Se bem me lembro… era um programa que passava na RTP única no início dos anos 70, protagonizado pelo professor Vitorino Nemésio. Se bem me lembro, uma das dúvidas da minha infância geradas pela sua existência era a de saber se gostaria ou não de cultura, pois sendo o programa um dos expoentes da sua difusão, tinha imensas dificuldades para compreender o que o professor dizia.
Nem era somente uma questão vocabular, era também o sotaque carregadíssimo de Vitorino Nemésio, a que se acrescentavam as modulações na voz, que tão depressa se aceleravam como bruscamente desembocavam em consoantes e vogais mudas, enfim um universo aberto à especulação de qual seria o tema do programa.
Pode ter sido talvez por isso que o professor se deixou substituir por uma aluna sua num dos programas, em que se procedeu à leitura de parte da sua obra poética. Além de evidentes benefícios para a inteligiblidade do programa, da pose pouco ortodoxa - para a época - do autor, que recostado na cadeira e de olhos fechados escutava os seus poemas, aprendi naquele dia que aquela poesia moderna não precisava nem de rima nem de métrica. Uma novidade!
Infelizmente, no programa seguinte tinha-se voltado ao figurino original: o professor falava e nós que tentássemos descobrir o que é que ele estava para ali a dizer... Recentemente a RTP Memória repôs alguns dos saudosos programas do professor. Ultrapassada em muito a infância, diminuída a insegurança, foi reconfortante redescobrir que continuo a não compreender quase nada do que o professor dizia.
É desagradável estragar alguns mitos dos saudosistas mas se aquilo era difusão e popularização da cultura, eu vou ali e já volto…
É desagradável estragar alguns mitos dos saudosistas mas se aquilo era difusão e popularização da cultura, eu vou ali e já volto…
Nem sei se é isso - infelicidade.
ResponderEliminarReconforta-me é descobrir que continuo a concordar com o meu instinto de infância.