06 setembro 2016

A NOSTALGIA VENDE, MAS O QUE É VENDIDO REALMENTE POR NOSTÁLGICO?

Está prometida para daqui a dois meses a edição de mais um álbum de Lucky Luke. Intitular-se-á La Terre Promise. Para o conhecedor da (nona) arte e da obra (de Morris) em particular, não escapará a semelhança da capa (em pior...) com a capa de Le Pied-Tendre, uma aventura das originais da dupla Morris & Goscinny, que foi desenhada já há... 48 anos (em 1968). René Goscinny morreu em 1977 e Morris em 2001, Edgar Pierre Jacobs, o autor original de Blake & Mortimer (abaixo), em 1987 e Tibet, o desenhador de Ric Hochet, morreu em 2010. Desses tempos dos primórdios da escola de BD franco-belga, quem está vivo é nonagenário (ou perto) e já não está activo. Mas, como se comprova por estas capas (a serem editadas antes do próximo Natal), a nostalgia de manter certas personagens clássicas de BD vivas tornou-se num dinâmico nicho do mercado editorial da banda desenhada franco-belga.
Conheço quem aprecie esse processo de recriação nostálgica e essas novas aventuras, embora não seja o meu caso. O desafio é grande para os novos autores que as repegam, o de procurar superar os criadores originais, e nunca, naqueles casos em que me dispus a verificar o resultado, lendo as obras desses sucessores, vi esse desafio conseguido, para não cometer a descortesia de dizer que nem sequer o vi a ser tentado. É engraçado, porque eu tinha a Nona Arte por tão pouco popular que se podia dar ao luxo de os seus apreciadores genuínos serem verdadeiramente conhecedores e exigentes. Afinal, verifico que talvez não seja assim. Há um núcleo de veteranos que se afeiçoaram (por exemplo) a Asterix, independentemente dos méritos artísticos de quem o conceba e o desenhe. Assim como haverá outro núcleo que se dispõe a pagar para ver um ancião de 92 anos em palco, como se ele pudesse cantar como outrora cantou Charles Aznavour... É tudo uma questão de nostalgia pura.

2 comentários:

  1. Isto é complicado, a continuidade da tradição americana nos comics. E o sucesso comercial é implacável - o último Asterix (bem melhor, já agora, do que os do Uderzo) vende muito mais do que os álbuns dos tempos heróicos. A mostrar a apetência do público pelas personagens, e ainda bem por um lado. Mas há a degenerescência do panteão, o caso do Blake & Mortimore, com várias equipas desiguais a trabalhar é incrível - e a adulterarem o conteúdo moral (Mortimore com namorada, por exemplo). O ano passado veio o último Corto Maltese - é mesmo melhor nem falar disso

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  2. Obrigado por ter referido Corto Maltese. Relembrou-me que um dia ainda terei de me explicar por aqui porque é que considero que as histórias de Corto Maltese, sendo excelentes histórias ilustradas, não são histórias de BD...

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