Uma daquelas coisas baptizadas por vírus ou vermes atacou o meu computador. Apesar da eficiência aparente dos profilácticos anti-vírus, que nos enviam actualizações com uma regularidade insistentemente irritante (e que eu desconfio ser uma actividade mais encenada do que necessária), aqui fiquei com a prova que, mesmo sendo eficientes, os ditos cujos não são infalíveis.
E assim me vi nas circunstâncias de parecer ter sido o autor de um conjunto de mensagens disparatadas enviadas a todos os membros da minha lista de endereços do correio deste blogue (HerdeirodeAecio@hotmail.com), obrigando-me a pedir posteriormente desculpas por elas.
O assunto parece ultrapassado, pelo menos fiando-me no mesmo dito cujo que, numa linguagem dinâmica e pró-activa (porém obtusa ao ridículo de se encontrar numa situação de casa arrombada, trancas à porta) me informa, depois de uma análise completa ao sistema, que um ficheiro de risco de segurança foi detectado e resolvido. Será?
Quem disse que, nos tempos de correm, devemos guardar o nosso maior cepticismo para as promessas dos políticos? E então para as instruções/informações que nos são prestadas por estes softwares de computador?...
A fotografia é de Tiago Miranda e aparece no Expresso de ontem a ilustrar um artigo sobre a apresentação dos sete princípios gerais da proposta de avaliação dos professores por parte do Ministério da Educação. Mas a fotografia mostra valer muito mais do que o artigo escrito: um instantâneo que junta num mesmo plano o novo ministro Nuno Crato (ao fundo) e o sempiterno dirigente da Fenprof Mário Nogueira – profissional a 100% do sindicalismo desde há 21 anos, este é o seu 13º ministro da Educação!!!
Enquanto o primeiro, de mãos juntas, se parece esmerar na sua apresentação aos representantes dos 14 sindicatos ali presentes, como se fosse possível recomeçar tudo de novo com ele, o segundo, logo pelo lugar ocupado bem cá para trás (salvaguardando a hipótese possível mas improvável dos lugares na assistência terem sido marcados de antemão…), parece demonstrar o que lhe interessa do diálogo e das posições alheias, e a olhar para trás onde está o fotógrafo e a cobertura noticiosa, à procura daquilo que é afinal verdadeiramente importante para si…
Suponho que Iossif Vissarionovich Djugashvíli (Stalin) não precisa de apresentação. É uma figura indispensável da História da Rússia e, ao contrário do que descrevo para a figura de Sun Yat-Sen no caso da China no poste anterior, é uma figura incontornável dessa mesma História russa. Porém, se Sun é valorizado tanto pelos comunistas como pelos nacionalistas chineses, acontece precisamente o contrário com os comunistas e os nacionalistas russos, que tendem a desvalorizar a importância de Stalin para a edificação daquele tipo de regime socialista no Império russo.
As diferenças entre estas duas fotografias suas mostram-nos implicitamente algumas facetas do que foi o estalinismo, o tal regime que tanto desconforto provoca. Compare-se a fotografia tradicional oficial de Stalin (acima - clicar para ampliar), nitidamente retocada, aproveitando o seu melhor perfil e com um olhar tranquilo dirigido para longe, com uma outra fotografia sua (abaixo) mais (digamos assim...) pessoal, apanhando-lhe a outra face, de cabelo grisalho e bigode desalinhado, com rugas e a pele da cara marcada pelas bexigas da infância, o conjunto rematado por um olhar inquisidor.
Sun Yat-Sen é uma figura indispensável da História da China sem ter sido uma figura importante dessa mesma História. Como a Cultura Chinesa não suportaria passar sem dar um sentido aos acontecimentos que se sucederam à deposição do último Imperador, ele acabou por ser escolhido para esse fim. A sua indicação para primeiro presidente provisório da nova República Chinesa (entre 29 de Dezembro de 1911 e 10 de Março de 1912), parece ter sido mais uma opção de compromisso por uma figura respeitada mas impotente¹, do que o primeiro passo da sua caminhada até ao poder supremo - que nunca aconteceu...
