31 dezembro 2017

O FIM DA CHECOSLOVÁQUIA

31 de Dezembro de 1992 foi o último dia da existência da Checoslováquia. Dos países da Europa de Leste surgidos em 1918, se as animosidades entre as nacionalidades da Jugoslávia eram conhecidas perfeitamente pelo resto do Mundo, as da Checoslováquia surgiram com alguma surpresa logo depois do fim da Guerra Fria. O civismo recíproco como decorreu o processo serviu de base para que a partir dele se cunhasse uma expressão, «Divórcio de Veludo», para descrever o desmembramento de forma cordata de um país nas suas nacionalidades constitutivas. Como também já expliquei aqui neste mesmo blogue, a expressão pecará, como elogio, pelo excesso, porque realçado pelo contraste com o carácter sangrento como o desmembramento da antiga Jugoslávia se estava a processar nessa mesma época. O que se torna interessante, passados estes 25 anos, é como esses vários processos de desmembramento do Leste da Europa criaram uma dinâmica de novas fronteiras que acabou por chegar à Europa Ocidental. Entre os casos recentes mais relevantes apareceram os da Escócia, da Catalunha ou da Córsega (a que tenho visto ser dado muito pouca atenção). E, quando os problemas lhes batem à porta, a imaginação e o fair-play dos europeus cá deste lado parece desaparecer como por encanto, pois aquilo que se tem visto a Mariano Rajoy a respeito da Catalunha (e o que se antecipa como reacção de Emmanuel Macron a respeito da Córsega) é um comportamento tudo menos aveludado... De como todos estes assuntos não passam de uma questão de força política e de política de força e que os legalismos constitucionais só são evocados quando convêm, aqui fica a demonstração com a evocação do Art.º 107 (original em cima, tradução inglesa em baixo) da antiga constituição checoslovaca, que há 25 anos foi tão sumariamente deitada para o lixo.

A ÚLTIMA TIRA DE CALVIN and HOBBES

31 de Dezembro de 1995. Há precisamente 22 anos e depois de pouco mais de 10 anos de publicação, Bill Watterson, o desenhador da série, publicava a última tira de Calvin & Hobbes (acima). Calvin é um garoto de seis anos absolutamente irrequieto e dotado de uma imaginação prodigiosa. O nome da personagem foi-se inspirar ao teólogo francês João Calvino (1509-1564). O seu companheiro de aventuras chama-se Hobbes, como o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679). Hobbes é um tigre de peluche que apenas podemos ver dotado de vida própria pelos olhos de Calvin, funcionando como o seu amigo imaginário. As referências rebuscadas para o nome das duas personagens devem-se à formação académica de Bill Watterson em Ciência Política. Considerados, qualquer deles, como autores não só antigos como sobretudo sorumbáticos, daqueles que só se lêem por dever de ofício, o título da série começa assim por ser logo uma piada hermética (que escapou ao primeiro tradutor brasileiro da série quando deu ao tigre o nome de Haroldo...). Outras razões para o carisma que a série veio a alcançar, para além, obviamente, da sua qualidade, é o facto de Bill Watterson (hoje com 59 anos) só se ter disposto a desenhá-la durante dez anos (1985-1995) e não se mostrar interessado em enriquecer com ela, não permitindo, por exemplo, o merchandising da imagem das personagens ou a sua transposição para séries animadas como aconteceu com outras personagens do mesmo género (Peanuts, Garfield).

30 dezembro 2017

AQUILO QUE HÁ PRECISAMENTE 75 ANOS APOQUENTAVA «MUITAS CENTENAS» DE PESSOAS

Retirado da edição de um vespertino lisboeta de há 75 anos pode ler-se na sua íntegra esta interessante notícia que levanta a questão da dispensa de pagamento das taxas relativas aos auto-rádios dos automóveis particulares que haviam cessado de circular por causa da escassez de combustível devida à guerra (Segunda Guerra Mundial). Muito embora a imobilização das viaturas automóveis particulares fosse significativa, não nos podemos esquecer quanto o parque automóvel de então (1942) era escassíssimo e muito menos seriam os automóveis equipados de auto-rádio, que era considerado um equipamento de um luxo verdadeiramente superlativo (recorde-se que os rádios caseiros do tempo da guerra eram de válvulas e que os transístores só vieram a ser descobertos em 1947). E no entanto, ontem como hoje, essa escassíssima minoria de proprietários de automóveis ultra-luxuosos conseguia constituir um lóbi que conseguia construir na imprensa uma importância desmesurada ao seu problema específico .

