Sendo do conhecimento corrente a forma como os Estados Unidos forçaram a rendição do Japão no final da Segunda Guerra Mundial, este título pode ser até tomado como uma provocação. Porém, há que reconhecer que nada obsta a que, tendo o Japão sido o primeiro (e até agora o único) país vítima dos efeitos do armamento nuclear, também tivesse estado interessado em desenvolver aquele mesmo tipo de armamento durante o conflito. Na realidade, o pai da (hipotética) bomba nuclear japonesa existiu, tem um nome e um rosto (simpático): Yoshio Nishina (abaixo).
Yoshio Nishina (1890-1951) foi alguém que é hoje praticamente desconhecido fora do círculo académico da física teórica. Mas nesse campo é uma figura importante: Yoshio Nishina é o co-autor, conjuntamente com o sueco Oskar Klein (1894-1977), da dedução de uma fórmula teórica da física quântica que recebeu o nome dos dois (1928). Nishima havia trabalhado na Europa durante quase toda a década de 1920 e a sua colaboração com a Escola germânica e nórdica daquela disciplina (de que o expoente máximo seria então Niels Bohr) manteve-se sempre próxima. Após o seu regresso ao Japão em 1929, Nishima prosseguiu as suas pesquisas obtendo financiamentos para a construção de ciclotrões (acima) progressivamente mais potentes. Em 1940, estava em construção um de 150 cm com um magneto de 250 toneladas e a equipa de investigadores dirigidos pelo Professor Nishima já rondava a centena. Por seu lado, o General Takeo Yasuda e o Exército Imperial começavam a mostrar o seu interesse nas possibilidades da construção de uma arma nuclear, sendo Yoshio Nishima e a sua equipa a hipótese mais óbvia de a conseguirem construir. Mas o erro principal do Professor Nishina foi de julgamento e não de execução. O relatório do Comité a que presidia¹ concluía ainda em 1943 que, se em princípio era possível construir uma arma nuclear, seria provavelmente muito difícil, mesmo para os Estados Unidos, que essa arma fosse construída a tempo de afectar o desfecho da guerra em curso. Os cientistas japoneses subestimaram quer a variedade de métodos possíveis para o enriquecimento do urânio, quer a concentração de recursos humanos e materiais que os Estados Unidos atribuíriam ao Projecto Manhattan.
Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, as pesquisas japonesas sobre o nuclear estavam ainda a anos de alcançar resultados tangíveis e é verdade que os julgamentos da História se devem guardar para os actos e não para as intenções. Mas também é verdade – uma verdade muito menos conhecida – que, quando o Conselho Supremo (presidido pelo próprio Imperador) se reuniu em Agosto de 1945 e pediu um relatório ao Comité do Professor Nishina sobre o que acabara de acontecer em Hiroxima, os seus membros tinham uma ideia muito precisa sobre o que responder…
¹ O nome do comité era eloquente: Comité de Pesquisa sobre as Aplicações da Física Nuclear. A sua presidência formal fora entregue ao Príncipe Takamatsu, irmão do Imperador.
Nota: O vídeo inicial é o da detonação da bomba atómica em Hiroxima e o final a de Nagasáqui. Já aqui me referi a ambas.
¹ O nome do comité era eloquente: Comité de Pesquisa sobre as Aplicações da Física Nuclear. A sua presidência formal fora entregue ao Príncipe Takamatsu, irmão do Imperador.
Nota: O vídeo inicial é o da detonação da bomba atómica em Hiroxima e o final a de Nagasáqui. Já aqui me referi a ambas.
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