A China das quatro décadas seguintes à da data da proclamação da República é um país que irá permanecer sempre dividido entre vários (por vezes, uma dúzia) de centros de poder rivais. E Sun Yat-sen, que veio a falecer precocemente em 1925, foi apenas um dos dirigentes de um deles, porventura o mais importante. Porém, ele também personifica como mais ninguém a necessidade da abertura da China. Sun foi baptizado, formado como um dos primeiros médicos ocidentais da China e passou 16 anos (1895-1911) no exílio, a maior parte deles no Japão, tendo mesmo chegado a casar com uma japonesa. Para a iconografia nacional, Sun Yat-sen vem a sintetizar as várias forças progressistas chinesas nesses tempos conturbados em que a China dividida seguia em direcções políticas erráticas. E é por isso que tanto é possível que ele se tenha deixado fotografar à época de fato e gravata à ocidental (mais acima), como se torna aceitável que na China continental o prefiram exibir vestido com uma daquelas tradicionais túnicas chinesas que só se vieram a popularizar depois da implantação da República Popular (1949).
¹ Recorde-se que em Portugal e naquela mesma época aconteceu algo semelhante com Teófilo Braga, que foi o presidente interino entre 6 de Outubro de 1910 e 24 de Agosto de 1911.
Datada de 1925, não fosse a presença do facilmente reconhecível Stalin e a fotografia pareceria ser uma fotografia de família. De certa maneira é uma fotografia de família, a dos dirigentes bolcheviques de origem meridional (do Cáucaso): da esquerda para a direita, o arménioAnastas Mikoyan e os georgianosIossif Djugashvíli (Stalin) e Grigol Sergo Ordzhonikidze. Manobravam politicamente de forma concertada ao contrário do outro grupo minoritário entre os velhos dirigentes bolcheviques, os de origem judaica como Trotsky, Kamenev, Zinoviev, Litvinov ou Kaganovich. Pode ser uma explicação simplista, mas não desprovida de verdade, para explicar o sucesso da ascensão de Stalin ao poder absoluto na União Soviética.
A China de há 150 anos era um Império decadente e a fotografia acima, colhida em 1867, é uma demonstração disso. Estas forças do Exército Imperial haviam sido derrotadas na Primeira (1839-42) e Segunda (1856-60) Guerras do Ópio e vi-lo-iam a ser novamente na Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-95). Internamente, precisara do auxílio dos estrangeiros para conseguir pôr fim à Rebelião Taiping (1851-64) e o mesmo viria a repetir-se com a Revolta dos Boxers (1899-1900). O pelotão de soldados acabrunhados parece uma inspiração para aquelas unidades de legionários romanos saídas da imaginação de Albert Uderzo (abaixo).
O Prémio Nobel de Economia de 1997 foi atribuído a Robert C. Merton (acima, à esquerda) e Myron S. Scholespelo seu novo método para determinar o valor de derivados. Porém, o seu novo método (conhecido como Modelo Black-Scholes) fora inicialmente concebido em 1973 e, por isso, há muito que a reputação dos dois académicos estava estabelecida entre os meios financeiros, onde eram figuras tão conhecidas quanto requisitadas. Nem de propósito, logo em 1998, ano seguinte ao do Prémio e por causa das crises na Ásia (1997) e na Rússia (1998) um grande fundo de cobertura (hedge-fund) chamado Long-Term Capital Management (LTCM), de que os dois premiados faziam parte do conselho de administração como executivos, entrou em dificuldades financeiras acabando por falir em 2000. Abaixo compara-se a evolução das rentabilidades da LTCM (azul), da Bolsa (vermelho) e dos Títulos do Tesouro (laranja). Mas o fracasso não afectou a confiança dos dois premiados nas virtudes do Modelo por eles concebido. Ainda em 1999, Scholes esteve entre os fundadores de um novo fundo de cobertura intitulado Platinum Grove Asset Management. Também este fundo foi prosperando até que a grande crise financeira de 2008 o levou quase à beira do colapso. Mais recatado e dedicado à vida académica, Merton só esteve associado como director científico ao Trinsum Group, Inc., que faliu em 2010…
Com esta pequena história pretende-se recomendar alguma cautela quanto à confiança que se deve atribuir às opiniões dos gurus das finanças nestes tempos em que eles proliferam…
Quem ainda guardar memória dos tempos do cavaquismo (1985-95) lembrar-se-á como o modelo de desenvolvimento então implementado em Portugal aderia fortemente àquilo que Bruxelas esperava que nós fizéssemos. Havia uma profusão de fundos comunitários (acima, o hoje desaparecido FEOGA), mas, conforme se pode ler nas nove conclusões do celebrado Relatório Porter de 1994 que bem sintetiza as orientações dominantes dessas políticas de desenvolvimento, parecia existir tanto uma aposta na super especialização (os chamados clusters) como uma preferência evidente pelas actividades do sector secundário (indústria) e terciário (serviços) em detrimento do primário (agricultura e pescas).
