25 de Junho de 1950. Sem quaisquer preliminares diplomáticos para, ao menos, constituírem uma capa de justificação, a Coreia do Norte invade a Coreia do Sul. Hoje percebe-se que se tratou de um erro crasso de interpretação de quais poderiam ser as intenções norte-americanas por parte de Estaline e dos soviéticos. Estes não se deviam ter esquecido como os seus adversários americanos e Harry Truman acabavam de enfardar a vitória dos comunistas na Guerra Civil chinesa há menos de um ano (em 1 de Outubro de 1949), e de como isso ressoara no panorama político interno dos Estados Unidos. Havia também as naturais ambições regionais do coreano Kim Il Sung em querer fazer também um bonito no seu país, mas aí o senhor do Kremlin, como líder indisputado do mundo comunista, devia ter balanceado a capacidade de encaixe de Washington, que Estaline evidentemente sobrestimou neste caso. É bem verdade que nessa mesma perspectiva, Ho Chi Minh andava a fazer uma coisa parecida no Vietname contra os franceses, mas aí a guerra era anti-colonial e assimétrica, o fraco contra o forte, enquanto que na Coreia e desde o princípio se tratou de uma guerra civil e convencional, com os beligerantes em pé de igualdade, senão mesmo com a Coreia comunista a ficar com o papel do bruto despotista. Por outro lado, o discurso propagandístico dos invasores em prol da libertação dos seus compatriotas do sul, teria uma analogia mais do que evidente no exemplo do que os alemães de Leste com o apoio russo poderiam fazer na Alemanha dividida, assustando toda a Europa democrática, e lançando-a toda para os braços da América através da NATO. E se esse não era um problema de Kim Il Sung nem de Mao Zedong, a consolidação da Europa ocidental seria um (grande) problema de Estaline. Mas, por seu lado, os americanos caíram no erro de presumir que Estaline nunca cairia nesse erro de dar carta branca a Kim, como aqui mostrei há uns dias. É interessantíssimo analisar o que aconteceu desde que se saibam umas coisas sobre a Guerra da Coreia, como por várias vezes, a respeito deste e de outros assuntos, recomendei ao meu amigo Luís... Ler mais e opinar menos nunca fez mal a ninguém.
E é tanto mais interessante saber sobre o tema, quanto se tem assistido nos últimos três anos, depois dos americanos terem elegido aquele palhação para ocupar a Casa Branca, a um recrudescimento de conversas a respeito das sequelas dessa Guerra da Coreia, por causa da fantasia de Donald Trump querer receber um prémio nobel da Paz promovendo a paz na península. A máquina promocional da administração americana faz o seu papel de contar uma história com açúcar - e a enorme máquina comunicacional que lá vai beber não faz o seu de a escrutinar para saber que parte é verdade. Como de costume, todas as vezes em que Trump esteve com o líder norte-coreano foi mais «uma cimeira histórica», descontando todas as outras cimeiras históricas (abaixo, em 2000 e 2009, as cimeiras com a secretária de Estado Madeleine Albright e com o ex-presidente Bill Clinton), das quais também não resultou a ponta de um corno de resultados tangíveis... Caso Donald Trump tivesse estado disposto a ceder aonde os antecessores não o fizeram, talvez as cimeiras tivessem produzido qualquer coisa de diplomaticamente tangível, mas, quando se descobre que Donald Trump é um idiota que nem sequer faz ideia que o Reino Unido é uma das poucas potências com arsenal nuclear, como é que o poderemos comparar com os dilemas que se puseram a Harry Truman há 70 anos?...
Esta é uma reedição adaptada de um texto aqui publicado há dois anos.
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