29 dezembro 2017

«THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY»


29 de Dezembro de 1967. Embora a versão falada em italiano do filme tivesse sido estreada em Dezembro de 1966, foi só um ano depois, há precisamente cinquenta anos, que a outra versão, falada em inglês, foi estreada nos Estados Unidos. E foi essa estreia que possibilitou que o filme alcançasse toda uma outra visibilidade e popularidade. Tanto assim que o famoso tema uivante que o identifica só se veio a tornar conhecido (alcançando inclusive os tops de vendas) a partir do Verão e Outono de 1968.

NINGUÉM SEGURA MARCELO! - O HOMEM ATÉ ESTEVE EM BELÉM (da GALILEIA) E NINGUÉM DEU POR NADA!

A verdade é que a classificação como Monumento Nacional da Paisagem Cultural do Sistelo em Arcos de Valdevez era tão urgente que nem podia esperar pelo recobro do presidente...

A GRANDE FARSA DAS INDIGNAÇÕES COM OS SALÁRIOS MILIONÁRIOS

O Correio da Manhã publicou anteontem uma notícia comparando os ordenados de alguns jogadores do Benfica. Embora a sua intenção seja nitidamente outra (acirrar a rivalidade entre jogadores acentuando a discrepância entre o que ganham e o seu rendimento em campo), vale reconhecer que a notícia não foi entretanto desmentida e que, embora os valores não tenham sido apresentados dessa forma, haverá jogadores do plantel do Benfica como Luisão e Salvio que ganham 3 milhões por ano. Pelas reacções, isso não incomodará sobremaneira os leitores do Correio da Manhã (vejam-se as setas acima - há 55% que não gostam mas 40% que dizem gostar dos ordenados anunciados), mas a verdade é que tais valores se comparam favoravelmente com aquilo que tem sido anunciado como a (controversa) remuneração de António Mexia na EDP (abaixo). Ou seja, o capitão do Benfica ganha melhor (+15%) do que o CEO da EDP. Sendo escandaloso (pelos padrões do que ganha o português médio) qualquer daqueles dois ordenados, o que eu estranho é a diferença das reacções públicas. O enorme silêncio como são acolhidos os valores abusivos dos ordenados dos jogadores benfiquistas parece-me induzido pela forma profundamente diferente como as duas situações são noticiadas. Tomemos o exemplo imediatamente abaixo do Jornal de Negócios e a sua chamada de atenção para quanto custa anualmente a totalidade do conselho de administração da EDP (14 milhões). Estamos a imaginar algum jornalista a fazer o mesmo com a totalidade dos ordenados dos 11 jogadores titulares do Benfica? A que valores chegaríamos? E quanto à notícia seguinte da esquerda.net, que calcula o ordenado diário de Mexia em 7 mil euros, porque é que os activistas de tal publicação não se dedicam a calcular por quanto fica cada hora de jogo efectivo de um jogador com o ordenado de Luisão? É que, feitas as contas, Luisão ganhou 70 mil euros por cada hora que jogou, 100 mil euros no fim de um jogo de hora e meia. Quantos anos precisarão de trabalhar os que estão na bancada para ganhar o mesmo? E isso não incomoda a esquerda.net?

RISCOS DE RECESSÃO EM 88

Há precisamente 30 anos o Diário de Lisboa escudava-se num relatório semestral da OCDE para alertar os seus (e)leitores para a existência de riscos de recessão para o ano seguinte. Os registos do Pordata mostram, contudo, que a economia portuguesa veio a registar nesse ano um crescimento de 5,34%, o que está bem longe de poder ser considerado recessivo. Para quem editava e lia o Diário de Lisboa era uma chatice ser o PSD de Cavaco Silva a ocupar então o poder (com maioria absoluta) e a aproveitar-se da conjuntura económica favorável. Eram outros tempos em que eram eles e não os outros a desejar a vinda do Diabo...

28 dezembro 2017

A UNDÉCIMA QUESTÃO

Sinopse: Em As 10 Questões do Colapso, o Prof. João César das Neves ajuda-nos a enfrentar o que aí vem (viria...), respondendo às seguintes perguntas:
O colapso é inevitável?
O mundo vive uma mudança de época?
Porque temos taxas de juro negativas?
Porque se agrava a desigualdade?
O extremismo vai vencer?
O que se passa no orçamento?
Porque está a banca assim?
Porque não cresce a economia?
Que vai acontecer?
Que devemos fazer?