Passados mais de quinze anos do final do cavaquismo, não deixa de ser surpreendente que seja o mesmo Cavaco Silva, mas desempenhando agora o cargo de presidente, a patrocinar a defesa do consumo de produtos nacionais, fazendo um apelo implícito à produção nacional diversificada, de onde se destaca naturalmente a produção alimentar... É natural que políticos com extensas carreiras, como é o caso de Cavaco Silva, possam evoluir na sua forma de pensar, mas é para fazer esse tipo de acompanhamento que o jornalismo devia existir. Ora até hoje não dei nota de nenhum jornalista que lhe pedisse um comentário à evolução da forma como pensava como 1º Ministro até esta actual, como Presidente…
É até bem possível que Cavaco Silva se recusasse a responder mas, mesmo não sendo época de bolo-rei, creio que, nesse caso e com a devida firmeza e insistência, se tornariam eloquentes as suas imagens (como estas de cima) a evadir-se aos temas inconvenientes, a mastigar qualquer coisita... com matérias-primas portuguesas, concerteza!
Há pelo menos dois eclipses solares todos os anos – embora os eclipses solares totais como o da fotografia acima só ocorram em média de 18 em 18 meses. Mas não é apenas a Lua que se pode interpor entre o Sol e a Terra. Isso também pode acontecer com os dois planetas interiores do Sistema Solar, Mercúrio e Vénus. A esses acontecimentos, muito mais raros do que os eclipses, chamam-se Trânsitos. Por várias razões, o Trânsito de Mercúrio é mais frequente do que o de Vénus, com uma periodicidade média que ronda os 7,5 anos. Porém, essas ocorrências podem ser muito irregulares: os últimos Trânsitos foram em 1999, 2003 e 2006 e o próximo será apenas em 2016. E, como se pode observar pela fotografia acima, o próprio planeta é difícil de identificar, perdido no meio daquela enorme massa brilhante. A distribuição temporal do Trânsito de Vénus é mais bizarra: separados por intervalos de tempo um pouco superiores a um século (105 a 120 anos), emparelham-se dois trânsitos com 8 anos de permeio. Por coincidência, encontramo-nos a meio de um desses intervalos mais curtos: depois do trânsito de 2004 (acima), seguir-se-á outro para o ano, em Junho de 2012. Depois disso, há que esperar por 2117 e 2125…
Mas podem-se fotografar ainda outros trânsitos. Aquilo que se observa no canto superior direito do Sol na fotografia acima, que pode passar por um bichinho ou por um símbolo chinês é afinal a silhueta da Estação Espacial Internacional (ISS) acompanhada de um vaivém espacial. Estes outros trânsitos, sendo frequentes (a ISS completa 15,7 órbitas cada 24 horas), são também rapidíssimos: duram 54 centésimos de segundo!
