28 junho 2010

A MÃO DA FIFA

A fotografia acima foi tirada durante um jogo dos quartos de final do Mundial de 1986 no México, opondo a Argentina à Inglaterra. Mostra o momento preciso em que Diego Maradona, incapaz de conseguir saltar mais alto, se socorre da mão para marcar um golo irregular à vista de centenas de milhões de telespectadores... mas não do árbitro, um senhor tunisino chamado Ali Bin Nasser. A intensa rivalidade entre os dois países (que haviam travado a Guerra das Malvinas quatro anos antes) e a projecção da imprensa do país lesado adicionaram publicidade ao incidente, que se terá tornado possivelmente, mais do que o resto, num dos episódio mais recordados de todo o torneio. E vale a pena recordar que foi já há vinte e quatro anos!...
Ora quando as notícias mais interessantes dos dois jogos de ontem do Mundial 2010 foram dois colossais erros de arbitragem, um em cada jogo, é caso para perguntar se, passados estes 24 anos, terá sido alguma vez preocupação sincera dos responsáveis da FIFA durante esse período evitar que os episódios escabrosos como o da fotografia inicial se repetissem. Ou então, usando as expressões dos nossos comentadores especializados, se alguma vez lhe interessou preservar a verdade desportiva… No formato em que está colocada creio que a pergunta já contém a resposta: é evidente que não! Na trilogia do futebol moderno (desporto – espectáculo – negócio) as preocupações primordiais da FIFA são obviamente outras.
É preciso bastante mais do que a inércia ou o conservadorismo extremo para se poder explicar este comportamento da FIFA em tentar evitar que se repitam destas fraudes. A verdade é que o organismo que tutela o futebol mundial não pretende compartilhar democraticamente as decisões do que acontece em campo com aquilo que vêem as centenas de milhões de adeptos em casa. Em caso destes erros escabrosos, imolam-se os árbitros. Mas, enquanto se mantiver este status quo viscoso, torna-se sempre mais fácil ajustar o desfecho dos eventos às conveniências do negócio, já que na FIFA sempre se preferiu que, apesar da tal verdade desportiva, se possa evitar que alguma selecção menor possa chegar às finais do Campeonato…

8 comentários:

  1. No Rugby seria ensaio, estava lá
    um vídeo-árbitro.
    As aldrabices, dentro e fora do
    campo,são uma das "virtudes"do
    futebol,e são para manter.

    Abraço

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  2. COMENTÁRIO AO POST DE ANTÓNIO TEIXEIRA, "A MÃO DA FIFA"

    Este post, recordando a famosa “Mão de Maradona”- a “Mão de Deus”- resume concisamente, o actual Futebol a “Desporto, Espectáculo, Negócio”.-E tece judiciosas considerações sobre a FIFA e o Futebol.

    Mas suscita uma outra abordagem, bem mais vasta, sobre o uso ou não de meios técnicos e tecnológicos possantes, para coadjuvar, apoiar o trabalhito do “Árbitro”, em campo.

    Os campos dividem-se:

    - os “puristas”-grifado- fixados no modus vivendi dos primórdios do futebol “organizado;

    - os “vanguardistas”-grifado- jogando tudo na Modernização, e no colocar os Avanços Técnicos e Tecnológicos ao Serviço da “Qualidade de Vida”, no sentido amplo de tudo remeter para a “VERDADE”, “TODA A VERDADE”.

    As mutações, no fluir objectivo das coisas, terão sempre de ser cristalizadas, num acerto dos “Conceitos”, no ajuste, na adaptação, do “ Direito”, do Normativo.

    “Definições” “Mutantes” numa “Realidade” “Mutante”.

    Anoto, contudo, que estou “ a meter a mão em seara alheia”.

    Vejamos.

    Em toda a minha vida, que vai longa, só fui uma vez a um Estádio de Futebol” ver um desafio oficial.

    Só tinha visto, na aldeia, os jogos “Casados contra Solteiros”!!!!!

    Foi, em Coimbra, no Estádio Municipal, em 1962.

    Fui do Porto para Coimbra, expressamente, para assistir ao Académica – Benfica.

    Mas não fui lá “regalar o olhito” ou “gonflar a adrenalina”.

    Fui lá, com um apito, para “SABOTAR” o Jogo, por tal ser importante para o Movimento Estudantil, em plena CRISE ACADÉMICA DE 1962.

