3/05/2009
Assim, de passagem, ao correr da tecla e a propósito de um outro assunto diferente(*), é que se percebe que haverá comunistas históricos que, embora discursando, terão passado ao lado do XIII Congresso (Extraordinário) do seu partido em 1990 e não terão assim participado de uma forma empenhada nos trabalhos onde se registou uma corajosa e desenvolvida análise de causas determinantes do fracasso de um «modelo» (sic)…
É que uma das práticas mais caricatas e criticadas do «modelo» era a de remover das fotografias oficiais aqueles que haviam posteriormente caído em desgraça dentro da organização. E, completamente ao contrário do que Vítor Dias pretendeu dar a entender acima, não se tratou apenas de uma questão de fama, mas sobretudo de proveito, como se pode observar pelos dois pares de fotografias de exemplos neste poste.
As maiores críticas ao «modelo» centravam-se no aspecto dele tentar, através daquela prática, reconstruir retroactivamente a história à conveniência do poder vigente. É assim que, numa das rasuras mais famosas, Nikolai Yezov (1895-1940), o maior dirigente da repressão (Yezhovshchina) e do NKVD entre 1936 e 1938, desaparece fotograficamente da intimidade dos maiores dirigentes soviéticos da época (**).
Mas, para quem julgue que essas foram práticas excessivas do «modelo» mas apenas dos tempos de Estaline de há 70 anos ou mais, cerca de 25 anos depois, e já em plena década de 1960, ainda as podemos ver a continuar a ser aplicadas nas duas fotografias dos seis cosmonautas iniciais do programa espacial soviético, de onde desaparece Grigori Nelyubov (1934-1966), que foi expulso do programa em 1963…
E na eventualidade de Vítor Dias vir a realçar que Nelyubov já desapareceu há 46 anos, isso é apenas um exemplo de como, nas mãos de um bom marxista-leninista, até o tempo pode ser dialéctico… É que aquele desaparecimento é até um pouco mais recente (1963) que outros episódios épicos que no PCP se evocam continuamente, como a fuga de Peniche (1960) ou o assassinato de José Dias Coelho (1961)…
(*) – Os acontecimentos de 1 de Maio envolvendo Vital Moreira.
(**) – Da esquerda para a direita: Voroshilov, Molotov, Estaline e... Yezov - mas só na versão original.

12 comentários:

  1. É pá. E se calhar até ainda nem tinham editores de imagem! Olha só a trabalheira. Era por isso que os mandavam para a Sibéria. Era muito menos trabalhoso.

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  2. Já para não falar na revolta da Marinha Grande (anos 30), de inspiração e organização anarquista, várias vezes referida como grande iniciativa do PC. Ou da Guerra Civil Espanhola, onde historiadores modernos atribuem como decisiva para a vitória das tropas franquistas o comportamento do PC espanhol na fase final. Já para não falar da forma como o Comité Central foi corrido pelo grupo de Álvaro Cunhal (todos estreantes estagiários no Tarrafal); já para não falar da forma ignominiosa como vão "depenicando" os diversos factos históricos ao sabor da conjuntura ( em 1921, p.ex. eram favoráveis à ideia de Império Colonial no nosso país) Tudo isto está escrito e documentado. Só não abre a pestana quem confunde a Coreia do Norte com uma Democracia.

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  3. Má-fé e parvoíce - eis o que ressalta deste post.
    Quando eu escrevi que «uns tem a fama» esse «uns» eram os comunistas portugueses que também apanhavam pelos apagamentos de fotos feitas pelos soviéticos (ou outros) várias décadas atrás.

    Por outro lado, o que pretende provar com o link sobre a fuga de Peniche? ui lá e o que encontrei foi isto : «A 3 de Janeiro de 1960, pela sua complexidade, importância política e papel na vida do Partido, teve lugar uma das mais importantes fugas de toda a história do fascismo, recuperando para a luta um importante e destacado número de quadros do Partido: Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Miguel, Francisco Martins Rodrigues (este mais tarde afastado do Partido), Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho».

    Explique lá onde está aqui qualquer apagamento.

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  4. Se os apagados não se colocassem em posições periféricas, e não havendo photoshop, podiam ter sobrevido nas imagens. Mas num caso e noutro foram logo posicionar-se nos sítios onde ninguém dava pela sua falta...
    Em suma, estavam mesmo a pedir para serem apagados... Até por uma questão estética...

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  5. Os outros comentadores que me desculpem, mas gostaria de começar por responder ao Vítor Dias, autor da citação inicial deste poste e que começa por me acusar de “má-fé e parvoíce”… Porque, segundo se depreende, a sua referência à “fama de rasura de imagens feitas há 70 anos ou mais” terá sido feita com a maior boa-fé???...

    É verdade que não se conhecem fotografias onde os comunistas portugueses, essas vítimas de calúnias, que nunca tiveram qualquer relação com os camaradas soviéticos, tenham “rasurado” o seu passado fotográfico.

    Mas, se o Vítor Dias consultou – como demonstrou depois – os links que adicionei ao poste, há lá um (o do fim do primeiro parágrafo) que remete para o site do seu partido com uma “breve história dos congressos”.

