29 setembro 2010

A ORIGEM DA FAMÍLIA, DA PROPRIEDADE PRIVADA E DO ESTADO

Não tendo directamente a ver com o famoso livro de Engels cujo título roubei, este é um poste que também deve ser dedicado à atenção de Directores de Informação que andam demasiado enfronhados com os calendários das suas agendas de programação para que consigam distinguir o que é verdadeiramente importante daquilo que é acessório. Acima temos um genuíno e profundo debate filosófico sobre os fundamentos da propriedade e que é protagonizado por dois anónimos camponeses ribatejanos nos idos anos de 1975. Quem o transpôs para o Youtube ficou-se por essas superficialidades e deu ao vídeo o título de Comprativa, citando a ignorância de um dos intervenientes.

Mas o diálogo, filmado durante a ocupação da Herdade Torre Bela em 23 de Abril de 1975 (na antevéspera do dia das eleições constituintes – as primeiras eleições livres da História de Portugal!), é muito mais profundo do que aquele título gozão possa sugerir, a que se soma ainda as vantagens do realizador (um alemão chamado Thomas Harlan) não ter interrompido os protagonistas a destempo e despropósito como hoje fariam Fátima Campos Ferreira ou Judite Sousa e de não ter aparecido no fim da discussão como comentador a pretender fazer uma síntese do que havíamos acabado de ouvir, qual precursor longínquo de Ricardo Costa…

A discussão não só é cerrada como se nota que quem explica, apesar de assumir uma atitude de superioridade, apenas tem uma vantagem muito marginal de conhecimentos sobre o seu interlocutor. O que ali se confrontava era um choque entre as novas ideologias e utopias que haviam levado à ocupação da Herdade e as eternas realidades da natureza humana que o dono da ferramenta não acreditava que tivessem acabado… A História veio provar que, apesar de no filme ele aparecer com um ar mais abrutalhado e menos eloquente¹, tanto no caso concreto da ocupação da Torre Bela como no do Mundo (abaixo) era o dono da ferramenta e o seu cepticismo que tinham razão…

¹ Note-se, a propósito, no vídeo, três homens que estão encostados aos umbrais da porta e que se permanecem discretos sem interferir - e sem ferramentas, deduz-se! - ao longo de toda a discussão...

2 comentários:

  1. Pergunto-me se o bruto da comprativa ainda será vivo e o que achará da sua figura.

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  2. Pergunto-me se o editor69 terá percebido que não temos a mesma opinião sobre quem naquela cena estará a fazer a maior «figura de urso».

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