22 dezembro 2005

OLÁ CAMBADA!

Foi o saudoso José Estebes, da época em que Hermann José era mais pobre e se aplicava a ter piada, que deu popularidade à palavra substrato, que empregava amiúde como um qualificativo abonatório. Qualquer coisa com substrato era positivo, primeiro porque soava bem, depois… porque soava bem. Há expressões que funcionam assim, soam bem. O que são, não interessa: soam bem.

Atente-se a esta: pacto de regime. Pronunciem-na e escutem-na a ver o bem que soa… Confesso que sempre a abominei, tanto a expressão, como o racional que pretende justificar os pactos de regime.

Não se pode negar que existem tópicos sobre os quais se manifesta a concordância de uma massa crítica do pensamento político. Nas relações exteriores, por exemplo. Mas esses existem por si, independente dos formalismos de um pacto e muito menos dos apelos de um dos actores da disputa política para que uma tal coisa exista.

Só que na maioria das vezes os apelos para um desses pactos tornam-se ridículos e, se implementados, tais acordos até tenderiam a não ser democráticos.

Ridículos porque correntemente confundem, na justificação para a sua criação, a unanimidade no diagnóstico dos problemas com a concordância quanto às soluções a aplicar para a sua resolução.

São também ridículos porque esquecem ou escondem que os tais pactos de regime tendem a ter que ser firmados primeiro dentro das fronteiras do partido; dentro dele, seja ele o PS ou o PSD, existem sempre correntes que pensam assim e as outras que pensam precisamente o seu contrário sobre a resolução do mesmo problema. Ou seja, frequentemente as diferenças de opinião sobre um determinado problema são transversais aos partidos.

Finalmente, ao retirá-los da discussão (no altar do tal pacto) retira-se ao eleitor a possibilidade de avaliação de propostas alternativas nas diversas áreas sectoriais no que é um dos verdadeiros benefícios da democracia – a liberdade de escolha.

Na prática, tem-se apelado para eles quando o partido no poder instalou o seu clã à frente das estruturas administrativas de poder de um determinado sector e acena com esse gesto patriótico ao partido da oposição, para tentar evitar o incómodo posterior de serem apeados quando a roda da fortuna política girar.

Por detrás de uma expressão com um tal substrato, está uma substância parecida com a do arroto que o Estebes mandava cada vez que bebia a sua pomada...

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