Este
poste não pretende ser uma recensão do
livro acima, mas uma reflexão provocada pelo seu título e conteúdo. Uma parte da história que Niall Ferguson nos conta neste livro é a de como o sector financeiro se tem vindo a complexificar ao longo da História, com o aumento da sofisticação da actividade bancária propriamente dita, à criação das Bolsas de
Mercadorias, de
Títulos e de
Futuros. Um aspecto, porém, parece-me que não ficará claro para o leitor depois de ler aquelas 350 páginas: será que, de acordo com Ferguson, o
Dinheiro é apenas
um meio ou será um
fim?
São raras as pessoas leigas que tenho encontrado que mostrem dominar com segurança a distinção entre aquilo que é da esfera do económico e o que é financeiro. A expressão económico-financeira, mais o seu hífen, foi inventada precisamente para
desenrascar quem não tem a certeza de qual se trata… Porém, também são raras as pessoas que têm dúvidas quando a definir o que consideram
riqueza: não será directamente o dinheiro, que apenas servirá para dar uma medida da sua grandeza, mas antes o
bem-estar proporcionado pelos bens e serviços que forem comprados com ele.
Nessa perspectiva concreta, parece não haver dúvidas para o cidadão comum sobre qual será a importância relativa das duas e as pessoas esperam que haja uma associação entre a economia e as finanças. Mais, esperam que a função do aparelho financeiro seja a de
estimular o aparelho económico numa relação recíproca dinâmica. Só que, com esta
Ascensão do Dinheiro, estamos a construir uma sociedade em que as coisas não se passam bem assim… A globalização fez com que se tornasse fácil ao sector financeiro arranjar dinheiro, que não fosse o gerado pelo sector económico com o qual trabalha...
Assim se criam enormes défices externos e assim se dispensa a necessidade que o destino desse dinheiro vindo do exterior seja o crescimento económico interno. É um fenómeno que estamos a assistir em países como os Estados Unidos ou como... Portugal. E o efeito político perverso é que se assiste à convivência de sectores financeiros
pujantes com sectores económicos
decrépitos. Obama poderá estar
a sublimar esse problema no valor do bónus recebidos pelos banqueiros, mas a questão não será bem essa, porque se trata de todo um sector (financeiro) que parece estar dissociado do resto da sociedade…
Em Portugal, para dar um exemplo
nosso, os lucros do
primeiro semestre de 2009 dos nossos cinco maiores bancos (BES, BPI, CGD, Millenium e Santander) dariam para pagar
a pronto o famoso par de submarinos do Dr. Portas… É perante paradoxos como estes que antecipo que haverá provavelmente cada vez menos dificuldades políticas em que, a começar pelos Estados Unidos, se comecem a
sobretributar os lucros do sector financeiro. O que será um fim para
esta fase da
Ascensão do Dinheiro. É que, embora Ferguson não o diga expressamente, o dinheiro é apenas
um meio…
O
fim, esse, como em todas as sociedades humanas, é sempre o
poder. Esse é que é o factor decisivo. Aliás, se o dinheiro fosse mais do que um meio, e apenas para exemplo, então quando nos referíssemos às elites do III Reich e aos Julgamentos de Nuremberga, todos saberíamos quem havia sido
Hjalmar Schacht (abaixo, ao lado de Hitler) e poucos são os que ouviram falar dele…