26 maio 2009

NINGUÉM SEGURAVA AQUELE BRASIL…

Acima podemos ver a capa de um exemplar do Almanaque de Selecções brasileiro do ano de 1971. As fotografias que aparecem na capa são simbólicas do fervor desenvolvimentista que caracterizava o regime militar que, desde 1964, ocupava o poder no Brasil e cuja figura de proa era, naquela altura, o General Emílio Médici, presidente entre 1969 e 1974.
Prestes a atingir os 100 milhões de habitantes e com taxas de crescimento económico rondando os 10% anuais, tendo-se sagrado tricampeão do Mundo em futebol (1970), pareceu que não havia nada que pudesse travar o optimismo e a arrogância do regime dos generais, exemplificados nos slogans Ninguém segura esse Brasil! ou Brasil, Ame-o ou Deixe-o.
Escrito em 1970 para o ano seguinte, o Almanaque está recheado de exemplos dessa espécie de embriaguez, como o da apresentação das cinco grandes regiões brasileiras (abaixo) onde, a par das descrições das realidades geográficas, se juntavam cenários futuristas sobre as respectivas capacidades de cada região em albergar o previsível e desejável aumento populacional.
No total, os geógrafos brasileiros asseguravam poder acomodar o sêxtuplo da população brasileira da época: 578 milhões no lugar onde viviam então 97! Só que, vistos em pormenor, os cálculos levantavam questões: na Grande Região Norte calculavam-se 215 milhões de habitantes em vez dos 3,5 existentes, mas nada se dizia sobre qual seria o impacto ambiental disso…

Todo aquele optimismo durou até ao choque petrolífero que abalou todas as economias mundiais no Outono de 1973. Em Março de 1974, Médici foi substituído na presidência por Geisel. No Campeonato Mundial de Futebol desse ano, o Brasil ficou apenas em 4º lugar… Ficou a nostalgia da época e a Amazónia é hoje habitada por 15 milhões de habitantes. Ainda ficou espaço para mais 200…

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