    Na redacção que acompanha a síntese de cada um deles menciona-se sempre um nome:

    No I Congresso (1923) o nome mencionado é o de José Carlos Rates.
    No II Congresso (1926) o nome mencionado é o de Bento Gonçalves
    No III Congresso (1943) o nome mencionado é o de Álvaro Cunhal.
    No IV Congresso (1946) ninguém é mencionado.
    No V Congresso (1957) novamente ninguém é mencionado.
    No VI Congresso (1965) o nome mencionado volta a ser o de Álvaro Cunhal…

    Penso que é dispensável perguntar-lhe se sabe quem foi Júlio Fogaça e isto é o que de mais parecido há com “duas sombras na fotografia”… Como suponho que só se “encontrarão sombras” nos sites do PCP se se pesquisarem nomes do passado do partido como Zita Seabra ou Vital Moreira…

    Quanto à dúvida que coloca no último parágrafo do seu comentário, desculpe, mas é obtusa. Tenho-o em muito melhor conta intelectual…

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  6. Oh Donagata, como ainda não havia de facto editores de imagem, pode considerar-se que há algo de artístico naquelas versões "rejuvenescidas", embora, em vez de "falsificações artísticas", devamos falar de "falsificações históricas".

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  7. Quase parece desconversar, Artur, a forma como os comunistas se costumam vitimizar das "acusações" sobre aquilo que não fizeram, mas também porque não tiveram oportunidade de o fazer.

    Tipicamente, em Portugal não os podemos acusar de promover purgas, mas os comunistas também nunca estiveram tempo suficiente no poder para as levar a cabo. E, mesmo assim, convém não esquecer as listas de saneamento do PREC...

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  8. Há ainda quem se lembre, tipo calado, que cair em desgraça na URSS podia ter "consequências estéticas" gravosas.

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  9. Eu já sabia que consigo, não adianta. Linhas e linhas e não me respondeu onde é que estava o apagamento no texto para que linkou a respeito da fuga de Peniche.
    Não se rale que esta pergunta ou dúvida seja obtusa. Por uma vez, desça do seu superior pedastal e explique aos obtusos qual é o apagamento feito nesse texto sobre a tal fuga !

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  10. As “linhas e linhas” destinaram-se a dar-lhe um exemplo, apenas um exemplo, como, ao contrário do que defendeu, os comunistas portugueses, sem rasurar “fisicamente” as fotografias, mesmo actualmente, ainda “retocam” o seu passado, removendo dele os indesejáveis, os “Yezovs”… Confesso que com as fotografias é mais fácil de postar: publicam-se as duas e é tão flagrante que quase nem é preciso explicações adicionais… De outro modo, tem que se explicar… conhece outro método?

    Confesso-lhe que fico desapontado ao insistir no “apagamento” da fuga de Peniche. Mas não é preciso descer do meu “superior pedastal” que nunca lá estive, esse está reservado para aquele a quem se atribui o lema “aprender, aprender sempre!” E regressemos à sua frase que citei:

    (…) “uns têm a fama de rasura de imagens feitas para aí há 70 anos ou mais e outros têm o proveito de fazer algo similar hoje”.

    Uma das formas escolhidas por Vítor Dias para minimizar as “rasuras” foi falar da sua antiguidade – “há 70 anos ou mais”. Antes que repetisse o mesmo tipo de argumento com os 46 anos do desaparecimento de cosmonauta, lembrei-me de comparar a antiguidade com a de acontecimentos míticos da história do PCP – a fuga de Peniche e o assassinato de José Dias Coelho, que até são mais antigos.

    Não faz assim qualquer sentido que o Vítor Dias tenha associado a fuga de Peniche a qualquer “apagamento”. Muito menos – nem sequer fará sentido! – o assassinato de José Dias Coelho. Os links destinam-se a demonstrar aos leitores – o Herdeiro de Aécio não é só lido por militantes comunistas! – quanto aqueles acontecimentos ainda são evocados na actualidade.

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  11. O que me tira do sério nos comunistas ortodoxos é a maneira airosa como se afastam de erros cometidos no passado, como se nada tivessem a ver com isso. Nada assumem de errado, nada fizeram que não fôsse em nome do povo e para ele. Em termos filosóficos há uma explicação bastante simples para isso. Reside ela em apresentar uma ideologia e praticar uma religião. Com dogmas, santos e mártires sem espaço para a dúvida ou para a assunção do erro. Até a mais directa rival na hipocrisia, a Igreja Católica, já resolveu assumir que errou com o Galileu, com o massacre dos judeus.Mas os comunistas não. Talvez daqui a mais uns séculos.

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  12. Nem tudo é assim tão mau, Artur.

    É de destacar a atitude de Vítor Dias ao não ter mostrado quaisquer dúvidas ou surpresas sobre quem foi Júlio Fogaça e o seu apagamento da história do PCP. Pelos vistos deve saber de quem se trata...

    Agora o Vítor Dias reconhecer que aquilo que lhe fizeram foi algo de perfeitamente indecente é que é outra coisa... que aliás são as contradições absurdas que eu considero que dão todo o "charme" àquela ideologia.

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