13 setembro 2010

MAIS HISTÓRIAS POR DETRÁS DE FOTOGRAFIAS

Embora, como se pode observar pelas fotografias mais abaixo, existam muitas outras fotografias documentando as operações dos alemães contra a Insurreição do Gueto de Varsóvia que teve lugar entre Abril e Maio de 1943, esta que inseri acima tornou-se a mais famosa de todas, ganhou mesmo um estatuto iconográfico entre as inúmeras fotografias da Segunda Guerra Mundial, sendo uma das que melhor simboliza o Holocausto.
Mesmo aparecendo repleta de pessoas, o observador identifica facilmente nela quem são os dois protagonistas: o algoz (no vermelho diabólico) e a vítima (no branco angelical). E conheçamos um pouco das suas histórias pessoais que, se essas histórias dos protagonistas pudessem ser adicionadas em legenda às fotografias, elas, se calhar, tornar-se-iam muito mais complexas e poderiam perder o seu valor como instrumento de propaganda…
O algoz chamava-se Josef Blösche e tinha 31 anos. Tinha um posto equivalente ao de 1º Cabo nas SS. Empunha uma arma (MP-18) que datava já da Primeira Guerra Mundial, num claro indício da pouca relevância militar que os alemães atribuíam à Insurreição do Gueto. Julgando pelas aparências, Jozef Blösche parece ser uma daqueles podões com quem instintivamente se antipatiza e os relatos confirmam-no: era prepotente e cruel.
Como Adolf Hitler, Blösche não era alemão. Nascera no Império Austro-Húngaro, na região dos Sudetas que viera a ser atribuída em 1918 à Checoslováquia e que só em 1938 fora anexada ao Reich alemão. Antes dessa anexação, Blösche já se tornara num activista político do partido pró-germânico local e por isso naturalmente tornou-se logo num filiado do NSDAP depois dela. Terá aí adquirido contactos que facilitaram a sua entrada nas SS.
Blösche conseguiu passar toda a Guerra longe das frentes de combate... Foi capturado em 1945 pelos soviéticos, trabalhou como prisioneiro até 1947, época em que sofreu um acidente que o desfigurou. Depois, por causa da expulsão dos Sudetas da Checoslováquia, veio a instalar-se na Turíngia (Alemanha Democrática) onde casou. Só veio a ser identificado e preso cerca de 20 anos depois disso, em Janeiro de 1967. Foi executado em Março de 1969.
Mais complicada é a identificação da vítima. Existem diversas hipóteses sobre quem seja, algumas de crianças que não sobreviveram, só com a hipótese de Tsvi Nussbaum (então com 8 anos) acontece o contrário. Mesmo sem certezas, vale a pena contar pelo simbolismo a história dos Nussbaums. Assim como Josef Blösche não era um alemão genuíno, também a história da família de Tsvi antes da Guerra contém o seu paradoxo:
É que a família tinha emigrado para a Terra Prometida em 1935, onde aliás Tsvi tinha nascido. Mas regressaram em 1939 à Polónia porque não se adaptaram à Palestina… Deportado para Bergen-Belsen, Tsvi foi o único a sobreviver ao Holocausto. Depois de 1945, ainda viveu por oito anos na terra que o vira nascer, mas acabou por se mudar com 18 anos para os Estados Unidos onde se tornou médico otorrinolaringologista.

Enfim, uma história com um carrasco nazi que não era alemão e com um judeu que não se quis instalar na Terra Prometida...

1 comentário:

  1. Já tinha visto a fotografia dezenas de vezes(e lido bastante sobre este assunto - livro "Mila 18" de Leon Uris), mas este post deu-lhe uma nova dimensão.

    http://olharescruzados.blogs.sapo.pt/

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