13 setembro 2016

A QUE TÍTULO É QUE QUEM EXPULSA QUEM?

A Commonwealth britânica é conhecida por, de quando em vez, suspender alguns dos seus membros por mau comportamento. Foi a África do Sul entre 1961 e 1994 mas também o Paquistão, a Nigéria, o Zimbabwe, as Fidji... O instrumento da suspensão e da ameaça de expulsão entrou de tal forma na rotina da organização que, certa vez e em jeito de desafio insolente, o Gana de Kwame Nkrumah propôs aplica-lo ao próprio Reino Unido, por práticas neocoloniais... Em contrapartida, a atitude de um ou vários membros de uma federação ou confederação a propor a suspensão ou expulsão de um outro membro do mesmo parece-nos absurdo. Não estamos a imaginar uma coligação de governadores de estados cosmopolitas (e democratas) norte-americanos da Nova Inglaterra a proporem-se expulsar outros do Sul Profundo invocando a tacanhez e o racismo entranhado (e o republicanismo). Nem estaremos a imaginar um bloco de cantões suíços alemães protestantes a pressionar o do Ticino para sair da confederação helvética por este ser predominantemente italiano e católico. A União Europeia estará no meio entre o historial da Commonwealth e o da Suíça. Porque era um projecto mais ambicioso do que a Commonwealth, não era assisado dizer muita coisa sobre os outros estados-membros, mas não só se diz como parece que cada vez se diz mais e de forma mais assertiva. Ainda nenhum estado-membro foi suspenso, muito menos expulso, houve quem se prepare para sair pelo seu próprio pé (Reino Unido), mas houve e há certos governos que parecem votados ao ostracismo. E as afirmações como as acima proferidas pelo ministro luxemburguês dos Estrangeiros ao jornal Die Welt (acima) só se podem conceber num quadro de diplomacia-espectáculo. Não tenho dúvidas que críticas semelhantes que o mesmo ministro endereçasse a um outro país fora da União (por exemplo, a Sérvia) não teriam nem uma fracção da difusão que estas tiveram. Mas ele sabe isso perfeitamente. O exercício só servirá para o luxemburguês se pôr em bicos de pés, usando o quadro da União Europeia, e emitir umas opiniões que sem essa cobertura nunca faria sentido assumir: a Hungria tem 20 vezes a população do Luxemburgo e a distância é de 1.000 km entre as duas capitais. Além de que, no campo da diplomacia-espectáculo, não há limite para a tonteria: daqui para amanhã, nada impede o ministro dos Estrangeiros húngaro de copiar Nkrumah e de ser ele a pedir a expulsão do Luxemburgo, invocando o escândalo, ainda hoje por abafar, dos Luxleaks... É que a indução à evasão fiscal das empresas a operar no resto da União, para usar precisamente as palavras do ministro luxemburguês, também afecta "a coesão e os valores da União Europeia".

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