12 março 2007

SKYLAB – O SÍMBOLO ESPACIAL DE UMA AMÉRICA DEPRIMIDA

Skylab foi o nome dado a um projecto espacial norte-americano dos anos 70, em que se colocou em órbita terrestre um laboratório destinado a experiências (daí o nome do projecto, abreviatura em inglês para a expressão laboratório do céu), destinado a ser tripulado por equipas de três astronautas por períodos que fossem temporal e progressivamente cada vez mais alargados.
Depois da corrida à Lua, ainda eram legítimas as esperanças de que o destino da corrida espacial ao planeta Marte estivesse na agenda política e, para isso, tornava-se indispensável estudar antecipadamente como seriam as condições de vida das tripulações quando submetidas a largos meses de permanência no espaço, que iriam estar obrigatoriamente associadas ao envio de uma missão tripulada a esse planeta.

A estação Skylab propriamente dita foi lançada a 14 de Maio de 1973, justamente duas semanas depois do presidente Richard Nixon ter sido forçado a demitir os seus conselheiros Bob Haldeman e John Ehrlichman, que foram os dois primeiros grandes implicados no escândalo Watergate que viria a culminar com o descalabro da resignação do próprio presidente daí a quinze meses.

No espaço, as coisas também pareciam não estar a correr pelo melhor, ao registarem-se um conjunto de incidentes, de que se destaca a não abertura de um dos dois paineis solares. O trabalho da primeira equipa que habitou o Skylab (entre Maio e Junho de 73) acabou por ser o de reparar todos esses estragos. Pode-se comparar como seria a configuração do Skylab prevista (imediatamente abaixo) com a que veio a ter na realidade (no início ou no fim deste poste).
Aquele painel solar aberto apenas de um dos lados da estação espacial, resultante de soluções de recurso para a tornar funcional, conferia ao conjunto em órbita uma estranha assimetria que reproduzia, de alguma forma, a paralisia que estava a tolher o presidente Nixon e todo o poder executivo norte-americano em Washington, atacado e atascado por todos os desenvolvimentos que o caso Watergate – e outros – estavam a assumir.

Depois da primeira missão, com a duração aproximada de um mês (Maio e Junho de 1973), seguiu-se uma outra por quase dois meses, entre Julho e Setembro desse mesmo ano. Em princípios de Outubro (10), o vice-presidente Spiro Agnew demitia-se, na sequência de um escândalo sobre evasão fiscal e lavagem de dinheiro que, apesar de grande, decorria em paralelo e nada tinha a ver com o escândalo Watergate propriamente dito…

Neste último, a pressão sobre o presidente subira a um tal ponto que ele se sentira na obrigação de vir justificar-se numa conferência de imprensa, pela televisão onde concluiu que (…) as pessoas têm de saber se o seu presidente é ou não um aldrabão… Bom, eu não sou um aldrabão!* Pelo exposto, percebe-se porque não se dispensara muita atenção ao terceiro voo da Skylab, iniciado no dia anterior (16 de Novembro)…
Por quase três meses (entre 16 de Novembro de 1973 e 8 de Fevereiro de 1974) a estação esteve habitada pela sua última tripulação. Iniciara-se o choque petrolífero, resultante da decisão de boicote dos países árabes no seguimento da Guerra do Yom Kippur de Outubro de 1973. O programa foi suspenso e a estação transferida para uma órbita onde se esperava que se manteria por oito anos…

Terá sido uma coincidência curiosa que a Skylab se tenha vindo a despenhar na Terra ao fim de cinco (e não oito…) anos, em Julho de 1979, precisamente noutro período deprimente da história dos Estados Unidos, no final do mandato de Jimmy Carter, a caminho de um segundo choque petrolífero por causa do Irão e de uma crise com reféns (em Novembro).

Os pedaços caíram sobre o Oceano Índico e sobre a Austrália Ocidental. Morreu uma vaca mas, felizmente, não houve quaisquer vítimas humanas.

* "...in all of my years of public life, I have never obstructed justice. And I think, too, that I can say that in my years of public life that [sic] I've welcomed this kind of examination, because people have got to know whether or not their President's a crook. Well, I'm not a crook!"

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