É um lugar comum, bem conhecido, afirmar que a distância que medeia entre ingleses e franceses é muito maior do que a distância física do Canal da Mancha. Também é perceptível que, tanto dum lado como doutro, se capricha em acentuar essas diferenças.
A verdadeira poluição sonora ininteligível composta por um inglês a falar francês só é irmanada pela de um francês a falar inglês*. E todas as acusações recíprocas têm normalmente fundamento, e é por isso que não se refutam, contra atacam-se com uma outra acusação. Se os franceses se levam demasiado a sério e não têm espírito de humor, os ingleses não se sabem vestir nem comer. E assim sucessivamente...
É sobre mais um episódio, pequeno, da interminável rivalidade, digo amizade, anglo-francesa que incide este post. Para dar razão aos franceses. Os seus amigos deram em roubar um dos ícones da ficção francófona – o Comissário Maigret – para produzirem uma série de episódios de TV com o título de Inspector Maigret!
Ora Maigret, embora criado por um belga, é a verdadeira encarnação da raison d´être francesa: está sempre a emborcar uma bebida alcoólica qualquer (not in a pub!), molha o pão no café com leite do pequeno-almoço (disgusting!), sacode a cinza do cachimbo no tacão do sapato (he´s not a gentleman!). Que verosimilhança querem que aquele Maigret das terras de Sua Majestade tenha?
Depois, como a designação correspondente à de Comissário na polícia britânica é a de Superintendente, optou-se por rebaixar Maigret ao cargo de inspector, o que inaceitável na república mais aristocrática da Europa, onde a designação do cargo que se ocupa é fundamental – note-se como até nós já tivemos, por exemplo, o ministério da igualdade!
Em suma, os britânicos fizeram algo que até agora só os norte-americanos ousavam fazer: assassinar a história e as características nacionais alheias em obras de ficção. E fizeram-no sem provocação, não consta que os franceses tenham inventado alguma série com Miss Marple nas idílicas paisagens da Bretanha ou da Borgonha, nem levado Sherlock Holmes a investigar o submundo de Marselha.
Contudo, se estas forem as tendências do futuro, modernas, na União Europeia, então preparemo-nos para uma próxima série ficcional polaca com Vasco da Gama na Índia ou, já agora, aventuremo-nos, loirinhos como somos, para fazermos uma série sobre a saga da expansão viking…
*A Bomba H do assassinato de idioma alheio pertence aos castelhanos quando falam inglês, mas existe uma justificação histórica para isso: é porque andam, há mais de 400 anos, a vingarem-se da derrota da Invencível Armada de 1588.
A verdadeira poluição sonora ininteligível composta por um inglês a falar francês só é irmanada pela de um francês a falar inglês*. E todas as acusações recíprocas têm normalmente fundamento, e é por isso que não se refutam, contra atacam-se com uma outra acusação. Se os franceses se levam demasiado a sério e não têm espírito de humor, os ingleses não se sabem vestir nem comer. E assim sucessivamente...
É sobre mais um episódio, pequeno, da interminável rivalidade, digo amizade, anglo-francesa que incide este post. Para dar razão aos franceses. Os seus amigos deram em roubar um dos ícones da ficção francófona – o Comissário Maigret – para produzirem uma série de episódios de TV com o título de Inspector Maigret!
Ora Maigret, embora criado por um belga, é a verdadeira encarnação da raison d´être francesa: está sempre a emborcar uma bebida alcoólica qualquer (not in a pub!), molha o pão no café com leite do pequeno-almoço (disgusting!), sacode a cinza do cachimbo no tacão do sapato (he´s not a gentleman!). Que verosimilhança querem que aquele Maigret das terras de Sua Majestade tenha?
Depois, como a designação correspondente à de Comissário na polícia britânica é a de Superintendente, optou-se por rebaixar Maigret ao cargo de inspector, o que inaceitável na república mais aristocrática da Europa, onde a designação do cargo que se ocupa é fundamental – note-se como até nós já tivemos, por exemplo, o ministério da igualdade!
Em suma, os britânicos fizeram algo que até agora só os norte-americanos ousavam fazer: assassinar a história e as características nacionais alheias em obras de ficção. E fizeram-no sem provocação, não consta que os franceses tenham inventado alguma série com Miss Marple nas idílicas paisagens da Bretanha ou da Borgonha, nem levado Sherlock Holmes a investigar o submundo de Marselha.
Contudo, se estas forem as tendências do futuro, modernas, na União Europeia, então preparemo-nos para uma próxima série ficcional polaca com Vasco da Gama na Índia ou, já agora, aventuremo-nos, loirinhos como somos, para fazermos uma série sobre a saga da expansão viking…
*A Bomba H do assassinato de idioma alheio pertence aos castelhanos quando falam inglês, mas existe uma justificação histórica para isso: é porque andam, há mais de 400 anos, a vingarem-se da derrota da Invencível Armada de 1588.
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