    CORDIAIS E AMISTOSAS SAUDAÇÕES DE

    ACÁCIO LIMA

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  3. A estrutura de topo da FIFA que decide as alterações às leis ou regras do jogo(são coisa diferentes) é constituida por oito membros dos quais 4 são britanicos.
    Representam a Inglaterra, Gales(!), Escócia(!) e a Irlanda(!) não sei se a do Norte ou a Republica e todos eles têm mais de oitenta anos.
    Este conservadorismo que remonta ao principio do sec. XX diz bem da sua atitude perante as novas possibilidadades t+ecnicas que estão disponiveis.
    Eu que sou um antigo "rugbista" tenho visto a IRB 8International Rugby Board) alterar as regras e organização do jogo tendo sempre em atenção a dinamica do espectaculo e a preservação da verdade do jogo.
    O mesmo se pode dizer da NBA e do Basquetebol em geral, do ténis, do andebol, voleibol, golf, hoquei, ciclismo etc.
    Apenas o futebol permanece imutavel nas suas regras e organização vá saber-se porquê, salvaguardando-se algumas timidas e ridiculas iniciativas como aquela que esta época foi o gaudio dos fãs. Os celebres arbitros de linha de baliza, para além do institucionalizado quarto arbitro(!) que não é mais do um funcionário admnistrativo com estatuto superior.
    Sugestões:
    Recurso ao video ábitro para decidir nos casos de golo como aconteceu ontem;
    Reduzir o tempo de jogo e torná-lo em tempo útil com recurso a uma mesa comandada pelo árbrito(tal como no andebol);
    Substituições mais alargadas;
    Penalizações de exclusão por tempo tal como acontece com os cartões amarelos no rugby, no andebol;
    Linhas defensivas entre as quais um pontapé directamente para fora deverá ser marcado onde a bola foi chutada e não onde saíu;
    Se o jogador fora da grande área foi impedido faltosamente de ir isolado para a baliza deve ser-lhe permitido continuar isoladamente depois da falta ser assinalada cumulativamente com a punição disciplinar.
    Estas são medidas que têm a ver com a oranização do jogo e não com as suas regras, considerando que a única não "natural" é a fora-de jogo.
    Claro que o indicado anteriormente deveria ser introduzido paulatinamente.
    Seguramente que a sua introdução traria melhorias óbvias.
    PS: O comentário do Acácio Lima não acrescenta nada ao seu post post e até diria que é de dificil leitura.
    Será que apenas quer dizer que era um revolucionario em 62?
    E o futebol com isso?

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  4. Confesso não saber distinguir se aquilo a que me referi no poste será uma lei ou uma regra Fernando Frazão.

    Mas parece-me que será muito menos do que tudo aquilo a que se referiu no seu comentário: trata-se apenas da existência de um outro nivel de recurso quando do julgamento de algumas jogadas mais duvidosas durante um jogo de futebol.

    Como acontece com outras modalidades como referiu o Paulo. Pelo menos quando se tratar de jogos com uma projecção de milhões de telespectadores.

    Porque se o desrespeito pelas tais leis/regras se verificarem de forma evidente à frente desses tais milhões de espectadores então o futebol tornar-se-á num espectáculo que não terá qualquer preceito moral - e então que sentido fará sancionar um jogador que simula uma falta?

    Quanto a Blatter, ele não tem que pedir desculpa porque, se fosse responsável, o que ele teria que fazer era, aguardando o fim do Mundial, pedir a demissão.

    A tese que defendeu desde há 12 anos, a de que o erro humano é inerente ao futebol acabou por se virar contra ele: parece evidente que ele humanamente errou ao apostar na oposição à evolução tecnológica dos critérios de julgamento das jogadas. E não devem ser apenas os árbitros envolvidos a pagar por isso.

    O que não invalida que reste uma pergunta pertinente. Há algum interveniente envolvido nestes eventos que esteja mesmo interessado na "verdade desportiva"? Há quem queira correr o risco de que a final de um campeonato do Mundo seja um Uruguai-Paraguai?

    Não me parece...

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  5. Falando de futebol jogado, este jogo é também recordado, não só pela mão mas também pelo segundo tento, em que Maradona fintou meia equipa inglesa. tudo isso temperado, claro, pela inimizade entre od dois países, por causa da guerra quatro anos antes. O próprio Maradona já disse que os ingleses ficaram com as mãos "sujas de sangue" por causa da invasão Às Malvinas, mas ao mesmo tempo atacou a ditadura militar argentina...esquecendo-se que representou o país durante esse regime e que a invasão inglesa permitiu a sua queda.

