14 dezembro 2005

A WHITER SHADE OF PALE


A imortal canção dos Procol Harum ganhou uma notoriedade macabra quando se soube que os membros do grupo terrorista alemão Baader-Meinhof a punham a tocar, como forma de relaxe, antes de desencadearem as suas operações.

A continuação dessas operações e o consequente fim dos Baader-Meinhof vieram demonstrar, na década de 70, até onde pode ir o poder do aparelho de estado quando se liberta das inibições, mesmo quando esse estado é uma democracia.

Os membros do grupo que estavam em liberdade raptaram o dirigente máximo do patronato alemão para o negociarem contra a libertação dos líderes do grupo, que tinham sido presos. Perante a recusa em negociações, o refém foi executado e, no seguimento, os líderes do grupo terrorista suicidaram-se todos na prisão…

A oportunidade e a coincidência daquele suicídio múltiplo nunca foram seriamente questionadas, até hoje, e os restantes membros do grupo habituaram-se à ideia de não poderem esperar quartel por parte das autoridades alemãs. A ausência de interesse manifestada por parte da opinião pública alemã apenas faz aflorar casos anteriores, como Dachau ou Treblinka, mas existem episódios muito similares que se podem encontrar em Espanha, na história da luta contra a ETA, ou no Reino Unido, na da luta contra o IRA.

Existe, por isso, uma boa dose de hipocrisia quando os governos europeus se mostram indignados com os voos da CIA e com o transporte de prisioneiros de um lado para outro. O exemplo usado, na Alemanha, demonstra que, pontualmente, com sentido de timing e com o apoio emocional da opinião pública se conseguem ultrapassar todos os limites daquilo que é judicialmente permitido. Muitos governos europeus sabem-no e fizeram-no; o resto é teatro…

Se calhar, todo o problema dos aviões da CIA pode ser sintetizado numa frase latina, velha como a História: Vae victis (Ai dos vencidos)! Afinal, nestas operações secretas e normalmente sórdidas só o sucesso é que pode desculpar tudo. Ninguém gosta daqueles que deram (ou estão a dar) barraca. Foi o que aconteceu aos serviços secretos franceses na Nova Zelândia(*) e é isso mesmo que parece estar a acontecer com os americanos e a sua guerra ao terrorismo
 

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