15 junho 2010

O CASO DWYER

Porque é praticamente desconhecido na Europa, começo por sintetizar aquilo que foram os preliminares do chamado Caso Dwyer. Budd Dwyer foi um político norte-americano filiado no Partido Republicano e originário da Pennsylvania. Entre outras funções, foi o Tesoureiro do Estado (o responsável pelas finanças estatais) de 1981 a 1987. Em 1986, foi acusado e veio a ser condenado em Dezembro desse ano por um caso de suborno em que se envolvera. Como costuma acontecer com a maioria destes casos, Dwyer veio protestar publicamente a sua inocência, tendo chegado mesmo a apelar por escrito para que lhe fosse concedido um perdão presidencial pelo então Presidente Ronald Reagan.

Habituado e habilidoso a lidar com os órgãos de informação, Dwyer, que se mantivera no seu cargo apesar da condenação que recebera e de, entretanto, ter sido eleito um novo Governador do Estado, convocou uma conferência de imprensa para o seu gabinete na véspera do dia em que iria ser lida a sua sentença. A expectativa geral era que se tratasse de uma conferência de imprensa em que Budd Dwyer apresentaria a sua versão dos acontecimentos e se lamentasse do tratamento injusto a que o estavam a sujeitar antes de apresentar a sua demissão do cargo. Porém, Dwyer estava disposto a pagar o preço máximo pela preservação da sua imagem pública, manipulando o aparelho da informação

A declaração que Dwyer começou por ler na conferência de imprensa ia de encontro às expectativas desse aparelho, mesmo nos seus excessos de comparar o sistema judicial a um Gulag. O que se seguiu, não. Depois de entregar, sempre em frente das câmaras e dos microfones e a três colaboradores diferentes, cartas para a sua mulher, para o novo Governador e assumindo-se como dador de órgãos, Budd Dwyer tirou de um envelope um revólver de cano comprido calibre .357 Magnum (um verdadeiro pistolão!), anunciando aos presentes que aqueles a quem aquilo pudesse afectar deviam sair da sala (fotografia acima), antes de encostar o cano ao palato e puxar pelo gatilho apesar dos pedidos dos presentes.

A questão que suscitou maior controvérsia na altura (Janeiro de 1987) terá sido a da exibição total ou apenas editada das imagens do evento nos media. (Aviso: as imagens são violentas. O vídeo com as imagens então recolhidas por um dos cinco canais de televisão presentes pode ser visto nesta ligação.) Na questão das imagens, aquilo que acontecera evidenciava um conflito óbvio entre mostrar a realidade e a conveniência de o fazer. Mas esse era só um dos problemas levantados pelo Caso Dwyer. O outro, porque mais desfavorável para o tal aparelho da informação não costuma ser debatido: a capacidade que tem qualquer político esperto, mesmo de segunda categoria, de manipular a agenda informativa

O Caso Dwyer foi um excesso, mas o protagonista encenou-o antecipando perfeitamente como se comportaria o aparelho com a notícia que ele iria criar. Apesar de já não possuir outros argumentos substantivos, o protagonista contou com a sua condição de vítima à frente das câmaras para assim proteger a sua reputação futura. Não é em vão que recentemente se produziu um documentário a procurar limpar-lha… Outro político, Georges Clemenceau, terá dito no fim da Primeira Guerra Mundial: Se me preocupasse com a minha glória, morreria agora! Budd Dwyer, com a sua carreira em declínio e já só preocupado com a sua reputação, organizou as coisas para que isso lhe acontecesse mesmo…

Sem comentários:

Enviar um comentário