A apostasia de Carlos Abreu Amorim, cegado pelo Espírito Santo numa estrada de Damasco, cuja visão se terá recuperado à mesa de uma comissão parlamentar e que veio a ser proclamada nos jornais, parece estar a ser o mote para uma verdadeira reedição de aprofundados debates ideológicos na imprensa portuguesa. O fenómeno é giro demais para deixar escapar a analogia com o que me lembro que acontecia outrora com as interpretações dos comunismos, qual delas a mais pura, conforme o autor. O palavrão moderno deixou de ser comunismo para passar a ser liberal mas, no meio de referências teóricas necessariamente diferentes, as estruturas argumentativas para defender a causa própria parecem permanecer rigorosamente as mesmas: a) Evocando que dissidências e cisões são óptimas ocasiões para clarificar aqueles aspectos do comunismo que têm sido distorcidos pela propaganda hostil, de onde resulta uma clarificação tão decantada que se torna uma utopia; b) Alegando que os dissidentes não são nem nunca foram verdadeiros comunistas, que o comunismo é uma outra coisa distinta, esvaziando de sustentação as causas da dissidência. Mas o melhor sobre o tema, nestes casos em que há intervenientes demais a reclamarem-se detentores da razão, seja do que era o comunismo, seja do que é ser-se liberal, é mesmo retratá-los através do monólogo de Hermann José: Eu é que sou o presidente da Junta!
Sem comentários:
Enviar um comentário