05 maio 2009

AINDA A RESPEITO DO 25 DE ABRIL – 3

No seguimento do Golpe de 25 de Abril, Álvaro Cunhal regressou a Portugal três dias depois, vindo de Paris num avião da Air France. Naquela altura era o líder da mais importante organização de oposição ao regime que fora derrubado e a sua chegada foi um acontecimento. Ainda hoje parece sobreviver uma polémica entre os seus fiéis e os ex-fiéis, questionando se Cunhal não terá tentado copiar o Lenine de 1917 ao dispor-se a discursar em cima de uma viatura blindada à saída do aeroporto. Muito possivelmente, terá sido circunstancial como afirmam os fiéis, mas considero a questão desinteressante, ao contrário de uma reportagem da RTP sobre a sua chegada que, creio, terá sobrevivido até à actualidade.
Essa reportagem televisiva, para além da multidão sempre incógnita, está repleta de rostos que eram então desconhecidos em televisão – a começar pelo do próprio Álvaro Cunhal… – mas que estavam destinados a tornarem-se reconhecíveis num futuro próximo: era o caso de Domingos Abrantes (acima), um dos acompanhantes de Cunhal (ver a fotografia inicial, ao centro); e era o caso do repórter da RTP que o terá entrevistado no aeroporto, que, poderia jurar, seria Luís Pereira de Sousa (mais abaixo). Mas o mais interessante foi a própria entrevista, improvisada como quase tudo o era por aquela época, e onde tanto entrevistado como entrevistador davam mostras evidentes da sua falta de à vontade diante das câmaras.
Mas o mais memorável da entrevista é um breve momento em que, em resposta a uma pergunta que já não recordo e que nem me pareceu importante, Cunhal responde, de uma forma breve e seca, numa antipatia contrastante com o entusiasmo que transbordava à sua volta: – A essa pergunta não respondo… Deve ter sido a primeira e única vez que o ouvi assumir que não respondia a uma pergunta. Posteriormente, tornou-se evidente que houve uma formação dos quadros do PCP para os preparar para responder convenientemente às perguntas que lhes fossem colocadas pela comunicação social: a famosa cassete. Ora Cunhal, ainda sem usar a cassete, é um momento histórico. Também nisto, não deixem apagar a memória!...

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