Durante a corrida espacial, os Estados Unidos tiveram o seu acidente espacial com o voo da Apollo 13. Um interruptor não se desligou como previsto, ocasionando uma explosão que danificou irremediavelmente um dos dois tanques de oxigénio da nave (como se pode observar acima). Apesar dos danos e dos objectivos do voo terem sido cancelados, tudo acabou bem quando os três astronautas norte-americanos (Lovell, Haise e Swigert) regressaram sãos e salvos à Terra a 17 de Abril de 1970. Vinte e cinco anos depois, Hollywood fez do episódio um filme em estilo de epopeia dramática.
O voo da Soyuz 11 soviética não foi uma epopeia, mas uma tragédia. Realizado entre 6 e 30 de Junho de 1971, pouco mais de um ano depois do da Apollo 13, e ao contrário desse, o dos soviéticos foi um voo em que tudo estaria a correr sem incidentes graves até ao dia do regresso à Terra, em que tudo acabou por correr muito mal. Quem viu o filme sobre a Apollo 13, pode encontrar semelhanças em alguns aspectos associados ao voo da Soyuz 11. Nos dois casos, houve questões médicas – rubéola entre os americanos, tuberculose entre os soviéticos – que levaram a alterações nas equipas de voo.
Assim como na equipa americana houve o impacto da substituição à última da hora de Mattingly por Swigert, na soviética, o processo de constituição da equipa de reserva agora promovida para a missão¹ também poderia ter sido mais reflectido, ao escolherem um Comandante (Dobrovolski, acima ao centro) que era novato a ser coadjuvado por um cosmonauta experiente (Volkov, à direita, que já voara na Soyuz 7), num meio onde a questão da antiguidade é muito valorizada. O terceiro membro da tripulação e engenheiro de voo (Patsayev, à esquerda) também seria um estreante no espaço.
Mas, mais uma vez como na Apollo 13, não foi o factor humano mas sim o material o responsável pelo desencadear dos acontecimentos que conduziram ao desastre. Durante as manobras de reentrada na atmosfera, ainda a 168 km de altitude, abriu-se prematuramente uma válvula que se destinava a equilibrar a pressão atmosférica da cabine quando ela se encontrasse próxima da superfície. Os cosmonautas teriam tido 20 a 30 segundos de lucidez para reagir antes que a pressão na cabine descesse para níveis que os fizeram desmaiar e depois morrer. Em menos de dois minutos a pressão desceu para zero.
As equipas em terra não se terão apercebido do que acontecera. Estranharam o súbito silêncio rádio mas a operação de reentrada – que se processa automaticamente – já se iniciara e a manobra em si inclui um período de silêncio rádio. Veio a ser a equipa de recuperação que encontrou os três cosmonautas já definitivamente mortos apesar das tentativas de reanimação que encetaram (abaixo). Deduziu-se depois, pelos hematomas que apresentava na mão, que Patsayev ainda havia tentado selar manualmente a válvula defeituosa antes de desmaiar. Ao contrário da outra, esta história não teve um final feliz.