02 setembro 2016

OS PARTIDOS (QUE NÃO SÃO) AMIGOS DAS EMPRESAS

A falência do PS até se pode tornar um excelente pretexto para umas boas piadas do Inimigo Público. Mas ser o partido que está no poder a exibir dificuldades financeiras não deixa de ser uma grande novidade em Portugal. A tradição portuguesa era a oposta: os partidos que iam para a oposição é que perdiam os amigos todos. Descartando a hipótese - sempre verosímil - de se poder tratar de uma insidiosa (e inteligente) campanha de charme destinada a despertar a simpatia da opinião pública, estas dificuldades financeiras dos socialistas podem ser interpretadas também como a consequência da adopção de políticas que são o contrário das boas políticas que Eduardo Catroga recomendava que o PS fizesse ainda não há seis meses, que escolhesse parceiros adequados ou que fosse um partido amigo das empresas. Eduardo Catroga falava com o mérito de alguém que já era da(s) outra(s), dispõe-se a ser desta e desconfio que quer continuar a ser da próxima. Mas aquela expressão que ele usa de «partido amigo das empresas» é uma expressão superiormente irritante, que ouço papagueada sem escrutínio de há alguns anos para cá.
 
A expressão irrita-me: a) Porque os partidos, sendo em tese amigos de todas as empresas por igual, tendem a ser muito mais amigos das empresas maiores do que das outras. Havia muita amizade pelas PMEs na redução do IVA da restauração mas todos condenaram a medida. b) Porque essas empresas que recebem a amizade institucional dos partidos costumam retribuir essa amizade de uma forma personalizada; e isso às vezes pode levantar problemas. c) E porque é do mais elementar bom senso reconhecer que as empresas não votam; quem vota são os eleitores, o patrão da empresa, os accionistas da empresa, os trabalhadores da empresa - segundo aquele principio consagrado de um homem = um voto - e todos eles acolherão de bom grado as tradicionais manifestações de amizade que os partidos lhes costumam endereçar por altura das campanhas eleitorais - em tese, dispensar-se-iam essas outras amizades supletivas da parte dos partidos.
 
Em suma, se o PS passa por dificuldades financeiras, se calhar deve ser por não estar a ser um partido amigo das empresas, ou então sendo-o, não está a ser amigo das empresas certas - tanto pior para o PS, mas isso, depois destes últimos anos de tanta amizade pelas tais empresas e de se esquecerem de mim, até me parece um excelente sinal.

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