Hamad bin Hamdan Al Nahyan tem 63 anos e é um xeque pertencente à família do emir do Abu Dhabi, um dos estados constituintes dos Emirados Árabes Unidos. O que o distingue dos seus numerosos parentes não é a sua riqueza, antes a excentricidade de como a despende: tem uma colecção com mais de 200 veículos, sendo muitos deles fabricados (e sobretudo pintados…) por medida, em lotes de sete, com as cores do arco-íris. Diga-se ainda que a colecção está disponível para ser visitada num Museu em Abu Dhabi…
Sendo um senhor feudal, Hamad herdou uma ilha, enorme, a ilha Futaisi com uma área de 5.000 hectares… de deserto. O Xeque Hamad, como se fosse um daqueles putos que gosta de construções na areia, mandou lá construir uma… em grande: um conjunto de canais de água salgada com cerca de 300 hectares que, na maré-cheia (acima), desenham o seu nome que assim se torna legível do espaço (abaixo). Sinal dos tempos e da globalização, Hamad preferiu que o seu nome aparecesse escrito no alfabeto latino, não no árabe…
As sociedades escandinavas valorizam como mais nenhumas as demonstrações de sobriedade e de igualdade da parte dos seus membros mais destacados. O que as faz, sendo monarquias, ter uns monarcas peculiares pela sua modéstia e acessibilidade: a fotografia acima é a de um dos expoentes dessa forma de estar, o rei Olavo V da Noruega (1903-1991), numa das suas saídas regulares para esquiar durante a crise energética dos anos 70 em que, para dar o exemplo, o monarca fazia questão (e publicidade) de utilizar os transportes públicos. No instantâneo, o rei apresta-se a pagar o bilhete enquanto o cobrador o informa que o seu AdC, noutro banco do eléctrico, já o comprara, perante um sorriso entre o envergonhado e o orgulhoso da utente do lado…
Assinalando a eleição pelas bases de Tó Zé Seguro para o cargo de secretário-geral do PS, insiro esta montagem evocativa do nosso protagonismo político actual e das suas raízes. Esta eleição remete-nos para aquela tradição lusitana de copiar o vizinho e rival, independentemente das circunstâncias e sem ligar aos ensinamentos. Em 1986, estava Cavaco e os economistas na mó de cima e o PS também quis arranjar uma coisa dessas para si: escolheu Constâncio que levou uma tareia eleitoral em 1987 e se demitiu em 1989 -para que a demonstração pública de todas as suas capacidades de decisão política estivesse reservada para a primeira década do Século XXI, à frente do Banco de Portugal…
Em contraste, em 1988, andava-se no Sporting desesperado por êxitos desportivos e elegeu-se o fotogénico e imaginativo Jorge Gonçalves para presidente. Um ano depois a instituição passava cheques carecas e o seu presidente, a braços com alguns problemas profissionais com a justiça, acabou por se vir a refugiar em Angola. Poder-se-ia pensar que aquele episódio vacinara os clubes contra as candidaturas dos escroques. Mas não! Em 1997 os adeptos do Benfica, no meio de outra crise, elegeram João Vale e Azevedo por um triénio, um escroque destinado a voos ainda mais altos do que os de Jorge Gonçalves! Diferença: no caso da fuga à justiça, em vez de Angola foi a Inglaterra…
Agora, parece que no PS se quiseram dotar de alguém que se saísse tão bem junto do eleitorado feminino quanto o seu rival do PSD, qual espécie de casting dos Morangos com Açúcar… Desejar boa sorte seria hipócrisia: quem faz as asneiras que lhes suporte as consequências! Quem, como eu, defender os méritos ímpares da democracia, também tem que reconhecer que se trata de um campo aberto aos erros, alguns deles disparatados como é o caso.
O que impressiona na rábula da Guerra de 1908 de Raul Solnado (acima) é que ela se tornou num sucesso na década de 1960, contemporâneo do envolvimento de Portugal não numa mas em três guerras coloniais. É uma demonstração evidente da ingenuidade e do alheamento da esmagadora maioria da opinião pública e da sociedade portuguesa de então. São evidências como estas que tornam caricatos os revisionismos (geralmente de origem comunista) que tentam transformar sistematicamente o 25 de Abril de 1974 em mais do que um pronunciamento militar técnico. Quanto à fotografia, é de um exercício militar norte-americano na Califórnia.
É conhecida a expressão diplomacia da canhoneira que atingiu o seu apogeu no final do Século XIX com a Guerra Anglo-Zanzibar que durou precisamente… 40 minutos. Mas, melhor que esse método diplomático, é a sua fase preliminar de que a fotografia abaixo é um excelente exemplo: antes de se atingir a ameaça explícita e o uso de meios violentos, usa-se a intimidação implícita: não é por acaso que estas seis unidades navais da fotografia (todas semelhantes) estão orientadas para o observador, avançando para ele…
Aos leigos e devido à sua configuração, elas assemelhar-se-ão a porta-aviões, as unidades navais mais poderosas das Armadas depois da Segunda Guerra Mundial. Mas não é o caso. Apesar de possuírem aquele convés de voo, trata-se de grandes navios de assalto anfíbio da Marinha dos Estados Unidos, deslocando cerca de 40 mil toneladas – apenas cerca de metade de um porta-aviões moderno (compare-se abaixo). E a sua missão principal é a de desembarcar 2.000 fuzileiros usando os cerca de 40 helicópteros que transporta. Voltando à fotografia inicial, os seis navios (por ordem de proximidade e da esquerda para a direita: USS Tarawa¹; USS Kearsarge e USS Saipan¹; USS Bonhomme Richard, USS Bataan e USS Boxer) conseguem agregar mais de 10.000 combatentes em mais de 200 helicópteros de transporte e combate apoiados ainda por uma trintena de aviões de combate do tipo HarrierAV-8. Representam um potencial de combate superior ao de 95% das Forças Armadas do resto do Mundo. O problema - para os norte-americanos - é nem todos os países terem costas marítimas…
¹Entretanto retirados de serviço, depois da fotografia ter sido tirada em 2003.
