Descobri num blogue esta interessante capa de uma revista que terá sido publicada na Primavera de 1975 e onde se imagina se poderiam ler uns rudimentos de explicações sobre o próximo acto eleitoral que se aproximava, a eleição da Assembleia Constituinte. Típico do ambiente de PREC, se naquela capa todos os partidos eram iguais, havia logo uns que eram mais iguais que os outros, note-se o destaque da localização dada aos símbolos do PS e do PCP… O exercício que se segue não é original, mas é sempre engraçado. Associam-se àqueles símbolos os que então eram seus militantes e simpatizantes embora apresentando-os como figuras actuais. Não fui exaustivo para os partidos que então concorreram, mas fi-lo em oito casos, mostrando não onde, mas com quem eles estavam no 25 de Abril, mas de 1975, que foi dia de eleições seguido de uma longuíssimo Sábado de escrutínio de todos os resultados…
Por causa da opacidade associada a este seu período político, é com alguma reserva que inscrevo aqui José Pacheco Pereira a torcer pela FEC (M-L). De qualquer modo, sempre é um pormenor irrelevante para quem não atribuíria então qualquer valor às eleições burguesas...
Quanto ao jovem António Vitorino, que acabara então de fazer 18 anos, parece que – coisas da imaturidade... – se deixara entusiasmar com a facção de Manuel Serra que abandonara o Partido Socialista na sequência do seu 1º Congresso para constituir esta organização sem futuro...
Ferreira Fernandes, que é hoje o cronista representante do senso comum no Diário de Notícias, adoptara os pensamentos daquele que era o revolucionário mais insensato de todos os bolcheviques, Trostsky. Não contente com a Rússia, queria logo passar à Revolução Mundial…
Quanto ao jovem António Vitorino, que acabara então de fazer 18 anos, parece que – coisas da imaturidade... – se deixara entusiasmar com a facção de Manuel Serra que abandonara o Partido Socialista na sequência do seu 1º Congresso para constituir esta organização sem futuro...
Ferreira Fernandes, que é hoje o cronista representante do senso comum no Diário de Notícias, adoptara os pensamentos daquele que era o revolucionário mais insensato de todos os bolcheviques, Trostsky. Não contente com a Rússia, queria logo passar à Revolução Mundial…
Confesso que, naquela cacofonia, não se prestava particular atenção ao que os do MES diziam mas o slogan deles (Lutar! Criar! Poder Popular!) não tem nenhum aspecto de ser dito em tom apelante, aquilo que o presidente Jorge Sampaio tornou na sua imagem de marca: o apelo…
Vital Moreira era então uma espécie de puto prodígio, mas numa organização destinada a só reconhecer um prodígio (Álvaro Cunhal) e onde os putos tendiam a envelhecer precocemente: lembrem-se da Zita Seabra de então e confiram com o Bernardino Soares da actualidade...
José Sócrates ainda não pôde votar nessas eleições (só viria a completar os 18 anos em Setembro), mas a biografia do primeiro-ministro, mesmo com os retoques académicos conhecidos, e fazendo-o quase de raspão, faz dele um membro da JSD da Covilhã nessa época.
Ao contrário dos restantes desta lista, Medeiros Ferreira pertence ao mesmo partido que então pertencia. Mas também é a prova que uma carreira política pode ser feita de oscilações sinusoidais, desde a participação na AD de Sá Carneiro até à passagem pelo PRD de Eanes.
Curioso e interessante texto sobre alguns dos mais badalados funâmbulos da nossa praça.
ResponderEliminarImagine só se perguntasse a muitas figuras que ainda por aí andam onde estavam no 23 de Abril de 1974 e onde estão agora.
Apenas umas breves notas:
1)Imperdoável a omissão do ex-camarada Abel, actual presidente da CE
2)Despicienda e inapropriada a referência a Álvaro Cunhal que, quer o A. Teixeira queira ou não, e, quer se goste ou não, nada tem a ver com os outros personagens.
3)Operário "a sério"!? O que é isso? Não entendo. Talvez porque me revejo muito nos operários Brechtiano, de Vinicius e de Chico Buarque, que obviamente são muito mais importantes que os intelectuais "a brincar" que figuram no seu poste.