Estando a aproximar-se o fim de 2017 e do período previsto para A provável derrocada financeira de Portugal, a undécima questão que me ocorre a respeito do livro acima nem sequer é a previsível pergunta, sobre a inexistência da tal derrocada provável que comprovadamente não se deu (pelo menos no período previsto...). A pergunta que me ocorre é outra, sobre o que passará pela cabeça de tão distintos economistas como é o caso deste Prof. João César das Neves, para se quererem projectar politicamente recorrendo a disciplinas tão distintas das suas áreas de especialização quanto a astrologia e a adivinhação? É que depois corre(u) mal, a profecia do áugure não se cumpre e fica-se com a impressão que, mais do que as qualificações académicas, é a própria disciplina que não serve para nada...
Simultaneamente com a Geringonça, mas muito menos falada do que ela, nestes dois últimos anos acabou por cair um profundo descrédito sobre as cabeças pensantes da Economia cá do burgo que, na sua esmagadora maioria e desde quase sempre (e mesmo depois do 25 de Abril) pertenceram à Direita política. Sobre finanças públicas, de que Cavaco Silva é até um emérito professor, melhor que ele apareceu finalmente um Mário Centeno que, mesmo com um sorriso desconcertante de apatetado e que, mais do que os bitaites de tanta sumidade que costumam aparecer na televisão, apresenta resultados!

AS «PARÓDIAS DE GUERRA» E AS PARÓDIAS DE FIM DA GUERRA...

28 de Dezembro de 2014. Com pompa e circunstância os Estados Unidos e os aliados que os tinham acompanhado na aventura afegã (incluindo Portugal) anunciavam pôr fim às suas missões de combate naquele país, tal qual se pode ler acima pelo artigo em que a revista Time se faz eco do facto. Foi há precisamente três anos e é engraçado perceber como os tempos mudaram radicalmente desde os meados do século XX. Há precisamente 78 anos, por ocasião da época das Festas de 1939, havia uma guerra na Europa ocidental entre os exércitos franco-britânicos de um lado e alemães do outro, que era uma guerra que fora declarada mas que não se travava no terreno e que por isso veio a ser baptizada ironicamente de «Paródia de guerra» (drôle de guerre, phoney war, Sitzkrieg). 75 anos depois desses meses militarmente caricatos, apresentava-se-nos uma reviravolta de 180º daquela atitude, no que será uma espécie de «Paródia de Paz», quando se pretendia que um anúncio formal ds cessação do envolvimento directo pusesse um fim unilateral a um conflito. Ainda há seis dias foi notícia - na mesma Time - a visita do vice-presidente norte-americano ao Afeganistão, a esse país sempre em vias de pacificação e de onde os Estados Unidos se haviam desengajado militarmente. Nem de propósito, as notícias de hoje, terceiro aniversário da cerimónia acima e ainda na mesma revista Time, são de um assalto a um centro cultural xiita de Cabul que provocou 35 mortos. Tem sido notório pela multiplicação destes episódios quanto, depois de 13 anos de operações* (2001-2014), os Estados Unidos e os seus aliados deixaram uma situação militar perfeitamente controlada atrás de si...
* Sensivelmente a mesma duração das operações militares portuguesas em Angola (1961-1974).

27 dezembro 2017

O SATÉLITE ESTAVA COM MUITO MAU ASPECTO DA ÚLTIMA VEZ QUE FOI VISTO...

Havia uma anedota clássica, a respeito do problema de não anunciar as más notícias de supetão às pessoas de quem se gosta, que colocava um namorado a cuidar do cãozinho de estimação da namorada quando um qualquer acidente imprevisto matava o pobre bicho. Sem saber como anunciar a infelicidade à dona, a «punchline» da anedota era a forma indirecta e ao mesmo tempo grosseira como o namorado procurava preparar o terreno para o anúncio da desdita: - A última vez que vi o teu cão ele estava com muito mau aspecto... Pois bem, este último desmentido do secretário de Estado angolano é do que de mais parecido haverá com o comentário sobre o estado de saúde do satélite da última vez que foi visto. Se se ler o detalhe da notícia, as suas declarações - O satélite fez o seu percurso normal, está na órbita para o qual foi planificadoe temos sob controlo o satélite - não desmentem a ausência de contacto que fora previamente anunciada a partir da Rússia (na verdade, quem acompanha estas coisa sabe que o programa espacial russo também tem tido os seus episódios menos felizes). Claro que é tremendamente ingrato assumir a expedição de 270 milhões de euros de tecnologia para o lixo... cósmico, e é preferível fazer-se de optimista e ir dando a má notícia aos bocadinhos. Não se tratando disso, então há alguém que detesta o actual regime angolano e que tem o péssimo mau gosto de lançar boatos não substanciados sobre as realizações técnicas do país.

Adenda: Dois dias depois, o construtor russo anunciou que, felizmente, as comunicações haviam sido restabelecidas com o satélite. Quanto à hipótese rebuscada que apresentei no fim do parágrafo precedente, um texto como o abaixo, de um humor estranho a parodiar as populações das regiões remotas de Angola, é indicativo do quanto a hipótese é bem capaz de não ser assim tão descabida.