Depois de, há uns dias, ter aqui saudado a transferência do Monstro das Bolachas da blogosfera nacional para a sua condição natural de opositor, permitam-me hoje falar de pulgas e da descoberta de como funciona o sistema de propulsão que as projecta aqui dos blogues para os cargos de assessoria dos ministérios – veja-se não só o vídeo acima mas também este poste do Abrupto. Não deixa de ser um paradoxo que seja o texto de José Pacheco Pereira a provocar respostas que parecem ser reacções alérgicas (veja-se este exemplo), como se fossem os seus autores a terem sido picados pelos agora promovidos…
Depois de um demorado trabalho preparatório para convencer os seus 662 ocupantes, entre 24 de Junho e 7 de Julho de 1995 o Edifício do Parlamento Alemão (o Reichstag) foi embrulhado. Tratou-se de uma criação artística da dupla Christo e Jeanne-Claude que necessitou de mais de 100.000 metros² de um tecido sintético à prova de fogo coberto de folha de alumínio e de 15 quilómetros de cordas para além de 5 dias de trabalhos prévios até à concretização do resultado final da obra que se pode apreciar na fotografia abaixo. De acordo com os dados da organização aquela efémera obra de arte terá sido visitada por 5 milhões de pessoas, para além das outras centenas de milhão que a viram por todo o Mundo, apresentada por uma comunicação social onde raramente se registaram opiniões sobre a valia estética do tão badalado projecto...
Será o momento recente da História em que a realidade mais se aproximou do argumento do famoso conto As Roupas Novas do Imperador de Hans Christian Andersen (1805-1875), aquele conto em que um aldrabão, passando por alfaiate, prometeu umas vestes mágicas ao monarca e em que este, por puro pretensiosismo, acabou por vir passear nu para o meio da multidão… e ser exposto por uma criança! Realce-se que, neste caso, o seu equivalente, o chanceler Helmut Kohl, não se comportou de acordo com o guião – Kohl achava a ideia um disparate e dissociou-se visivelmente do evento, abstendo-se de comparecer. Quanto aos equivalentes da criança que no conto original denunciam o embuste, as denúncias terão sido abafadas pela máquina da comunicação social. Conforme o original, apenas o alfaiate e os papalvos apreciadores da obra… Mas a melhor caricatura que conheço a respeito desta estética artística orientada para a criação de eventos únicos (como será a especialidade de Christo e Jeanne-Claude) é a figura de Eleonoradus, um director teatral arrojado que aparece em Astérix e o Caldeirão. Preso por causa da representação de uma das suas peças que acabou por irritar o Prefeito (por culpa de Obélix…), Eleonoradus recusa-se a ser libertado por causa do contrato para uma representação em Roma, no circo. Uma única representação, mas que representação! Com leões e tudo!... Será muito ao vivo (acima). Apesar de tudo, a dupla moderna mostra-se muito menos idealista do que a caricatura: em 1998 processaram judicialmente uma empresa por vender bilhetes-postais com a fotografia do Reichstag embrulhado sem a sua autorização – e venceram.
