02 setembro 2010

SELECÇÕES, SELECCIONADORES E SELECCIONADOS

No seguimento a aqui se ter falado de episódios das olimpíadas, vem a propósito começar por recordar um daqueles aspectos caricatos associados aos Jogos Olímpicos, cujos dirigentes durante o período da Guerra-Fria tardaram demais em evoluir do conceito rigoroso quanto ao amadorismo que existira antes da Segunda Guerra Mundial para fórmulas mais flexíveis que se adaptassem à evolução para actividades comerciais que certos desportos iam assumindo - como o futebol ou o ciclismo, por exemplo. Durante essas décadas (1948-1988), por força de uma questão de diferença semântica entre os países ocidentais e os de Leste, criou-se uma categoria especial de atletas que só existiam nos países socialistas: a dos atletas amadores profissionais do treino – policias que nunca haviam disparado a sua arma regulamentar ou bombeiros que não sabiam o que fazer com uma mangueira... Em certas modalidades, as consequências para os resultados desportivos eram risíveis, como acontecia com o futebol.
Nos Torneios de Futebol Olímpico, os países do Leste eram umas potências imbatíveis.Em 1952, ganhou a Hungria, seguiram-se nas Olimpíadas seguintes a União Soviética (1956), a Jugoslávia (1960), novamente a Hungria (1964 e 1968), a Polónia (1972), a Alemanha Democrática (1976) e a Checoslováquia (1980). E os outros lugares do pódio eram para distribuir também pelos mesmos: em Moscovo, a Alemanha Democrática ganhou a medalha de prata e a União Soviética ficou em 3º lugar... Como consequência e perante a importância mediática crescente dos Campeonatos Mundiais de Futebol envolvendo as verdadeiras selecções nacionais na sua máxima força, o Torneio Olímpico da modalidade foi sendo progressivamente desvalorizado até que na década de oitenta, os responsáveis olímpicos estabeleceram um conjunto de regras para os jogadores convocados (idade inferior a 23 anos) que permitiram um equilíbrio entre as selecções que não dependesse da semântica da palavra amador
Esclarecidos desde há cerca de 25 anos esse aspecto do profissionalismo, que fizeram com que o Torneio Olímpico acabasse subalternizado em relação ao Campeonato do Mundo de Futebol, parece assistir-se agora numa fase seguinte, àquilo a que chamarei da super-profissionalização, em que serão os próprios Campeonatos do Mundo e as selecções nacionais a serem subalternizados pelas competições entre as equipas mais importantes, as entidades patronais dos jogadores, as verdadeiras detentoras do poder. Enquanto por cá andamos a entretermo-nos há uns meses com as (in)competências de Carlos Queiroz, o paradigma das relações entre jogadores e federações nacionais parece estar a mudar como se constata analisando o rescaldo do último Campeonato do Mundo de futebol. Usemos o exemplo da selecção francesa, que teve uma prestação deplorável durante a prova e uma cobertura noticiosa como se o que acontecera fosse um assunto de Estado, a merecer o interesse do próprio Presidente Sarkozy…
Porém, as sanções impostas pela Federação Francesa de Futebol ou foram recebidas com uma exuberância desrespeitadora (no caso de Anelka) ou com indiferença (no caso de Ribéry, que tem sido apoiado pelo seu clube, o Bayern de Munique). Na verdade, nada do que as Federações possam fazer parece conseguir incomodar, dentro do campo ou fora dele, jogadores como estes, que se aproximam do fim das suas carreiras e/ou que consideram que já fizeram os contratos das suas vidas… Foi isso que nos fartámos de ver em muitas selecções consagradas durante os jogos do Mundial. A começar pela selecção portuguesa, onde só se aplicaram os jogadores que andavam à procura de bons contratos no exterior. Enquanto por cá nos entusiasmamos a interpretar de acordo com a nossa opinião sobre Carlos Queiroz, qual o significado das várias indisponibilidades manifestadas para representar a selecção nacional, andamos talvez a perder o quadro geral, o do apagamento da importância das selecções nacionais.
Afinal, não será nada do que não esteja a acontecer também noutras modalidades, como é o caso do Basquetebol, em que o Campeonato Mundial que actualmente está a decorrer na Turquia não conta com a presença de qualquer das principais vedetas da NBA, o super-profissional campeonato norte-americano. Também com o futebol europeu, e a manterem-se as tendências actuais de desenvolver a Liga dos Campeões disputada por um conjunto de clubes cada vez mais selecto, os Campeonatos Mundiais ou Europeus e os seus jogos de selecções nacionais tenderão a tornar-se progressivamente em competições subalternas, como acontece agora com o Torneio Olímpico em relação ao Mundial e ao Europeu. Os jogadores que participem nestas últimas competições fá-lo-ão cada vez mais com o fito de se exibirem para serem recrutados para as equipas de topo e tornarem-se super-profissionais. É neste quadro geral que se percebe quanto o dito Caso Queiroz não tem essencialmente importância nenhuma…

Posto isto, qual é mesmo a novidade do aparecimento desta outra lesão em Cristiano Ronaldo? Não se tornaram já numa rotina as suas lesões quando os jogos da selecção são a feijões?

4 comentários:

  1. Muito bem. Muito bem. Muito bem ...

    :))))))

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  2. Ao lê-los a repetirem tantas vezes Muito Bem fazem-me lembrar Mestre Santana nos ensaios de "O Pai Tirano". E continuava ele:

    - Muito Bem! Muito Bem! A calma e a pontuação são a base da boa declamação! Isto é fundamental...

    Recorde-se aqui (http://www.youtube.com/watch?v=oousZv12d48) aos 4:12

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  3. deve ser da pontuação

    "quem faz de exemplos de vida pessoas q marcam um golo, tenho um tio q cospe caroços de cereja a 50 metros" - mais ou menos citado da série dr. house

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