EM ÉPOCA DE PRENDAS,...

...para oferecer àquele contestatário anti-globalização que já tenha tudo, nada como um cocktail Molotov com garrafa estilizada e lenço requintado, adequado para ser arremessado na abertura das cerimónias com a polícia de choque, por ocasião da próxima cimeira de qualquer coisa que se realize no mais remoto local do Mundo.

O CENTENÁRIO DA NACIONALIZAÇÃO DE TODA A BANCA RUSSA

«No interesse de uma organização adequada da economia nacional, a erradicação decisiva da especulação bancária e a emancipação completa dos trabalhadores, camponeses e de toda a população oprimida pela exploração do capital bancário, com o objectivo de criar um só Banco do Estado unificado para toda a República da Rússia que deverá servir os interesses do povo e das classes mais pobres, o Comité Central Executivo decreta que:
1) A actividade bancária é considerada um monopólio do Estado.
2) Todos os estabelecimentos bancários existentes são absorvidos pelo Banco do Estado.
3) Os activos e responsabilidades dos bancos absorvidos serão assumidos pelo Banco do Estado.
4) O detalhe do processo da fusão dos bancos privados com o Benco do Estado será regulamentado por um decreto especial.
5) A administração temporária dos bancos privados será confiada ao Conselho do Banco do Estado.
6) Os interesses dos pequenos depositantes serão totalmente protegidos

27 de Dezembro de 1917. Os bolcheviques, chegados ao poder ainda não há dois meses, procedem à nacionalização dos 18 bancos então existentes na Rússia. Para se avaliar da importância atribuída a esta iniciativa (longínqua predecessora e inspiradora das nacionalizações portuguesas de 14 de Março de 1975), realce-se que ela teve lugar apenas doze dias depois da nova Rússia revolucionária ter assinado um armistício com os Impérios Centrais que, para efeitos práticos, a excluía da Primeira Guerra Mundial. Curiosos tempos esses em que se introduzia uma nova prática política que nos queria fazer crer que as nacionalizações seriam a solução estandardizada para todos os problemas económicos e sociais. Nestes cem anos que entretanto decorreram, tivemos o privilégio de assistir não apenas à ascensão dessa tese como a uma posterior reviravolta de 180º e à ascensão de outras práticas políticas que nos quiseram induzir a acreditar que, pelo contrário, as privatizações é que eram a solução estandardizada para todos os problemas. A controvérsia parece sair de agenda. Em História, o tempo costuma demonstrar como todos os exageros tendem a mostrar-se... exagerados.

26 dezembro 2017

A MATRACA «SUECA»

Esta fotografia data de 1961 e o seu autor é Eduardo Gageiro. Pela identificação do estabelecimento do lado esquerdo o local terá sido São Domingos na Baixa lisboeta. A síntese da imagem é, não só de violência, mas de uma violência déspota, com a desproporção entre o número de polícias e de quem se lhes opõe(?), para mais jazendo no chão. Mas o que me fascina no instantâneo - e que me induziu ao título oficioso da fotografia - é aquela ligação entre a matraca assestada para bater e a sofisticação do cartaz de esquina que a encima, promovendo aparelhos suecos de grande classe... A associação é pessoal e deve-se apenas à perspectiva de como a fotografia foi captada, mas é um excelente preâmbulo para devaneios entre aquilo que era Portugal em 1961 e o que o distinguia da Suécia dessa mesma época - a começar pela dificuldade de obter fotografias equivalentes àquela em Estocolmo...

«MAGICAL MYSTERY TOUR» - O FILME


26 de Dezembro de 1967. Numa pouco habitual estreia televisiva, a BBC1 britânica transmite em estreia mundial o filme «Magical Mystery Tour» dos The Beatles. Como as emissões ainda eram a preto e branco, foi assim que os ingleses puderam assistir ao filme no dia seguinte ao Natal que, não fora a celebridade dos autores, dificilmente teria merecido essa distinção de ser transmitido durante as quadras festivas.

25 dezembro 2017

RELEMBRAR PARA QUE SERVEM AS MAIORIAS QUALIFICADAS

O presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski acabou de sobreviver a uma moção promovendo a sua destituição. A acusação é de corrupção e a votação foi cerrada: houve mais de metade (79) dos 130 congressistas a votarem favoravelmente a destituição. Porém, apesar da fragilidade como o presidente peruano sai da situação (a maioria do Congresso votou contra si), a moção não chegou a atingir a maioria de ⅔ (87 congressistas) para produzir efeito. É nestas ocasiões que vale a pena recordar, já que o Brasil está nesta jogada e por muito desagradável que seja o gesto, que Dilma Rousseff possuía também essa salvaguarda de se necessitar de uma maioria qualificada de ⅔ para a sua destituição em qualquer das duas câmaras: a Câmara de Deputados e o Senado. Foi uma esmagadora maioria de parlamentares votou a destituição de Dilma Rousseff. O resto, e porque o tempo reduz tudo às suas devidas proporções, foi tudo propaganda.

