16 dezembro 2005

READ MY LIPS: NO NEW TAXES!!*

O pai Bush, quando concorreu pela primeira vez à presidência dos Estados Unidos, em 1988, tinha uma espécie de número de circo, aparentemente muito eficaz para a captação de votos. Virava-se para a audiência e declamava:
- Read my lips: No new taxes!! * Se o efeito em campanha daquela declaração foi fragoroso e contribuiu para a sua eleição, infelizmente para Bush, houve a necessidade da sua administração aumentar os impostos, ao arrepio da famosa promessa eleitoral, para colmatar os deficits herdados da administração Reagan. Ficou para ver qual seria o impacto que a quebra de uma tal promessa num assunto tão sensível na sociedade norte-americana teria nas possibilidades de reeleição de Bush. Afinal, ninguém leva a sério as promessas feitas em tempo de campanha, mas há quem defenda que ainda existem áreas restritas à mentira descarada. Os assuntos fiscais seriam uma dessas áreas especiais junto do eleitorado norte-americano. Os defensores dessa teoria marcaram pontos quando Bush pai, apesar de ter ganho a primeira Guerra do Golfo, foi derrotado nas eleições de 1992 por Bill Clinton. Houve muitas outras justificações para a vitória deste, mas ficou sempre no ar um travo a justiça poética que castigava um mentiroso descarado. Toda esta história serve-nos para enquadrar o dilema do eleitorado português perante as atitudes de Mário Soares, que se despediu em 95, assegurando que não voltaria à política activa, que se elegeu para o parlamento europeu em 99, na última eleição que disputava, que em 2004 proclamava o famoso basta! às solicitações para que regressasse à política. Os cenários pré-eleitorais destas presidenciais parecem mostrar, entre outras coisas, uma antipatia profunda por Cavaco Silva da parte de um certo fracção do eleitorado, o que não constitui novidade, mas também uma outra antipatia profunda por Mário Soares de uma outra fracção do eleitorado – quiçá maior que a anterior. Da parte de alguém que se reelegeu em 1991 com 70% dos votos e que deixou saudades no exercício do cargo, só uma explicação deste cariz pode justificar os resultados que as sondagens vão mostrando. Será que desta vez os eleitores deram em ler os lábios de Soares: Basta! Basta!?
*Leiam os meus lábios: Não há novos impostos!!

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