Há dias, por ocasião da evocação do 75º aniversário da misteriosa morte do rei da Tailândia, Ananda Mahidol (Rama VIII), havia ali deixado a promessa de exemplificar em ocasião posterior quanto a política tailandesa daqueles tempos estava salpicada de episódios pitorescos de natureza palaciana que tornavam aceitável o que acontecera ao monarca em 9 de Junho de 1946. O protagonista desta história exemplar foi o general (posteriormente marechal) Luang Phibunsongkhram, correntemente citado pela versão reduzida do seu nome: Phibun. No período de grandes transformações políticas e sociais na Tailândia no quarto de século que vai de 1932 a 1957, o general Phibun foi o primeiro-ministro e o detentor do poder no país por 15 desses 25 anos: 1938-44 e 1948-57. Explicada a importância do homem, contemos a história, que começa numa noite de Novembro de 1938, estava a general a fardar-se no seu quarto para uma soirée - e apreciemo-lo acima fardado de gala! - quando uma bala lhe acertou de raspão no braço. O estupefacto general descobriu que o potencial assassino era, nada mais, nada menos, do que o seu próprio criado de quarto, que se escondera debaixo da cama e que, saindo lá de baixo, se preparava para lhe assestar um segundo tiro mais certeiro. O general fugiu assim como estava, em cuecas, e a perseguição pela casa fora, com o criado pessoal atrás de si de pistola em riste, terminou em bem para o primeiro-ministro, com o seu potencial assassino detido, embora a sua dignidade tivesse ficado algo amachucada. Já nessa altura, Phibun adquirira uma reputação de alguém com sorte. Anteriormente, ainda ele era ministro da Defesa, fora atingido a tiro, também de raspão, no pescoço, quando assistia a um jogo de futebol. Mas a sua mística só ficou definitivamente consagrada quando, cerca de um mês depois do segundo atentado, um terceiro teve lugar, desta vez tentando envenená-lo durante um jantar de cerimónia que ele próprio organizara, mais uma vez em sua própria casa. Este último episódio levou a que 38 convidados tivessem sido levados de urgência para o hospital para lavagens ao estômago. Apesar daquilo que estes dois episódios podem indiciar quanto à completa falta de jeito do general Phibun para contratar pessoal doméstico - criados de quarto mas também pessoal de cozinha... - eles não parecem ter perturbado a sua reputação junto das elites, descontando uma evidente - e previsível - relutância da alta sociedade tailandesa em aceitar convites para jantar em sua casa. Ironias à parte, Phibun prosseguiu a sua carreira nesta fase (1938-44) até se transformar numa espécie de Mussolini à tailandesa (abaixo). Conhecendo estas histórias rocambolescas de tentativas de assassinato envolvendo o homem-forte do país naquele mesmo período, creio que se pode argumentar que a morte misteriosa do monarca em 1946 até se torna compreensível.
Sem comentários:
Enviar um comentário