COMO UM REGRESSO À INFÂNCIA

Capas das edições da semana de Natal da revista Tintin belga de 1956 a 1973. Algumas dessas capas vieram a ser reaproveitadas pela revista Tintin portuguesa (de memória, as capas das edições de 1959, 1961, 1968, 1970, 1971 e 1973).

A MORTE TRANQUILA DE CHARLOT

25 de Dezembro de 1977. Na noite de Natal e numa paisagem mediática desprovida de outras grandes notícias concorrentes, morria Charlie Chaplin durante o sono na sua residência de Vevey na Suíça. Tinha então 88 anos.

24 dezembro 2017

PRESUNÇÃO E ÁGUA BENTA SÃO PRENDAS DE NATAL QUE CADA UM OFERECE A SI PRÓPRIO

Isto acima, copiado do blogue Blasfémias, fez-me rir tanto que, atendendo à quadra, será o que de mais parecido haverá, considerada a diferença de maturidades, com a saudosa aparição dos palhaços dos circos de Natal da minha infância. Quanto à visibilidade de Cristina Miranda, só lhe falta mesmo é a televisiva, como foi propiciada um certo dia ao príncipe da Fuzeta por Herman José (abaixo). O que é verdadeiramente cómico nestas situações é muito mais o convencimento e a presunção, do que os formatos de que essa presunção se reveste.

23 dezembro 2017

O NATAL DOS HOSPITAIS

Há precisamente 50 e 40 anos o Natal dos Hospitais era noticiado nas edições do Diário de Lisboa da forma como se pode apreciar acima. Entre as duas notícias ocorrera o 25 de Abril e o conteúdo do tema reforçara-se na preocupação social. Manuela Eanes aparecia muito mais proactiva do que Gertrudes Thomaz. Pormenor não despiciendo: nesses dez anos o espectáculo televisionado duplicara a sua duração de umas razoáveis duas horas e meia para uma versão estendida de cinco horas! Dali por mais uns anos atingiriam o exagero do programa ser transmitido mais de uma semana antes do dia de Natal e com as maratonas televisivas a começarem desde a manhã, transmissões longas para as quais acabava por faltar a pachorra do telespectador...

A «NOTICIABILIDADE» DA FELISBELA

Todos os Sábados, aí por volta das 9H15 e sempre que me lembro, não perco a revista de imprensa de Felisbela Lopes na RTP3. Não é tanto eu gostar do conteúdo, é mais deleitar-me com o estilo, toda a secretária pejada de publicações cuidadosamente dispersas para aqui e ali se notarem títulos e passagens assinaladas por diligentes canetas fosforescentes (a várias cores!) e o emprego de um calão abundante em neologismos, indicativos de que se trata de uma nova ciência em expansão. Aprecio sobremaneira a volúpia e insistência como certos vocábulos são pronunciados. É o caso de «Noticiabilidade», palavra que aprendi da professora Felisbela e que não tenho oportunidade de ouvir em mais lado algum, mas que transmite um cunho assaz iniciático à sua revista de imprensa. A repetição exaustiva de palavras elaboradas a partir sempre do mesmo étimo (notícia), dão uma sonoridade única àquele programa matinal.

22 dezembro 2017

A PROCLAMAÇÃO DE UMA INDEPENDÊNCIA DA FLANDRES

22 de Dezembro de 1917. Há precisamente cem anos o Conselho da Flandres (Raad van Vlaanderen) proclamava a independência de uma Flandres que poucas hipóteses teria de o ser na prática, ocupada militarmente como estava pelos alemães. Embora o colaboracionismo dos autores da iniciativa seja evidente (e condenável), é difícil não simpatizar com as queixas dos flamengos em relação à forma como a sua língua e cultura eram subalternizadas em relação ao francês na Bélgica de então (para não ir mais longe, e estando-se em plena Primeira Guerra Mundial, importa deixar o exemplo que a única língua do exército belga era o francês, quando pelo menos metade dos recrutas eram flamengos).

