Esta semana António Costa deu uma entrevista à SIC. E o entrevistador foi José Gomes Ferreira, prosseguindo uma tradição a que aquela estação nos habituou. O problema para a SIC é que, como pode acontecer com os combates de boxe quando eles se repetem e com resultados consistentemente a favor de um dos contendores, o histórico dos matches anteriores afecta o interesse pelo embate (e o consequente volume das apostas... mas isso aqui não interessa nada). Quando apanhamos o primeiro ministro com aquela expressão falsamente simpática na imagem acima, está ele apenas a reavivar as cicatrizes que deixara no entrevistador em embates prévios:
- (...) mas, para já, fico muito satisfeito com uma coisa:
- O quê?
- Há três anos atrás, o que (o José Gomes Ferreira) anunciava é que vinha aí uma enorme tormenta, porque regressavam os terríveis socialistas, que iam fazer obras públicas ao disparate, iam arruinar e endividar o país, com as obras públicas todas... Vejo que agora, três anos depois, está bastante mais sereno, quanto a este receio...
- (falando por cima) Não estou, mas também estou a fazer eco de quem acha que não há obra...
- ...e pelo contrário, crítica a ausência de obra. Eu registo e fico satisfeito (...).
Veja-se a cena nesta ligação. A pergunta que aparece em rodapé, sobre os investimentos ferroviários, até parece assaz pertinente e a resposta não se afigurará fácil, só que o histórico do entrevistador a martelar gráficos e a arriscar-se a fazer profecias catastrofistas que depois não se concretizaram permitiram a António Costa deflectir o problema para o antagonista. Obviamente que o momento não se conta entre os sete momentos seleccionados pela SIC para destacar a entrevista concedida pelo primeiro ministro...
Este é o problema do jornalismo espectáculo praticado pelas televisões, em que o entrevistador se crê um parceiro em pé de igualdade com o entrevistado. É um estilo que nem sei se vingará a curto prazo como elas, televisões, pretenderão. Mas, no longo prazo, de forma geral, mas mais especificamente neste caso, e enquanto António Costa ocupar o cargo de primeiro ministro, a pessoa de José Gomes Ferreira como jornalista político tem tanta utilidade para a SIC como uma Gillette romba ou uma BIC sem tinta... O jornalismo espectáculo produz jornalistas descartáveis.
De facto, nesta altura do campeonato escolher JGF como entrevistador de A. Costa é uma rematada tolice, atento o histórico entre ambos. Mas, como diz o outro, a SIC é que sabe.
ResponderEliminarPois eu gostaria que, em vez de Gomes Ferreira, a SIC usasse um entrevistador com a agilidade mental suficiente para não aceitar as respostas de António Costa apenas porque este último o deixou previamente KO.
ResponderEliminarNo caso do exemplo acima do clamoroso atraso da execução do programa da Ferrovia, Costa desculpou-se com questões de financiamento. Era caso para perguntar se então os programas de investimento do governo dele se fazem sem se acautelar como irão ser financiados?
É que, a ser assim, estão mal feitos. Por outro lado, a oito meses da conclusão da legislatura, uma taxa de 9% de execução é um número impressionantemente baixo. Aliás, o que António Costa tem para dizer de substantivo é que, para além dos 9%, «40% estão em obra», o que deixa mais de metade (51%) do que fora planeado por começar sequer.
Os primeiros ministros precisam - todos! - de ser confrontados com entrevistadores inteligentes.