26 setembro 2016

A (FALSA) QUESTÃO DAS INVESTIDURAS DO SÉCULO XXI

Costumava ser perante vitórias de partidos de esquerda, aconteceu mais recentemente com o Brexit e agora, pelos vistos, passou a ser com Donald Trump, visando a ala ultra direita do espectro político. Ao menos reconheça-se o seu ecletismo. O método (recorrente) consiste em invocar as reacções adversas das bolsas (também conhecidas por «os Mercados») para mostrar qual é o lado certo e o errado de uma disputa eleitoral que se aproxima. O expediente faz lembrar na aparência a questão medieval das Investiduras que, entre 1076 e 1122, colocou em confronto o poder temporal do imperador e o poder espiritual do papa. Se então houve a necessidade de separar aquilo que era de César daquilo que era de Deus, actualmente quem promove estas notícias não quer clarificar a linha divisória entre o que é política e o que é economia. O tempo veio demonstrar que o poder espiritual era mais uma construção ideológica do que uma realidade: o imperador Frederico II, por exemplo, recuperou Jerusalém na sexta Cruzada (1229), apesar de à época estar excomungado pelo papa... A excomunhão não o impediu de alcançar um grande triunfo político e diplomático. Como outrora seria pretensão dos papas, pretender-se-á agora que haja uma certa espiritualidade orientadora ou sancionatória no comportamento das bolsas antes ou depois dos resultados eleitorais. As bolsas não gostam de Trump. A verdade é que essa verdade só se torna verdade para aqueles que têm fé n'«os Mercados». Circunstancialmente até poderá acontecer o inverso e os fiéis podê-lo-ão aproveitar para cabeçalho, mas estruturalmente compete às bolsas seguir o comportamento da economia real - e não o contrário. É por isso, por exemplo, que a ausência de notícias sobre o comportamento da bolsa de Londres depois do Brexit é o mais eloquente dos silêncios, depois do que se escreveu quando da votação...

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