15 fevereiro 2019

AS CERIMÓNIAS DA RETIRADA DAS ÚLTIMAS TROPAS SOVIÉTICAS DO AFEGANISTÃO

15 de Fevereiro de 1989. Tinham lugar as cerimónias que assinalavam a retirada das últimas tropas soviéticas estacionadas no Afeganistão. Era um momento triste para o imperialismo russo/soviético mas isso não obstava a que esse momento fosse coreografado com o maior cuidado possível para que ele não parecesse aquilo que era: uma humilhante derrota, que replicava na simetria, aquela que os rivais norte-americanos haviam sofrido havia catorze anos no Vietname do Sul. Note-se, através das fotografias acima, o cuidado dedicado à cenografia, com as bandeiras desfraldadas, o cartaz afixado num dos arcos da ponte, destinado a ser lido pelas câmaras que recebem os veteranos e o enxame de fotógrafos e operadores de câmara que os acolhe do lado soviético da fronteira, cuidadosamente cortados da fotografia da esquerda.

Os canais das televisões dos Estados Unidos dão eco a todas essas cenas, incluindo o beijo e o ramo de flores do filho de 15 anos que acolheu o último comandante soviético, o general Boris Gromov (um general fotogénico, quase escolhido como se tivesse havido um casting, com apenas 45 anos...). A complacência dos norte-americanos em retransmitir tanta propaganda não escondia, porém, uma certa volúpia pelo significado do que transmitiam. Tanta (falsa) alegria não escondia o facto de que o marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário não viviam os seus melhores dias. Eloquente quanto a isso, até no nosso conhecido Diário de Lisboa, o prognóstico que se dava quanto à sobrevivência a curto prazo do regime que os soviéticos haviam deixado em Cabul era muito reservado. Curiosamente, e numa última reviravolta dialéctica, esse regime vai iludir inimigos e aliados e subsistir por mais três anos.

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