Esta fotografia é do norte-americano Garry Winogrand (1928-1984) e poder-se-ia intitular sem dar mostras de uma imaginação por aí além de A Fila. Mas o uso que lhe quero dar é outro: usá-la como teste de comportamento do português típico. Olhando para a fila da fotografia, a quantos de nós não nos ocorreria naquela situação arranjar um pretexto (um esclarecimento, sei lá eu...)para ir ter com o senhor lá do fundo, a ver se a coisa pegava?... Na resposta deve adicionar-se aqueles que só o pensavam com aquele outro ⅓ dos nossos compatriotas que o fariam sem sequer pensar, conforme a tradição nacional dos nossos chicos espertos…
A pretexto do anúncio da captura de Goran Hadzic, o último dos grandes criminosos de guerra sérvios que eram reclamados pelo Tribunal Penal Internacional (sedeado em Haia, nos Países Baixos), creio que vale a pena relembrar os acontecimentos de há 16 anos atrás, em Srebrenica, na Bósnia, envolvendo precisamente os sérvios, os bósnios… e também os holandeses. Em Abril de 1993, a Resolução 819 do Conselho de Segurança da ONU fora aprovada por unanimidade, estabelecendo uma zona de segurança em redor de Srebrenica, uma cidade de maioria muçulmana situada no Leste da Bósnia-Herzegovina (abaixo). Para a verificar e implementar no terreno essa zona de segurança a cidade recebeu então uma guarnição de um batalhão de cerca de 600 capacetes azuis, sob a égide da ONU, uma unidade militar de origem holandesa. Em Julho de 1995, no quadro geral da Guerra Civil que dilacerava as regiões constituintes da antiga Jugoslávia, as forças sérvias da Bósnia sob o comando do General Ratko Mladić invadiram a zona de segurança de Srebrenica neutralizando as unidades holandesas ali destacadas. Cerca de 40.000 civis que aí se haviam refugiado foram expulsos e mais de oito mil homens (militares e civis) foram executados. Por causa desse genocídio, Ratko Mladić (acima) foi considerado um criminoso de guerra, capturado há cerca de dois meses e aguarda a sentença de um julgamento que só recentemente começou. O Mundo ainda não esquecera infelizmente outros episódios do mesmo género desde os que haviam sido perpetrados, por exemplo, pelas SS no decurso da Segunda Guerra Mundial. O que constituiu uma novidade no Massacre de Srebrenica é que ele tivera lugar diante de uma unidade militar que fora destacada, entre várias missões, para impedir que isso mesmo acontecesse – pelo menos, assim fora explicado à opinião pública!
A controvérsia à volta da cumplicidade (por omissão) dos holandeses veio a ultrapassar a da responsabilidade – inequívoca! – dos sérvios bósnios. Correu Mundo uma fotografia em que o comandante holandês, o Tenente-Coronel Thomas Karremans (acima, ao centro) bebia um copo com Mladić (à esquerda). Para se justificarem, os militares holandeses procuraram transferir as responsabilidades para o poder político e para as directivas dele emanadas que lhes limitaram a capacidade de actuação. Na política doméstica ainda vingou essa versão: o 1º Ministro Wilhem Kok demitiu-se em 2002 por causa dessas acusações.
Em termos internacionais e entre os homólogos das outras Forças Armadas, a começar pelos aliados da NATO, o desempenho do exército holandês do Massacre de Srebrenica foi acolhido no meio de um silêncio que teve tanto de cúmplice quanto de eloquente… Se há algo que torne as Forças Armadas dos Países Baixos quase únicas no Mundo é a força negocial das suas associações sócio-profissionais e sindicais (também o pioneirismo na aceitação de homossexuais nas fileiras). Claro que isso terá os seus custos na operacionalidade, a ponto se dizer ironicamente que ali a próxima Guerra não pode começar ao fim-de-semana - não está ninguém no quartel...
Têm sido dias em que muito se tem discutido as soluções para o problema do Euro. Um último consenso opinativo tem sido alcançado à roda da constituição de títulos da dívida pública europeus, os agora famigerados eurobonds. Quase todos no que se escreve por aí parecem ter passado a achar que a solução para a crise serão os eurobonds.
Até a Ana Gomes que, quando acha, acha sempre com mais convicção do que esses todos, também acha que a Salvação está nos eurobonds! Ora os eurobonds, como as luvas do boxeur da fotografia acima, são apenas um instrumento (entre várias outras soluções financeiras possíveis) para um determinado fim. O importante é a atitude, a decisão política.
