A 23 de Agosto de 1941, registou-se o primeiro acto de violência contra os ocupantes alemães de Paris, concretizado pelo assassinato na estação de metro de Barbès-Rochecouart (a norte da cidade) de um aspirante da Kriegsmarine, Alfons Moser. Como seria previsível, a retaliação alemã não se fez esperar: um amplo leque de reféns passíveis de execução retaliatória foi sendo reduzido à custa de penosas negociações entre as autoridades alemãs e as de Vichy até que a morte de Moser foi vingada pela execução na guilhotina de seis indivíduos, três deles delinquentes de direito comum, os outros três militantes comunistas. A massa ainda discreta e informe daqueles franceses que, desde 1940, queriam fazer alguma coisa contra a ocupação alemã, acolheu de olhar desconfiado estes comunistas recém-chegados à Resistência que haviam passado todo o ano anterior (Junho de 1940 - Junho de 1941) numa benévola neutralidade para com a ocupação alemã, conforme as instruções recebidas de Moscovo (decorrentes da assinatura do Pacto Germano-Soviético) e que num instante súbito haviam passado dessa indiferença para a resistência o mais militante possível, logo depois das notícias da Invasão da União Soviética em 22 de Junho de 1941, num frenesim que pareciam agora interessados em alimentar de vítimas. O atentado parecia propositadamente concebido para assinalar o segundo mês do início da Operação Barbarossa.
Nos Estados Unidos, sendo raro, por esses anos da década de 1940, os polícias também se abatiam, ainda que só ocasionalmente: basta recordarmo-nos da cena em O Padrinho em que Michael Corleone mata o capitão McClusky conjuntamente com o mafioso Solozzo, providenciado que ao assassinato se seguiria uma campanha de imprensa que o expusesse como o polícia corrupto que era (abaixo). Mas ao contrário das outras polícias de países ocidentais, a norte-americana nunca depois disso se preocupou em persuadir, apenas em intimidar e nesse sentido podia ser tão alienígena ao corpo social como alemães entre franceses numa França ocupada. A sensação gerada na opinião pública pela cobertura mediática destes últimos casos de despotismo policial será talvez capaz de, pela primeira vez, obrigar a uma inflexão nisso. O jingle de Bad Boys que faz parte da banda sonora da série televisiva Cops é capaz de estar em baixa. Os discursos oriundos da Casa Branca de simpatia tanto pelas vitimas da polícia como, mais recentemente, pelas vítimas policiais estarão a tentar amenizar o quadro em que, pelo menos para as comunidades marginalizadas dos Estados Unidos e por muito que considerem o actual presidente um dos seus, as ruas do seu país são agora apresentadas ostensivamente na informação como território ocupado pelos outros.
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