22 março 2011

AS VÁRIAS CLASSES DOS COMBOIOS DE PASSAGEIROS SOVIÉTICOS

Mais do que à própria Revolução de 1917, os comboios na Rússia estiveram fortemente associados à fase que se seguiu, a da implantação e consolidação do poder soviético. Quem se lembrar dos filmes dos tempos da Guerra Civil (como Dr. Jivago) recorda-os discretos mas omnipresentes e fundamentais para o desfecho. Nesse contexto, não parece surpreendente que aquelas locomotivas mais aguerridas tivessem sido baptizadas com o nome de José Estaline (acima) numa época em que quase tudo recebia o seu nome…
O que será surpreendente é como, muito depois do fim do estalinismo, as locomotivas ainda continuaram a manter a sua estrela vermelha frontal dos velhos tempos. E havia um outro pormenor ferroviário que abalava profundamente as convicções socialistas dos muitos jovens militantes comunistas estrangeiros que visitavam a pátria do socialismo: num país cujo objectivo confesso era aboli-las visando a implantação do dito comunismo, podia-se escolher entre três ou quatro classes quando se pretendia viajar de comboio…
Pondo de lado a ideologia, a explicação para este desvio capitalista tem a sua lógica. Considerada a extensão do país a maioria das viagens são longas, demoram dias (o famoso Trans-Siberiano demora oito dias a percorrer os mais de 9.000 km entre Moscovo e Vladivostok) e as carruagens cama tornam-se por isso fundamentais. As opções à escolha são as de viajar em compartimento com dois (1ª Classe) ou quatro beliches (2ª Classe) ou ainda em espaço aberto com (3ª Classe) ou sem beliche para dormir (4ª Classe).
Claro que para os jovens militantes comunistas vindos do Ocidente capitalista que, depois da Segunda Guerra Mundial, até compactara as classes do transporte ferroviário de três para duas, abolindo a popular Terceira dos bancos de pau, esta complexidade sofisticada era, para além de mais uma grande conquista do socialismo, algo difícil de entender. Mas para espíritos abertos que conseguiam entender o propósito de proceder a uma invasão de blindados em Berlim, Budapeste ou Praga, a aparente contradição nunca foi nada demais...

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