Quando Angela Merkel se encarrega de amenizar as expectativas da futura cimeira dedicada ao assunto (Merkel afasta avanço espectacular sobre crise grega na cimeira de Bruxelas), creio que se torna transparente qual a sua atitude e o que ela acha – com menos veemência mas muito mais relevância do que Ana Gomes! – da decisão e dos eurobonds…
O evento teve recentemente lugar em Moscovo, intitulou-se Autoexótica 2011, do qual se podem apreciar aqui algumas interessantes fotografias da autoria de Anton Ukhanov. O que torna digno de nota a de cima são ospés inestéticos da modelo que posa em cima do capot do Toyota (clicar para ampliar). Teria sido descuido ou uma nota adicional de exotismo?
Em homenagem ao encerramento do programa de vaivéns espaciais norte-americanos, que terminará definitivamente no próximo dia 21 de Julho com a aterragem da Atlantis, faço aqui uma evocação a todo o programa e aos seus mártires, com uma espectacular fotografia tirada a 18 de Janeiro de 1986 sobre o Deserto do Mojave, quando a nave Columbia regressava à Terra e se preparava para aterrar na Base Aérea de Andrews na Califórnia, cumprindo a missão STS-61-C da NASA. Para além da espectacularidade, a fotografia pode servir também de pretexto para contar uma história…
A aterragem da missão foi atrasada 24 horas por causa das condições meteorológicas em terra. Normalmente estaria disponível mais do que uma pista de aterragem para o regresso à Terra mas, neste caso, os responsáveis pela missão preferiram que a outra pista alternativa na Florida não fosse utilizada para que os cuidados com a aterragem da Columbia não se sobrepusessem ao lançamento (da base da Florida) da próxima missão da NASA que estava prevista para daí a dez dias: seria o voo STS-51-L utilizando a nave Challenger, aquele famoso voo que nunca chegaria ao espaço…
Esta fotografia pode assim assinalar o fim da (falsa) crença difundida entre a opinião pública que a exploração espacial era um empreendimento tão rigoroso que não custaria vidas humanas, uma constatação que, abalada há 25 anos, tornou a sê-lo 18 anos depois com a perda da própria nave Columbia da fotografia em 2003 durante o regresso à Terra da missão STS-107.
Será a disponibilidade mental dos dias de férias que levam a associações que noutras circunstâncias provavelmente nunca faria. Se não estivesse em férias nunca teria espreitado pelo canto do olho para um espectáculo ontem transmitido ao serão pela SIC, um concerto que teve lugar numa jangada em pleno rio Douro no passado dia 1 deste mês diante de uma assistência limitada e selecta e que foi patrocinado pela EDP por ocasião dos seus 35 anos.
E, se não tivesse olhado pelo canto do olho, não teria notado que entre os selectos estavam figuras tanto canónicas (Luís Filipe Menezes) como reaparecidas à superfície (Fernando Teixeira dos Santos), nem teria prestado atenção ao momento do patrocinador protagonizado por António Mexia, Presidente do Conselho de Administração da EDP, que, a convite de Barbara Guimarães, ali debitou os bitaites banais que a ocasião exigia.
Mas foiesta disponibilidade mental vagueante que me fez recordar o Mexia da noite interior quando li a notícia principal do Público de hoje pela manhã, centrada nos enormes prejuízos acumulados nas últimas duas décadas pela empresa dos Estaleiros de Viana do Castelo (acima). Para me questionar sobre por onde teria andado naquele caso a excelência dos gestores em Portugal – aparentemente tão bem protagonizada por António Mexia!
É que haverá em Portugal gestores de mérito com obra realizada em grandes empresas sempre na linha de água – evoque-se o caso de Fernando Pinto à frente da TAP há mais de dez anos. Agora o que continua por perceber, ao ler o currículo de António Mexia, são os feitos de mérito como gestor que o catapultaram para um dos cargos mais bem remunerados de Portugal – numa EDP em que, apetece ironizar, até dirigida pelo Pato Donald seria lucrativa…
Para lá chegar faria todo o sentido que António Mexia trouxesse consigo as palmas da resolução dos problemas estruturais de uma empresa pública média como a Carris, o Metro (de Lisboa ou do Porto), a CP ou a Refer ou então... os próprios Estaleiros de Viana do Castelo. E importa não esquecer o que, a respeito de remunerações dos gestores, foi dito no passado... especialmente pelos responsáveis do PSD (Miguel Macedo).