A fila acumulara-se à porta daquele restaurante da Baixa lisboeta em dia de intenso frio e as circunstâncias haviam feito que uma mesa originalmente concebida para quatro fosse dividida entre um casal de nativos e um casal de turistas. Corteses e agradecidos por uma cedência que não parecia comum na sua terra, os segundos embrenharam-se na leitura da página em francês do menu enquanto os vizinhos, mais rotinados, se despacharam com os seus pedidos. Ou porque a mestria do tradutor para francês não havia sido inspirada ou por uma outra razão qualquer a hesitação ainda se arrastava quando os pratos da vizinhança chegaram: dois bacalhaus apropriados à quadra, à Brás para ele, cozidinho com grão para ela. Prazenteiros, funcionando quase como anfitriões, a dupla portuguesa não tardou a reagir às perguntas naturais dos vizinhos do lado propondo que os turistas provassem o Bacalhau à Brás para ajuizar. E lá foram os turistas servidos de uma entradinha de Bacalhau à Brás roubada à própria bandeja. Quando, na mesa do lado, me levantei para sair, já se aceitara a proposta que eles também provassem a versão cozida com grão, para comparar. Será tão frequente assim nos outros países do Mundo que os vizinhos de uma mesa de restaurante nos proponham assim, espontâneos e às suas próprias custas, um menu de degustação da especialidade local?
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