17 janeiro 2018

O DISCURSO DE DESPEDIDA DE EISENHOWER - O ALERTA PARA OS PERIGOS DO COMPLEXO INDUSTRIAL-MILITAR


17 de Janeiro de 1961. A três dias de terminar o seu segundo e último mandato, o presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower profere um discurso de despedida televisionado e radiodifundido para todo o país. Embora o discurso tenha uma duração total de 16 minutos, ficou recordado pela passagem em que o presidente - que, recorde-se, era um oficial general - alerta os seus compatriotas para a influência política crescente daquilo que designou por o «Complexo Industrial-Militar», uma expressão que acabou por identificar o discurso (veja-se o vídeo acima, a partir dos dois minutos). Foi uma daquelas raras ocasiões em que um político levanta publicamente uma daquelas questões complexas e para as quais não existem respostas fáceis. O Complexo (military–industrial complex no original) é constituído pelo triângulo formado pelas chefias militares, os congressistas e os gestores das indústrias relacionadas com a defesa, que se suportam reciprocamente no interesse de manter um orçamento elevado dedicado aos gastos com segurança e defesa. O alerta de Eisenhower é tanto mais significativo quanto era, simultaneamente, uma admissão do seu fracasso em conseguir pôr cobro ao despesismo com armamento que, no seu caso concreto, entre 1953 e 1961, tivera como pretexto a corrida à construção de um caríssimo arsenal nuclear, brandindo como justificação uma ameaça soviética que a História veio a demonstrar que era propositadamente empolada. Tratou-se de um discurso tão interessante quanto importante. Quase todos o elogiaram, muitos hoje ainda o elogiam, mas reconheça-se que não se lhe ligou nenhuma. O Complexo apenas prosperou. Em 2011, 50 anos depois do discurso, os Estados Unidos possuíam 4,4% da população do Mundo, a sua economia representava 21% da Economia Mundial, embora gastassem 41% das despesas militares de todo o Mundo, o que equivalia ao somatório dos 13 países que se lhes seguiam na lista dessas despesas. Com tal desequilíbrio, ninguém ousa desafiar directamente os Estados Unidos no campo militar (a não ser que se veja forçado a isso...), mas, ironicamente, isso não invalida que as potências rivais os desafiem noutros campos.

2 comentários:

  1. Resulta curioso que, apesar do continuo aumento das despesa militares, o número de membros das forças armadas dos EE.UU. foi sendo rebaixado até cerca de meros 1.350.000 atuais e, creio haver lido que, apenas 1/3 deles sao combatentes. Portanto, as despesas parecem estar sendo dirigidas ao desenvolvimento de armamento em base a tecnologias cada vez mais sofisticadas e, como sabemos, cedo ou tarde, essas tecnologias acabam se incorporando à nossa vida ordinária.

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  2. Na verdade a guerra mudou.já não ha soldados de infantaria a combater nos campos de batalha.A guerra tornou-se asseptica e pro isso muito mais perigosa

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