23 setembro 2016

AS «BOCAS» DO SENHOR LALL DO FMI

Ainda não percebi muito bem se é o senhor Lall que manda muitas bocas, se o que há é um grande zelo de uma parte da nossa comunicação social em coleccionar todas as bocas que ele manda. O que importa é que o resultado da sua actividade favorita pode ser apreciado mais abaixo, naquilo que é apenas uma amostrinha dos cabeçalhos que se escrevem à custa das suas inspiradas palavras. E isto foi só nos últimos três meses. Que foram os meses de Verão, quando vai tudo para a praia. O senhor Lall também foi, presume-se. Quando não está na praia, o senhor Lall, recorde-se, chefia a missão do FMI em Portugal. Adicionalmente, parece funcionar como consultor económico sénior do liberalismo económico em Portugal, isso depois do passamento do saudoso doutor António Borges. (O lugar teria sido naturalmente de Vítor Gaspar se as coisas tivessem corrido bem. Mas não correram, não é?...) Assim, quando o ouvimos dizer em finais de Junho - a Subir Lall - que o principal esforço tem que ser feito nos salários e pensões, já temos experiência que baste para perceber o que ele quereria dizer com o eufemismo esforço: FMI pede corte de 900 milhões em salários e pensões, como ontem se noticiava. O FMI explica ao governo português o que fazer, como fazer e onde fazer; e o recado vai em carta aberta. E quanto ao défice deste ano, já é tarde para o corrigir. Provavelmente terá razão neste último caso, as opiniões de Subir Lall podem não estar sempre erradas, estão é tão eivadas de ideologia que cumpri-las - como o fez o governo anterior sobretudo depois da Saída Limpa - seria torná-lo num procônsul de poderes que ninguém elegeu. A missão de Subir Lall é a de cuidar dos interesses dos credores da nossa dívida, não dos interesses dos portugueses. O governo português tem a legitimidade democrática de fazer orelhas de mercador às suas opiniões, mas, quanto à forma, imaginemos por momentos que um outro chefe de missão, essa diplomática, e também acreditado em Portugal exibia a mesma notoriedade e o mesmo à vontade deste senhor Lall. Não estaria esse hipotético embaixador em risco de se tornar numa "persona non grata"?... Então porquê esta aceitação de que sujeitos como o senhor Lall tenham este «direito especial de intromissão»?...

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