Boa semana
Apenas uns comentários às suas notas:
ResponderEliminarHaverá omissões que serão imperdoáveis, esta foi deliberada. É que o MRPP, tal como mais outros dois partidos, foram proibidos de se apresentar às eleições de 25 de Abril de 1975… Podia ser gozado, mas não teria sentido escolher um dos seus militantes de então para o incluir nesta lista…
Foi justíssima esta minha referência ao carácter hagiográfico da pessoa e figura de Cunhal dentro do PCP e essa justiça até mais se reforça com o seu comentário, defendo-o de uma “agressão” que nem lhe foi feita. Esse zelo, que não é só seu JRD, ainda me faz mais acreditar que pode haver outras maneiras de “santificar” portugueses, para além do Papa os proclamar como tal na Praça de São Pedro em Roma.
Usei a expressão “operário a sério” – Américo Duarte – por oposição á de “operário a fingir”, referindo-me àqueles que são classificados como “operários” para que se mantenha a “regra de ouro” da maioria operária nos organismos políticos centrais de partidos como o PCP. O exemplo mais flagrante da actualidade é o do “afinador de máquinas” – Jerónimo de Sousa – que o ocupa o cargo de secretário-geral do Partido e que há uns 30 anos que não deve afinar máquina nenhuma...
Boa Semana para si também
Em jeito de tréplica apenas adianto, sujeito a correcção, que o MRPP não terá sido autorizado a apresentar-se às eleições, porque à data, o (depois) Centrão precisava de todos esses votos...
ResponderEliminarReconheço os homens não os santos, quer estejam ou não no altar.
Quanto ao resto, Meu caro, cada um tem os seus fantasmas. O meu é o da ópera.
A decisão de não permitir a participação de 3 partidos nas eleições constituintes (AOC, PDC e MRPP) foi do Conselho da Revolução, tomada a 17 de Março de 1975.
ResponderEliminarConotar o Conselho da Revolução em Março de 1975, aquele que nacionalizou a Banca, os Seguros, etc., com um "precoce Centrão" não me parece ser lá muito rigoroso JRD...
Tenho que lhe agradecer pois, a propósito da conversa sobre hagiografia que estamos a ter, lembrei-me de dois interessantes postes sobre o PREC e sobre "santos", mas dos de esquerda, daqueles que não são proclamados pelo Papa.
A. Teixeira,
ResponderEliminarNão me fiz entender. Mas não creio que tenha dúvidas, acerca das opções (alternativas)de voto da maioria esmagadora dos "emeerres" basta constatar por onde eles andam.
Aliás, eles sabiam o que faziam, ou alguém por eles.
Eu creio que o entendi, JRD. E, ao contrário do que escreve, tenho muitas dúvidas que os militantes do MRPP de então, como Durão Barroso, Ana Gomes ou Fernando Rosas, não tenham adoptado a posição oficial do partido que era, recorde-se, um “Boicote activo à farsa eleitoral”. Ou seja, não votaram.
ResponderEliminarPode admitir que não o fizeram porque, como diz, “basta constatar por onde eles andam”. Mas se for por aí, então também acha que Vital Moreira votou no PS em vez de no PCP e que Jorge Sampaio também votou no PS em vez de no MES? Ou estes dois são diferentes dos outros três?
(Peço desculpa mas tive que anular o comentário porque estava truncado)
ResponderEliminarA. Teixeira,
Três, ainda por cima muito diferentes entre si, não são a maioria esmagadora.
A minha intenção era mesmo "situar" os emeerres, que se virmos bem são o que sempre foram,leia-se pretenderam, apenas estão menos ruidosos.
As comparações do último parágrafo são excessivas, convém não ser redutor.
O PCP é de esquerda, o MES foi de esquerda, o MRPP não sei de onde foi, mas nunca dei por ele na esquerda, apesar do barulho.
E, mesmo agora, se quiser encontrá-lo, se calhar só no Gambrinus, mesmo em tempo de crise...
Post muito oportuno. Mas deixou-me com uma dúvida: é que eu tinha ideia que o António Vitorino era do MES, isto recordando-me da autobiografia de César Oliveira, mas posso estar a confundir com a UEDs (partido que se diluiu mais tarde no PS).
ResponderEliminarCá tinha as minhas certezas, mas consigo nunca se sabe, João Pedro, por isso fui mesmo verificar a Os Anos Decisivos e... trata-se mesmo da UEDS, que é outra dissidência de esquerda do PS, mas já posterior ao PREC e cujo protagonista principal foi Lopes Cardoso.
ResponderEliminarEsta dissidência da FSP ocorreu muito mais cedo e, ao contrário da UEDS, não houve "retorno". Chegaram a ser usados pelos comunistas, conjuntamente com o MDP/CDE, no papel de "outros democratas" para a constituição da FEPU em 1976, mas creio que o grupo se esfarelou. Como disse no poste, uma ingenuidade juvenil do sempre "sagaz" António Vitorino...