O PROGNÓSTICO "À JOÃO PINTO" E A DESCOBERTA DE UM SISTEMA ELEITORAL HÁ MUITO ENVIESADO

«Se fosse um referendo...» Se o artigo de opinião tivesse sido escrito antes do acto eleitoral, sem que se soubesse qual seria o seu desfecho, ainda a opinião do articulista teria algum valor, assim é um comentário baseado num prognóstico à João Pinto. Mas é sobre outro aspecto da lógica futebolística que este artigo de Rui Ramos me despertou a atenção, atentemos àquela passagem que destaquei sobre a sua aparente descoberta dos defeitos do enviesamento do sistema eleitoral. Se o sistema eleitoral espanhol é enviesado, esclareça-se que assim nasceu e tem permanecido assim desde que se realizaram as primeiras eleições democráticas em Espanha (1977). O que é maravilhoso é que Rui Ramos e outros tantos como ele tenham demorado 40 anos a descobrir isso. Em Espanha o sistema de distribuição do número de deputados que virão a ser eleitos pelos círculos eleitorais (as 50 províncias) não é absolutamente proporcional: cada província tem direito a um mínimo de dois deputados (2 x 50 = 100) e só os restantes 250 do Congresso de 350 deputados são distribuídos proporcionalmente à respectivas populações de cada província. A consequência é que as províncias mais subpovoadas estão sobre representadas*. Há assim uma vantagem comparativa do peso do voto rural sobre o voto urbano, sabendo-se que o primeiro é tradicionalmente mais conservador enquanto o segundo é mais esquerdista. As consequências subtis desse enviesamento que Rui Ramos só agora descobriu podem ser apreciadas no quadro abaixo, que nos mostra uma síntese das oito eleições legislativas espanholas que tiveram lugar de há 25 anos para cá. Do lado esquerdo aparece a votação nacional do PSOE, o número de deputados que elegeu, e o coeficiente que resulta da divisão do primeiro valor pelo segundo, quanto custou, em votos, eleger cada deputado do PSOE. Do lado direito, em sentido inverso, estão precisamente as mesmas contas feitas para o PP. E a conclusão que aparece no quadro central é inequívoca: com excepção das eleições de 1993 e independentemente de quem tenha sido o vencedor do acto eleitoral, os deputados do PP têm sido eleitos consistentemente de forma mais económica do que os do PSOE. Ou seja, o tal «sistema eleitoral enviesado» tem beneficiado a direita espanhola.
A metodologia que acima foi descrita é a mesma que é empregue para as eleições autonómicas. E o efeito distorcido nas representações parlamentares será do mesmo género. Só que neste caso concreto da Catalunha e para visível incómodo de Rui Ramos, o voto rural é não apenas conservador como também acentuadamente nacionalista catalão. É assim que, fazendo a comparação entre os três partidos mais bem colocados de quando custou em votos em média eleger um deputado nas eleições de ontem, a formação que os conseguiu mais baratos foi a direita nacionalista catalã de Puigdemont (27.660), seguida da esquerda nacionalista catalã de Oriol Junqueras (29.030) e só depois a direita constitucionalista espanhola de Inés Arrimadas (29.770). Será portanto a diferença deste coeficiente de 2.110 votos que terá causado todo este incómodo e mau perder a Rui Ramos, como se ele fosse um daqueles facciosos comentadores de futebol que, assume uma postura muito distanciada das emoções, mas depois só fala dos erros da arbitragem nos jogos em que acha que eles prejudicaram a sua equipa.

* Ao contrário do que acontece em Portugal, em que o eleitor do distrito de Portalegre e do distrito de Lisboa têm aritmeticamente a representação o mais aproximada que for possível.

21 dezembro 2017

«BUENU, POS MOLT BÉ, POS ADIÓS»

Vale a pena, hoje que se realizam eleições na Catalunha para eleger um novo parlamento local, evocar um episódio com precisamente quatro meses, por ocasião de um conferência de imprensa em que participava Josep Lluís Trapero, o comandante da força policial catalã dos Mossos d'Esquadra. Perante os protestos e o abandono da sala por um dos jornalistas presentes porque Trapero lhe estaria a responder em catalão, a famosa tirada ficou registada com um significado muito mais amplo do que aquele que se supõe que o autor lhe terá querido dar naquela circunstância: - «Buenu, pues mol bé, pues adiós». (A transliteração do comentário de Trapero tem mais do que uma versão, entre as mais catalãs e as mais acastelhanadas).
Vale também a pena recordar que o tema da conferência de imprensa era o hoje quase completamente esquecido atentado terrorista de Barcelona de 17 de Agosto deste ano. A ocasião fora precedida de um braço-de-ferro linguístico muito tradicional naquelas paragens, com os órgãos de comunicação social nacionais a pretenderem que as autoridades usassem como língua de trabalho o castelhano em precedência ao catalão e com aquelas escudando-se nos seus procedimentos de rotina de sempre, que dão natural primazia ao idioma local. Claro que Trapero fala fluentemente castelhano mas este foi mais um daqueles pequenos incidentes que só os espanhóis e outros países com problemas linguísticos semelhantes conseguirão entender em toda a sua subtileza.

