10 fevereiro 2012

A HERANÇA DE LUIS XVII

Luís XVI foi guilhotinado em 21 de Janeiro de 1793. Claro que esta cabeça acima não é a original mas apenas uma reprodução baseada na sua máscara funerária e que está em exibição no Museu de cera de Madame Tussaud. Mas, na sua faceta de faz-de-conta é singularmente apropriada para ilustrar a tradição de ficção que se gerou a partir daquele acontecimento. Recorde-se que à data da sua execução, os poderes reais de Luís XVI haviam desaparecido como consequência do estabelecimento da República francesa em Setembro de 1792.
No seguimento, os exilados monárquicos proclamaram rei o único filho do executado com o nome de Luís XVII (acima, um retrato seu de 1792). O pretenso rei tinha então oito anos – o que não era inédito em monarcas – mas encontrava-se prisioneiro desse mesmo regime republicano que executara seu pai. Comprovando-se que nem mesmo como símbolo a criança era um activo politicamente importante, ainda hoje está envolta em controvérsia a data e as circunstâncias da sua morte, que terá ocorrido mais provavelmente em Junho de 1795.
O que é importante é que seu tio (acima), quando se tornou efectivamente rei de França em 1814, tomou o nome de Luís XVIII. E com isso criou-se uma espécie de precedente, o da entronização de monarcas virtuais, politicamente irrelevantes. É assim que depois do fim do regime absolutista francês em 1830 e da deposição de Carlos X, houve um Luís XIX (1836-1844) e um Henrique V (1844-1883), reis sem trono de uma França que foi sucessivamente uma monarquia constitucional, uma república, um império e novamente uma república.
A moda não só se propagou aos países vizinhos como se veio a generalizar o uso de outros títulos virtuais para além do próprio rei. É assim que, a partir da descendência de um príncipe português cujas pretensões históricas ao trono de Portugal foram, no mínimo, controversas (acima – Miguel I, o pretendente vencido da Guerra Civil de 1828-1834), descubro a história de uma pretensa infanta de Portugal que é sua neta. Descubro até que a senhora, que comemorou o seu centenário, tem uma história pessoal interessantíssima

Porém, tenho que a expressão infanta de Portugal (infante é um filho legítimo de um rei) tem uma definição precisa e uma seriedade que provavelmente não deveria ser desgastada em pretensões. Nem sei se os simpatizantes monárquicos se apercebem das consequências destas hipérboles. Fazem do passado uma história de faz-de-conta e não daquilo que foi, o que apenas ridiculariza e diminui a sua causa. Por exemplo, esta infanta de Portugal, passou os primeiros 37 anos da sua vida a ser infanta de um Portugal onde nunca estivera…e que já era então uma república!