Há cem anos, a Alemanha calcorreava penosamente os dias que se seguiram à derrota da Grande Guerra. A 19 de Janeiro de 1919 haviam-se realizado eleições para uma Assembleia Nacional constituinte onde os social-democratas do SPD haviam alcançado a maior representação (163 deputados), mas onde as formações da direita somadas mantinham uma maioria absoluta (229 lugares em 421). Falhos de segurança em Berlim, que fora e permanecia a capital, decidira-se que os trabalhos de elaboração da nova Constituição teriam lugar na pequena e discreta cidade de Weimar na Turíngia (35.000 habitantes). O teatro local foi rapidamente adaptado e a sessão inaugural teve lugar a 6 de Fevereiro de 1919 (fotografia acima, com Friedrich Ebert a discursar). Mas os tempos políticos da Alemanha de então eram particularmente violentos. Por exemplo: a 21 de Fevereiro de 1919 o ministro-presidente do estado da Baviera, o social-democrata Kurt Eisner, foi assassinado a tiro em plena rua, em Munique. Seguira-se uma troca de tiros em plena sessão do parlamento regional... Portanto, não é assim de estranhar que a elevada conflitualidade política conseguisse penetrar no ambiente (que se pretendia recatado) dos trabalhos da própria Constituinte. 23 de Fevereiro de 1919, há precisamente cem anos, foi um desses dias: tal terá sido a exuberância das intervenções de alguns dos parlamentares alemães que, para além dos trabalhos terem sido interrompidos, a mesa teve que convocar forças militares para virem ao teatro repor a ordem, expulsando os deputados mais recalcitrantes. É uma daquelas histórias que nem sequer a wikipedia lhes confere a dignidade de uma referência de rodapé. Actualmente, a imagem que retemos de um parlamentar alemão é a de alguém tradicionalmente bem comportado. Mas, sendo esta data de 23 de Fevereiro (de 1981) tradicionalmente consagrada, por acaso, à invasão de um outro parlamento (espanhol) por forças militares, é de toda a justiça recuperar estes outros incidentes, para chamar a atenção que episódios destes, mesmo quando esquecidos, acontecem até nas melhores famílias... Umas fazem-se eco disso, outras escondem-no.
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