EM QUE CONSISTE A POPULARIDADE NO MUNDO GLOBALIZADO DO SÉCULO XXI


21 de Dezembro de 2012. Há cinco anos, um vídeo postado no You Tube ultrapassou pela primeira vez as mil milhões de visualizações (1.000.000.000). O feito foi alcançado depois de cinco meses de publicação, a uma média de 200 milhões de visualizações mensais. O contador de visitas original do You Tube teve que ser reconfigurado. O tema responsável por tal incomensurável sucesso é uma canção de um rapper sul-coreano que se auto-designa por Psy. A canção é sobre «a namorada perfeita que sabe quando ser refinada e quando se tornar selvagem» - pelo menos, é essa a descrição sintética que, sobre ela, se pode ler na Wikipedia. Gangnam é um bairro chique de Seul. Outra surpresa é que o fenómeno se originara fora dos Estados Unidos. Mas nunca antes o pueril transmitira assim toda a força do seu gigantismo, quando avaliado a esta escala. Mau grado o desenvolvimento crescente dos índices de educação das populações, a sociedade global do século XXI arrisca-se a manter-se assustadoramente frívola. Nestes últimos cinco anos o número de visualizações de Gangnam Style triplicou em relação à já impressionante marca de há cinco anos, com 3.023.221.615 visualizações no momento em que escrevo estas linhas.

20 dezembro 2017

A TRANSFERÊNCIA DA SOBERANIA DE MACAU


20 de Dezembro de 1999. O estatuto de Macau como Região Administrativa Especial da República Popular da China atinge hoje a maioridade. Sobre estas imagens acima da cerimónia de transferência de poderes, ocorreu-me fazer um pequeno comentário a respeito do contraste entre a atitude dos portugueses, que entoam o seu hino (até um contrariado Jorge Sampaio), e a dos chineses, a começar pelo seu presidente de então, Jiang Zemin, que se mostram bastante mais reservados quando da execução do seu. Afinal era uma questão de moda, que estava a tardar a chegar à China, como se pode apreciar pelo vídeo abaixo, que vistoria um leque histórico de cerimónias oficiais chinesas desde 1949 até 2009: se, nos primeiros 50 anos o hino era apenas escutado, a partir do século XXI também na China o hino passou a ser entoado, incluindo o mesmo Jiang Zemin que se mostrara tão discreto em Macau em 1999.

19 dezembro 2017

ILUMINAÇÕES DE NATAL DE ANTANHO PARA DESPERTAR A NOSTALGIA

 Rua Garrett
Rua do Ouro
Avenida Guerra Junqueiro
Rua do Carmo
 Rua Garrett
 Rua Garrett
Rua do Ouro

18 dezembro 2017

COMO A ANTIGA POLÍCIA DE COSTUMES ATRÁS DAS PROSTITUTAS...

O que causa estranheza na denúncia destes acordos fiscais ilegais é a razão pela qual não se sanciona também o outro parceiro do acordo, o estado-membro - neste caso a Holanda - que o concedeu. É que, por muito que as empresas que costumam sacar estes benefícios não mereçam (de todo!) a nossa simpatia, toda esta hipocrisia moral faz lembrar aquilo que acontecia antigamente quando dos raids da polícia de costumes aos locais de prostituição, em que se prendiam as putas mas se deixavam os clientes em liberdade. Para mais a crítica amplia-se quando, na continuação da analogia, não ajuda ao espírito de isenção lembrar que o Luxemburgo, na pessoa do seu antigo primeiro-ministro Jean-Claude Juncker, também já se mostrou um entusiasmado frequentador do bordel, com um fraquinho por uma puta chamada Amazon...

DESTA NÃO SE LEMBROU A JOANA VASCONCELOS - 1

O Fumador Casual

17 dezembro 2017

O PRIMEIRO-MINISTRO DESAPARECIDO

17 de Dezembro de 1967 foi um Domingo como o de hoje e também um dia de Verão no Hemisfério Sul. O primeiro-ministro australiano Harold Holt de 59 anos, que era um praticante entusiasmado de natação e de mergulho (abaixo), desapareceu subitamente da vista dos acompanhantes numa praia de Melbourne… Apesar da maior busca que fora até então efectuada pela Marinha e pela Força Aérea australianas, o corpo de Holt jamais veio a ser encontrado. Oficialmente, dois dias depois do desaparecimento o Primeiro-Ministro veio a ser declarado morto e realizou-se uma cerimónia oficial religiosa a 22 de Dezembro, em substituição do funeral canónico. Objectivamente, considerada a categoria do desaparecido, todo o episódio veio a ser considerado tanto inédito quanto insólito - fosse hoje e as malhas muito mais apertadas da segurança pessoal de tais figuras torná-lo-ia praticamente impossível. Apareceram depois algumas teorias engraçadas, a mais imaginativa das quais é que Harold Holt teria sido raptado por um submarino chinês. Se, em vez da Austrália, tivesse acontecido em Portugal (na Costa da Caparica, por exemplo), teria havido para aí uma dúzia de comissões parlamentares de inquérito, como aconteceu com Camarate...