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  6. Tanto como as peripécias memoráveis do jogo, o que de importante queria recordar dele era a antiguidade: 24 anos.

    E pretendo aludir a uma permissibilidade tanto oficial como social para a pulhice no futebol que aqueles troféus de "fair-play" que a FIFA vem propondo não anulam.

    Entendamo-nos: considero Diego Maradona alguém com padrões morais muito abaixo do que é aceitável.

    Atribui-se o estatuto de heróis a verdadeiros casos de polícia como Paul Gascoigne, por exemplo.

    Como fenómeno social que é, no futebol não é possível dissociar o desempenho do executante.

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  7. Caro A. Teixeira

    É verdade que o desporto é um fenomeno social, assim como quase tudo na vida.
    No entanto, não estou de acordo consigo quanto aos comportamentos sociais de algumas estrelas do desporto (ou quaisquer outras).
    A mim não me interessa nada a vida sexual do Tiger Woods, não me interessa que o John Terry ande a dar umas voltinhas com a mulher de um colega de equipa que (esta é fresquinha), o Cristiano Ronaldo tenha um filho de uma mulher não identificada, que o Maradona tenha (será que o tempo do verbo foi mal empregue?) consumido coca, que o Dunga vista camisas horriveis, que o Amstrong tenha trocado a mulher pela Sheryl Crow que, aliás, já o deixou, que o Miguel se porte mal nas discotecas, que o Magic Johnson seja portador de SIDA, que afinal há homosexuais no rugby (aquele jogo de "homões", do qual eu sou ex-praticante e fâ), que o Miguel Veloso gaste mais tempo a organizar os penteados que a treinar.
    Do que eu gosto é do Tiger a fazer drives de 300 metros, do John a jogar à bola, do Maradona e do Dunga tentando prolongar a suas maravilhosas carreiras como jogadores como treinadores, logo, à primeira, com as selecções dos seus países, e ainda do Amstrong a tentar ganhar o oitavo Tour de France (com a "tesão" que se lhe reconhece, mesmo tendo o "aparelho" debilitado), do Cristiano e do Messi a fazer das tripas coração.
    Quanto aos Migueis não me intessam para nada porque não merecem.
    Tudo o resto é conversa para a Caras a Lux e regimes ditatoriais que os usam para propaganda.
    É verdade que os referidos cidadãos e outros que agora não me lembro se pôem a jeito.
    Eu (felizmente há mais), no entanto, como ex-desportista, não confundo o conteúdo com o continente.
    Limitemo-nos a seguir as suas prestações como artistas, no estrito contexto que os elegeu como tal.
    Neste sentido, são maus, muito maus os comportamentos de Paul Gascoigne, ou mais recentemente Cristiano,Filipe Melo e do Robinho, porque isso mexe com a sua prestação no "estrito sensu da sua competência".
    Como ex-desportista (andebol, rugby, judo) sempre soube ganhar e perder com dignidade.
    O desporto e a competição que daí advem não passa disso memo e acaba quando árbitro apita, sendo sempre de previligiar as "terceiras partes"("private joke" dos jogadores de rugby).
    As extrapolações que foram feitas deram sempre maus resultados, vidé oa Jogos Olimpicos de Berlim.
    Se alguém pensa que os jogadores ingleses e argentinos quando entraram em campo se lembraram da guerra das Malvinas/Falkland deve estar louco.
    Apenas conversa de jornalistas ou como agora se diz "mind games".
    Quanto à diferença entre leis e regras do jogo que foi objecto de comentário seu, será tema de próximo comentário.
    Cumprimentos

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  8. Se não estiver enganado, Fernando Frazão, creio que dedicou metade do seu comentário a algo que julgou ter lido e que eu não escrevi. As minhas apreciações sobre a moral dos desportistas cingem-se – excepção ao doping – àquilo que eles fazem em campo durante os acontecimentos desportivos.

    Aquilo que se passou com o episódio do golo com a mão no Mundial de 86 foi de tal maneira evidente que as perguntas que os jornalistas depois lhe colocaram, embora pudessem parecer ser pedidos de esclarecimento sobre o que se passara, eram realmente um teste de carácter a Diego Maradona… Teste no qual ele chumbou.

    E, já agora, não conheço escroqueria semelhante praticada por Pelé, com quem Maradona costuma ser comparado… mas estou sempre a tempo de mudar de opinião.

    Cumprimentos

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