07 dezembro 2005

EXPRIMIDO…

O jornal EXPRESSO é uma instituição nacional, nossa, exclusivamente portuguesa, das que se enraizou mais profundamente na alma lusitana. Torna-se mais difícil de traduzir EXPRESSO para qualquer outro idioma do que a palavra saudade, por exemplo.

Como se pode explicar a um espanhol o prazer que se retira de andar com um saco de plástico na mão, ao Sábado, a demonstrar à vizinhança que fazemos parte da elite informada deste país? Um espanhol, em geral foleiro*, passeia-se, não passeia um mísero saco de plástico.

E então os contributos que o EXPRESSO trouxe à língua portuguesa? Locuções como a já citada, passear o EXPRESSO, como sinónimo de ignorância pretensiosa, crítica de cinema de EXPRESSO, como texto elaboradíssimo e ininteligível sem quaisquer pretensões de esclarecimento do leitor, ou ainda, director de EXPRESSO, como alguém que não sofre, decididamente, de problemas de auto-estima, são preciosidades para a formação do português moderno, um dos nossos grandes patrimónios, na opinião do candidato Manuel Alegre.

É por isso que, apesar do apreço que tenho por aquele jornal, como aqui demonstrei, é com algum embaraço que confesso que já há alguns (largos) meses deixei de comprar religiosamente o símbolo da minha cidadania empenhada. Em primeiro lugar porque é muito caro para aquilo que trás para ler, em segundo lugar porque é muito pesado para aquilo que trás para ler, em terceiro lugar porque a maioria do que trás para ler nem sequer é legível.

Sobretudo irrita-me a presunção de muitos que comentam qualquer notícia (normalmente falsa) que tenha vindo no EXPRESSO de Sábado não perguntarem sequer se os interlocutores a leram, partindo da certeza que toda a gente tem de ler o EXPRESSO. Até parece que, ao Sábado, o EXPRESSO é como o olho do cu: toda a gente tem um…

* Para quem tem TV Cabo, preste atenção como as emissões da TVE Internacional têm uma cromia típica, mais garrida do que o normal.

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