16 dezembro 2017

A ÚLTIMA SONDAGEM DO «ESTADO DE GRAÇA»

16 de Junho de 2017. Há seis meses a Aximage realizava uma sondagem para o Correio da Manhã em que o primeiro-ministro registava uma vantagem de 47% nos índices de confiança sobre o líder da oposição. Eloquente sobre qual seria a intenção principal da mensagem, a notícia era ilustrada com uma fotografia de um Pedro Passos Coelho acabrunhado, não de um António Costa triunfador como seria de esperar. Desconhecido dos dois (e também dos autores da notícia), o incêndio de Pedrogão Grande do dia seguinte iria inverter a dinâmica de que nada de mau parecia acontecer ao governo da Geringonça.

15 dezembro 2017

TÍTULOS ESTÚPIDOS

E os vivos ainda não se pronunciaram por estarem em estado de choque...

14 dezembro 2017

OS SAPATOS VOADORES: A CRISE QUE GEORGE W. BUSH MAIS DEPRESSA SUPEROU


14 de Dezembro de 2008. George W. Bush estava a pouco mais de um mês de terminar o seu segundo mandato presidencial e efectuava uma última viagem ao Iraque quando, por ocasião de uma conferência de imprensa na companhia do primeiro-ministro al-Maliki foi atacado por dois sapatos voadores arremessados por um jornalista local, num episódio tornado mundialmente famoso (acima). Terá sido uma das raras ocasiões em que vimos aquele presidente dos Estados Unidos a lidar descontraidamente com uma situação, ainda para mais inesperada. Não só mostrou destreza para sair totalmente ileso do incidente, como ainda lhe sobrou presença de espírito para uma laracha sobre o número do calçado. A única vítima a destacar do incidente, para além do assaltante (que apanhou uma sova), foi a secretária de imprensa da Casa Branca, Dana Perino que, na confusão que se seguiu, apanhou com um daqueles desajeitados microfones direcionais em cheio num olho, que andou pisado nos dias que se seguiram (abaixo). Quase caso para dizer que ela mereceria uma Purple Heart, a condecoração militar norte-americana para aqueles que foram feridos em combate.

13 dezembro 2017

OS HOMENS DAS CASTANHAS DE ANTANHO

Numa fria tarde de Outono que parece estar mesmo a pedi-las, ei-las três fotografias de carrinhos de castanhas, como elas eram assadas há uns cinquenta anos.
A primeira fotografia é de Arnaldo Madureira em 1960, a segunda de Armando Serôdio em 1966 e a terceira de autor e data desconhecidos, embora a matrícula do automóvel seja de 1962.

12 dezembro 2017

QUEM SE RI NO FIM...

Eu não gosto particularmente da expressão sobre quem se ri no fim (é quem ri melhor). Em rigor, a maioria das histórias nunca têm fim, a não ser que lhe ponhamos um. Mesmo não o tendo, neste caso apetece-me que exista esse fim nessa história do ecofin. Para se perguntar aos fotógrafos fashion e aos jornalistas de fofocas se eles já foram investigar se, para além daquele sorriso um pouco tonto, Centeno gosta de andar de mota ou se a sua mulher é também uma loura vistosa com predilecção por jantares românticos. É uma reportagem engraçada que está por fazer, especialmente para quem gosta de analisar as ascensões nos órgãos europeus de uma perspectiva egótica e para contrastar com a espantosa máquina mediática que rodeou Varoufakis, quando atravessou cadente e candente toda a crise das dívidas soberanas, mas que saiu dela incompatibilizado com todos, até com Tsipras.

PELOS OITENTA ANOS DE UMAS ELEIÇÕES «AMPLAMENTE DEMOCRÁTICAS»

12 de Dezembro de 1937. Realizaram-se as primeiras eleições legislativas na União Soviética depois da aprovação da Constituição de 1936. No artigo 126 daquela podia ler-se que "o partido comunista é a vanguarda dos trabalhadores na sua luta para desenvolver e consolidar o sistema socialista e que representa o núcleo dirigente para todas as organizações dos trabalhadores, sejam públicas ou estatais". Realizadas através do processo em que o eleitor tem de escolher de entre um candidato único, agora adivinhem lá quem ganhou?...